São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006 |
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Minorias têm culto vigiado nos países muçulmanos
Estudo do Departamento de Estado dos EUA cita a proibição integral na Arábia Saudita
JOÃO BATISTA NATALI DA REPORTAGEM LOCAL Não é fácil ser cristão, judeu ou hinduísta num país de maioria islâmica. Raramente existem leis de repressão explícita às minorias, como na Arábia Saudita. Mas uma rede de obstáculos dificulta ou inviabiliza a abertura de templos, cemitérios ou escolas confessionais. Há ainda nesses países a repressão contra islâmicos dissidentes. É o caso dos bahaístas, no Irã. Outros têm mesquitas vigiadas -Egito e Jordânia-, por causa de imãs suspeitos de simpatias terroristas. A liberdade religiosa no mundo muçulmano entrou em evidência em razão das referências reiteradas pelo papa Bento 16, que entre terça e ontem visitou a Turquia. Há países muçulmanos em que vigora uma liberdade religiosa quase ilimitada, diz a referência bibliográfica mundial sobre o assunto, o relatório anual publicado pelo Departamento de Estado americano. Um exemplo é o da Líbia, que paradoxalmente é uma consagrada ditadura no plano político. Com uma população em 97% muçulmana sunita, não há lei que obrigue as minorias a pedirem a autorização das autoridades para a abertura de um templo ou para praticar sua fé em locais públicos. Outro exemplo de tolerância, embora com perfil mais complexo, é o do Iêmen, onde a influência do vizinho saudita poderia gerar discriminação. Há 3.000 cristãos numa população de 20 milhões. Mesmo assim, funcionam na capital quatro igrejas -três católicas e uma anglicana. O partido laico oficial e a oposição islâmica evitam o estímulo ao confronto. A Síria não tem religião oficial. Mesmo assim só podem funcionar religiões "reconhecidas" pelo Estado. Elas são obrigadas a obter um registro, têm suas contabilidades monitoradas e devem obter alvará para reuniões alheias ao culto. Entre os grupos não autorizados estão as Testemunhas de Jeová, qualificadas, a exemplo do que ocorre no Egito, de "associação pró-sionista". O Irã é um caso difícil. Diluídos em meio a 60 milhões de muçulmanos há 80 mil cristãos e 30 mil zoroastristas. Dois ministérios tratam das atividades religiosas: o da Cultura Islâmica e o da Inteligência e Segurança. No caso dos bahaístas -espécie de dissidência xiita que se afastou do islamismo-, quem cuida deles é a polícia, proibindo suas reuniões. Segundo o relatório do Departamento de Estado, as autoridades pressionam inutilmente grupos evangélicos a fornecer a lista de seus adeptos. A situação não é tão pesada na Jordânia. O islã é a religião oficial, mas o Estado teoricamente garante a liberdade religiosa. Os grupos precisam se registrar. Não recebem subsídios, como as mesquitas. Beneficiam-se, mesmo assim, de isenção de certos impostos. A existência de tribunais islâmicos cria situações bizarras. Em janeiro deste ano foi aberto um processo por apostasia, contra um muçulmano que se tornou cristão. O indiciamento foi em seguida suspenso, mas o réu não havia sido notificado até abril sobre suas garantias. Estado controla reformas O Egito é um caso curioso. O Estado é laico. Mas é preciso de autorização oficial para construir sinagogas, igrejas e mesquitas, ou mesmo para reformar seus telhados e fachadas. O documento de identidade traz a confissão religiosa do cidadão. Aos bahaístas -são 500 a 2.000, em definitivo os grandes perseguidos -é recusada a emissão de documentos. Há um Departamento de Assuntos Religiosos no Ministério do Interior. Em muitos casos ele decide sozinho. Em outros, consulta autoridades sunitas ou cristãs coptas, o que lhes transfere a intolerância. A Arábia Saudita é um caso à parte. A única religião permitida é o islamismo. O governo não autoriza outro grupo religioso. Há no país 800 mil imigrantes filipinos, dos quais 90% são cristãos. Eles não têm direito ao culto ou a rituais em público. Os 1,4 milhão de hindus são considerados politeístas, e contra eles vigora especial intolerância, por mais que recentemente o trono tenha demonstrado uma condescendência que as leis locais não refletem. Bem mais branda é a situação da Indonésia, o país de maior população islâmica (88% dos 241 milhões). O governo autoriza o funcionamento de sete religiões. A última da lista, este ano, foi a dos confucionistas. Há por fim o estatuto dos judeus nos países islâmicos. São comunidades decrescentes, em razão do anti-semitismo oficial e de meio século de emigração para Israel. Na Líbia eram 20, em razão de expulsões em massa cujas vítimas o governo quer agora indenizar. No Iêmen, menos de 500. No Irã, bem mais: cerca de 13 mil, diz o Departamento de Estado. Texto Anterior: Centenas de milhares pedem saída do premiê no Líbano Próximo Texto: Viagem à Turquia: Papa afirma que igreja quer "apenas liberdade religiosa" Índice |
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