São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Com Rice, eleito reforça laço com a ONU e posição sobre intervenção

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Após oito anos em que George W. Bush minimizou o papel da ONU, a relação dos EUA com o organismo internacional deve ganhar novo tom sob Barack Obama. O primeiro sinal disso foi a nomeação, ontem, de Susan Rice, favorável ao multilateralismo e ao intervencionismo humanitário -"ações dramáticas" contra violência e a pobreza ao redor do mundo- como embaixadora na ONU.
O segundo é a intenção de devolver ao cargo de Rice, 44, o status ministerial que tinha sob Bill Clinton (1993-2001).
A ela caberá coordenar na ONU as ações diplomáticas do novo governo, com ênfase na ajuda humanitária e na reconstrução de Estados falidos. "Para fortalecer nossa segurança comum, temos de investir em nossa humanidade comum", afirmou após sua indicação.
Rice foi uma das mais próximas conselheiras de Obama em política externa na campanha -o apoio foi uma defecção na equipe da ex-pré-candidata Hillary Clinton, com quem mantinha laços após servir como secretária-assistente de Estado para a África sob Clinton.
Ela afirma que seu período no Departamento de Estado, em que assistiu ao massacre em Ruanda em 1994 (onde os EUA não intervieram), foi fundamental para moldar suas posições: "Jurei que, se encontrar uma situação dessas de novo, defenderei posições drásticas, usando toda força necessária".
Fiel à promessa, Rice, uma protegida da ex-secretária de Estado Madeleine Albright (1997-2001), já defendeu ante o Congresso dos EUA uma ação militar americana em Darfur, no Sudão.
Analistas ouvidos pela Folha, porém, não vêem em sua nomeação sinal de intervenções iminentes. "O que teremos é um reconhecimento forte da diplomacia, que será mais vigorosa do que a de Bush inclusive para conflitos internos. Mas não espero mais uso de força militar, a não ser em casos extremos", disse Stewart Patrick, analista do Council on Foreign Relations e amigo de Rice.
Seu maior desafio, no entanto, será convencer a ONU e o público americano de que os EUA ainda vêem o organismo como vital para a paz mundial. "Ela terá de desfazer os erros de estilo e tom cometidos sob Bush", afirmou Robert Rotberg, diretor do Programa de Resolução de Conflitos da Universidade Harvard.


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