São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Votação abre era de incerteza para Chávez

Reforma constitucional que institui reeleição sem limites dividiu base do presidente, que pela 1ª vez corre risco nas urnas

Referendo encerra ano turbulento do venezuelano, que radicalizou "revolução" após ser reeleito e facilitou ascensão de nova oposição

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Prestes a completar nove anos no poder, o presidente da Venezuela, o esquerdista Hugo Chávez, enfrenta hoje um inédito desafio nas urnas para aprovar sua controvertida reforma constitucional, que encerra um ano inesperadamente turbulento para o governo.
A maioria das pesquisas divulgadas na semana passada mostra que, ao contrário das últimas nove eleições -entre referendos e disputas presidenciais e regionais-, Chávez e seus aliados não chegam ao final da campanha com uma vantagem clara. Praticamente todos os levantamentos dão uma vitória do "não" ou um empate técnico. A exceção é a Consultores 30-11, próxima do governo, que dá uma vantagem de 11 pontos percentuais ao "sim".
As pesquisas mostram também que, mesmo entre chavistas, há forte oposição à reforma, principalmente contra a implantação da reeleição indefinida só para presidente e mudanças na propriedade privada.
O diretor do respeitado instituto Datanálisis, Luis Vicente León, tem dito que essa desvantagem é a grande novidade da campanha eleitoral deste ano. Mas ele adverte que o governo tem mais poder de mobilização do que a fragmentada oposição, que só fez um chamado claro ao voto na reta final.

Tempos difíceis
O referendo é o último evento político importante de um ano especialmente difícil para Chávez, que um ano atrás comemorava uma vitória fácil nas eleições presidenciais, com mais de 60% dos votos válidos.
Logo após a vitória, Chávez deixou claro que sua proposta de "socialismo do século 21" não seria apenas retórica e anunciou uma agenda radical, que incluiu a criação do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), a nacionalização da principal empresa de telecomunicações, a Cantv, o fim da concessão da emissora oposicionista RCTV e uma ampla reforma constitucional.
A maior resistência inicial à agenda chavista foi uma inesperada rebelião na base: o partido Podemos se recusou a diluir-se no PSUV e, aos poucos, opôs-se também à reforma constitucional. E isso logo após conseguir, em dezembro, 759.826 votos à reeleição de Chávez (6,5% do total), sendo a segunda força do oficialismo.
A surpresa seguinte para Chávez foi a onda de protestos de estudantes universitários contra a não-renovação da concessão da RCTV, medida que, segundo pesquisas de opinião na época, era rechaçada pela maioria da opinião pública.
Assim como ocorreu com o Podemos, os estudantes fazem uma dura oposição à reforma constitucional, protagonizando protestos que muitas vezes terminaram em choques com policiais e chavistas.
A terceira surpresa desagradável para Chávez foi o rompimento do general da reserva Raúl Isaías Baduel, um colaborador antigo que até julho estava no comando do Ministério da Defesa. Recentemente, Baduel chamou a reforma de "golpe de Estado", transformando-se em um dos porta-vozes contrários às modificações.
Além desses desgastes políticos, Chávez também tem sido cada vez mais responsabilizado pelo problema de abastecimento no país, que já dura cerca de um ano e atinge produtos básicos, como leite e ovos.
Chávez tem negado as dificuldades e mantém a estratégia de vincular a oposição ao "império americano" e de concentrar a campanha em torno de sua figura -com cerca de 60% de aprovação, ele é bem mais popular do que a reforma.
"Os que votam pelo "sim" estão votando por Chávez, os que votam pelo "não" estão votando contra Chávez", disse ao encerrar a campanha.


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