São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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Divulgação gera crise diplomática para EUA

Premiês Putin, da Rússia, e Erdogan, da Turquia, cobram americanos por informações divulgadas por WikiLeaks

Robert Gates teria dito que "democracia russa sumiu'; já premiê turco pede controle dos EUA sobre seus diplomatas

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O vazamento de relatos reservados da diplomacia americana desde o domingo pelo site WikiLeaks passou a ameaçar relações estratégicas dos EUA.
Ontem, houve reações exaltadas do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e de seu equivalente turco, Recep Tayyp Erdogan.
As respostas de ambos são os primeiros sinais concretos de atrito desde o começo do vazamento.
Até ontem, as reações de autoridades citadas em despachos da diplomacia americana tinham tom majoritariamente evasivo, sem ataques aos EUA.
Em entrevista ao programa de Larry King na CNN que seria veiculada ontem, Putin se utilizou de um tom inusitadamente duro para dizer a Washington que não interfira nos assuntos de ordem interna russa.
O ex-presidente e atual premiê da Rússia referia-se a documento de fevereiro, vazado agora, que atribui ao secretário da Defesa americano, Robert Gates, as declarações de que "a democracia russa desapareceu", e que o país é "uma oligarquia dirigida por serviço secreto".
A afirmação foi duramente rechaçada pelo premiê, que qualificou Gates como "profundamente desinformado" e alertou para que os EUA "não interfiram em decisões soberanas do povo russo".
Putin, descrito em outro documento como "Batman" do "Robin" Dmitri Medvedev -atual presidente-, disse ainda "não suspeitar que [esses relatos] fossem feitos com tamanha arrogância e de maneiras tão antiéticas".
Anteontem, o Kremlin havia dito que "heróis inventados de Hollywood não merecem comentários oficiais".
O estremecimento nas relações entre EUA e Rússia é uma ameaça àquela que é considerada uma das poucas iniciativas bem-sucedidas do governo Barack Obama na política externa: o "recomeço" da relação bilateral.
Putin aproveitou para também cobrar os EUA pela demora na ratificação de um tratado de redução de armas nucleares, o Start 2, parado no Senado.
O premiê afirmou que a Rússia vai ser obrigada a desenvolver e posicionar novos armamentos nucleares caso os EUA não a incluam num escudo antimísseis na Europa e não aprovem o tratado.
"Se nossas propostas receberem respostas negativas, e novas ameaças forem colocadas, teremos de garantir nossa segurança de outra maneira, [até mesmo] com tecnologias de mísseis nucleares", declarou Putin.
O sistema antimísseis em parceria com a Rússia, anunciado por Obama na última cúpula da Otan (aliança militar ocidental), é visto com ceticismo por Moscou, pois não prevê uma integração total.
Textos do WikiLeaks também revelaram a existência de artefatos atômicos dos EUA estacionados em ao menos quatro países europeus (Alemanha, Holanda, Bélgica e Turquia), o que pode ter desagradado à Rússia.

TURQUIA
Já o premiê turco qualificou de "caluniosas" informações de despachos diplomáticos de que ele possui contas em bancos da Suíça, é autoritário, odeia Israel e dirige governo de inclinação islâmica.
"Os EUA deveriam chamar os seus diplomatas a prestar contas. Os EUA são responsáveis pelas calúnias que fazem. Há mentiras e incorreções nesses documentos", declarou.


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