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Proposta de Carta induz à tirania, aponta estudo
Em vez de distribuir o poder popular, reforma submeteria conselhos a Chávez
Constitucionalista compara projeto a Constituições do socialismo real, que em tese previam democracia, mas estatizavam sociedade civil
DE CARACAS
Estudo comparativo realizado pelo professor de direito
constitucional da UCV (Universidade Central da Venezuela) Enrique Sánchez argumenta que a proposta de reforma
constitucional do presidente
Hugo Chávez retira da Carta direitos do Estado democrático e
introduz características de regimes da era soviética e até do
nazifascismo.
"A organização do que denominam conselhos do Poder Popular é típica dos regimes de
socialismo real dos tempos soviéticos, dos conselhos de trabalhadores, populares, que fracassaram em distribuir esse poder popular", afirmou Sánchez
à Folha. "A única maneira de
reduzi-los à unidade era submetê-los a um líder ou a um
partido único, perdendo seu
caráter de representação."
Em seu estudo, Sánchez diz
que a organização dos Conselhos Comunitários como um
Poder público "equivale à estatização da sociedade civil. As
organizações não-governamentais sucumbirão todas
diante da figura dos Conselhos
de Poder Popular, que serão
outros órgãos mais do Estado".
Fascismo
O jurista da UCV, que tem o
curso de direito mais tradicional da Venezuela, afirma que,
ao concentrar mais poderes no
presidente e permitir que Chávez se reeleja indefinidamente,
a reforma parte do pressuposto
da "confiança ilimitada no líder", típica do nazifascismo.
"A forma com que o presidente está sendo definido é evidentemente tomada dos regimes nazifascistas, em que o representante da vontade geral
era praticamente ele apenas",
disse. Como exemplo, cita a nova atribuição do Executivo de
administrar a política monetária: "Chávez se converte no
funcionário em que estarão
reunidas as funções de gastar e
de fabricar a moeda com a qual
ele financia os gastos. Isso só foi
visto nos regimes tirânicos, nos
quais o líder se impunha sobre
todas as instituições de uma
maneira absoluta".
"Se a isso se agrega a maneira
de apresentá-lo ao povo, que
não é nada além de um séquito
de fiéis ao líder por uma razão
de confiança, isso é tipicamente fascista", concluiu Sánchez.
Essa interpretação é fortemente rechaçada pelo deputado oficialista Calixto Ortega.
Segundo ele, a essência da reforma constitucional "é reforçar o poder do povo".
"O presidente não vai administrar sozinho a polícia monetária. Fará isso junto com o BC
da Venezuela", disse à Folha.
Sobre a perda de direitos assegurados na Carta atual, o
professor da UCV menciona,
entre outros, o fim das eleições
para o governo do Distrito Federal, que passa a ser indicado
por Chávez, o mesmo ocorrendo em novas unidades territoriais que ele poderá criar.
Mas a perda mais grave, diz
Sánchez, é a supressão dos direitos ao devido processo e à
informação caso o presidente
decrete estado de exceção, hoje
assegurado no artigo 337.
Ao justificar a modificação, o
governo afirma que a medida é
necessária ao criar instrumento para que o Estado possa
combater um eventual golpe
como o ocorrido em abril de
2002, que teve a participação
ativa de canais de TV privados.
Outro estudo, feito pelo decano da Faculdade de Ciências
Jurídicas e Políticas da UCV,
Jorge Pabón, aponta que a reforma está dando caráter legal
ao que o governo Chávez já faz.
"Se a Constituição de 1999 não
tem sido limite para ele fazer o
que quer, o que não fará quando se aprove essa."
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