São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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África do Sul amplia programa contra Aids

Presidente Jacob Zuma afirma que fará o teste para HIV e compara o combate à doença à luta pelo fim do apartheid

A partir de abril, governo vai aumentar oferta gratuita do coquetel de antivirais; meta é oferecer remédios a 80% dos infectados até 2011


Paba Ib Thekiso/France Presse
Sul-africano Jacob Zuma, que já disse ter recorrido a uma ducha para prevenir contágio com HIV, anuncia medidas contra Aids

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO CABO

Ontem, no calçadão da St. Georges Mall, uma das principais ruas do comércio da Cidade do Cabo, a segunda cidade mais importante da África do Sul, camelôs dividiam espaço com cartazes e adesivos com o símbolo do combate à Aids grudados no chão, no Dia Mundial de luta contra a doença.
Na fachada do prédio de um dos principais jornais do lugar, cartazes enormes com manchete para a promessa do governo americano de doar US$ 120 milhões para combater a doença que abate de forma dramática o mais próspero país do mais miserável continente.
Mais tarde, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que já foi acusado de sabotar a difícil missão de ensinar aos habitantes formas de evitar o contágio pelo vírus HIV, resolveu, ao menos em discurso no rádio e na TV, atacar como nunca antes a Aids.
Zuma anunciou que seu país vai colocar o combate à doença como prioridade -chegou a comparar a missão com a luta pelo fim do apartheid.
Hoje, apenas os sul-africanos com níveis muito baixos de imunidade recebem o coquetel de remédios que fazem portadores do HIV terem vida longa em países ricos, caso dos EUA, e nem tanto, como o Brasil.
A partir de abril, segundo Zuma, todas as crianças infectadas com menos de um ano de idade, adultos que também tenham tuberculose e mulheres grávidas soropositivas receberão o coquetel gratuitamente.
O plano é oferecer a medicação para 80% dos infectados até 2011, quando o governo sul-africano quer diminuir pela metade o grau de transmissão.

Situação dramática
Segundo estatísticas recentes, 5,2 milhões de sul-africanos têm o vírus HIV, o maior contingente mundial. Estima-se que pelo menos mil pessoas morram de causas relacionadas à doença por dia.
Em áreas rurais, a situação é dramática. Sem a medicação, adultos morrem e deixam crianças entrando na adolescência, muitas contaminadas, tomando conta dos irmãos recém-nascidos.
A África do Sul tem hoje 1,4 milhão de órfãos.
Na Província de Natal, de população majoritária zulu, a etnia do presidente Zuma, a Aids faz até as mulheres terem orgulho de serem obesas, porque na imaginação local isso significa não ter o vírus.
Antiexemplos de cima não faltaram, a começar pelo próprio Zuma. Acusado judicialmente pelo estupro de uma jovem -de que foi absolvido-, o presidente disse que havia feito sexo de forma consensual, mas sem preservativo.
Para evitar um possível contágio, falou que bastou tomar uma ducha -ontem, ele prometeu fazer o exame para checar a presença do HIV como exemplo para os compatriotas.
No governo anterior, chegou-se a apontar o uso de alimentos, como o alho, para combater a doença. Estudo da Universidade Harvard estima que mais de 300 mil sul-africanos tenham morrido precocemente por falta de medicação necessária em tempo.
Os anos de descaso dos governos em relação à doença criaram uma geração que tem desprezo quase absoluto por preservativos. É corrente na África do Sul a ideia de que sexo com camisinha é o mesmo que "chupar bala com papel".
Zuma foi aplaudido ao dizer que essa era deve acabar.
"Em alguns momentos de qualquer nação só existem duas escolhas: se submeter ou lutar. Agora é o tempo de acabar com o fracasso no combate à Aids."


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