São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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EUA começam a sair do Afeganistão em 2011

Anúncio seria feito por Obama em pronunciamento na noite de ontem e foi confirmado por assessores ao longo do dia

Plano também prevê envio de 30 mil soldados a mais; não há, porém, prazo para finalizar a retirada total das tropas estrangeiras do país


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Dez meses após sua posse, oito meses depois de anunciar um novo foco para o conflito e nove reuniões com o alto escalão de seu governo depois, o presidente Barack Obama definiu sua nova estratégia para a Guerra do Afeganistão. Ela envolve o envio de 30 mil novos soldados para o front nos próximos oito meses, dá um prazo inicial de julho de 2011 para o início de retirada das tropas americanas do país e exige um maior comprometimento do governo afegão com as metas americanas.
Com isso, o efetivo do país alcançará a casa dos 100 mil soldados, dos quais metade terá sido mandada por Obama. O objetivo da tropa será conter o recrudescimento dos ataques do Taleban, grupo extremista que comandava o país até 2001, quando dava abrigo à Al Qaeda e a Osama Bin Laden, mas também treinar os locais para que o país possa contar rapidamente com uma força de segurança nacional hoje virtualmente inexistente, fortalecendo no processo o governo central.
O anúncio oficial seria feito em discurso que começaria às 20h locais (23h de Brasília) de ontem na academia militar de West Point, no Estado de Nova York. Nele, segundo revelaram assessores ao longo do dia, Obama diria que a meta americana na região é interromper, prejudicar e por fim derrotar a Al Qaeda e evitar que essa retorne para o Afeganistão ou para o Paquistão -boa parte da organização terrorista responsável pelo ataque de 11 de Setembro se encontra hoje na fronteira porosa entre aqueles dois países.

Dois fronts
Para tanto, a estratégia será dividida em dois fronts. No Paquistão, o objetivo é ajudar o governo local a estabilizar seu país do ponto de vista político, econômico e de segurança. No Afeganistão, evitar tanto que a Al Qaeda retorne ao país como que o Taleban derrube o governo atual, do presidente Hamid Karzai, um reticente aliado de Washington. Daí a escalada de 30 mil soldados, que desviarão o foco de sua atuação, hoje pulverizada, para os maiores centros urbanos, principalmente no sul e no leste do país.
Dessa maneira, acredita o comando obamista, diminuirão as baixas e os feridos norte-americanos, que já passam de 5.000 e atingiram seu pico em 2009. Com isso, também, esperam os estrategistas, aumentará o apoio popular à condução da guerra -hoje, apenas 35% avaliam positivamente o comando de Obama no assunto, ante 56% em julho último.
Ao bancar um aumento de efetivo sugerido por seu comando militar, embora em menor tamanho do que fora pedido, e ao agregar a ele seus parâmetros para a condução e conclusão do conflito, Obama estará assumindo definitivamente como sua uma guerra iniciada há oito anos por seu antecessor, o republicano George W. Bush.
As decisões, das quais participaram todo o alto escalão obamista, foram tomadas após três meses de revisão de estratégia e no dia seguinte a uma conversa de uma hora de Obama com o presidente afegão, recém-eleito para novo mandato em pleito contestado. Karzai preocupa a Casa Branca pela corrupção de seu governo e pela leniência com o tráfico.
Se o anúncio de aumento de tropas vem sendo bem-recebido pela oposição republicana, o mesmo não pode ser dito do partido do presidente. A ala mais progressista do Partido Democrata foi contra o aumento, e deputados chegaram a sugerir uma "taxa de guerra", que cobraria 1% dos americanos mais ricos para bancar os custos do conflito.


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