São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2011

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Irã espera relações mais fortes sob Dilma

Ministro Mohammad Abbasi diz à Folha que crítica dela ao apedrejamento de Sakineh não afeta elo com Brasil

Assessor do presidente Ahmadinejad para a América Latina, ele sugere ainda um acordo de cooperação nuclear

Marcelo Camargo-31.dez.2010/Folhapress
Ministro Mohammad Abbasi em entrevista concedida na Embaixada do Irã em Brasília

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Um dos homens de confiança do presidente Mahmoud Ahmadinejad, Mohammad Abbasi foi mandado a Brasília para a posse de Dilma Rousseff com a missão de pavimentar o terreno para a continuação das boas relações Brasil-Irã. Ele acumula os cargos de ministro das Cooperativas e de assessor especial do presidente para América Latina. Em entrevista à Folha, concedida na Embaixada do Irã na véspera da posse, Abbasi, 52, disse acreditar que os vínculos construídos com o Brasil na era Lula têm tudo para ser ampliados, inclusive para a área nuclear. Para ele, o fato de Dilma ter endossado críticas ao Irã por violações de direitos humanos, incluindo a condenação por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, não impedirá relações mais intensas.

 

Folha - Que mensagem o sr. trouxe à presidente Dilma?
Mohammad Abbasi
- Somos países próximos. Vim manifestar nosso pleno apoio ao novo governo. A mensagem que trouxe é a de que continuemos sendo bons amigos. [Minha vinda] também é uma maneira de enviar ao mundo a mensagem de que nossa aliança continua, e que haverá mais acordos e entendimento entre nós.

O Irã não teme um distanciamento da presidente Dilma, que, ao contrário de Lula, criticou o país no caso Sakineh?
Não acredito em distanciamento. A aproximação entre Irã e Brasil é norteada pela amizade e pela estratégia política. Acreditamos que será dada continuidade à política do presidente Lula de desenvolver e construir o Brasil, assim como acreditamos que será mantida a relação com o Irã. Casos como esse, que o sr. cita, são pequenos pontos sobre os quais podemos, com compreensão e entendimento, chegar a um acordo. Estamos dispostos a tirar quaisquer dúvidas que possam existir.

O caso Sakineh e a prisão do cineasta Jafar Panahi são muito mal vistos por aqui. O Irã não se importa com isso?
Cada país tem os seus assuntos internos. Felizmente temos muitos pontos de vista em comum no que diz respeito a assuntos internacionais. Não acreditamos, por exemplo, na continuação da dominação ilógica e irracional do imperialismo. Nossos assuntos internos não interferem de nenhuma maneira sobre essa afinidade. Diante da aspiração e do desejo comum dos dois países, são coisas muito pequenas.

A presidente Dilma está convidada a visitar o Irã?
Faremos esse convite, porque gostamos de recepcionar nossos amigos.

Quais os próximos passos na agenda Irã-Brasil?
Um dos caminhos que podemos intensificar é o da cooperação econômica. Temos capacidades e potencialidades complementares. O Irã tem uma civilização milenar e grandes potencialidades de investimento nos campos de gás e petróleo, por exemplo. Investimos muito em nanotecnologia, estudos nucleares ou envio de satélites.

Poderia haver uma cooperação no campo nuclear?
O uso da energia nuclear para fins pacíficos é uma necessidade para a humanidade. Apesar de EUA e Ocidente tentarem monopolizar essa tecnologia, Irã e Brasil conseguiram desenvolver cientificamente a capacidade do uso da energia nuclear de forma autônoma. Os dois países consideram que o uso dessa tecnologia para fins pacíficos, que existe graças a Deus, é seu direito. Como nossas intenções quanto ao seu uso são as mesmas, podemos, sim, pensar em uma cooperação bilateral nesse setor.

Como o Irã pretende revitalizar a sua economia, que sofre sanções, desemprego, corte de subsídios para alimentos e combustíveis?
Fizemos grandes reformas econômicas no nosso país, que tem grandes potencialidades muito além do petróleo. Nosso mais importante capital é o investimento no desenvolvimento científico de nossa juventude. Nosso investimento em pesquisa científica é, em média, 11 vezes a média mundial.

O governo não teme que a explosão de preços enfureça a população?
Lançamos o plano há duas semanas. Houve alguma reação popular contrária? Nenhuma. O povo está acompanhando o presidente na realização desse plano.

Há relatos de racha no governo iraniano, inclusive de uma agressão física a Ahmadinejad pelo chefe da Guarda Revolucionária. O senhor presenciou a cena relatada em documento do WikiLeaks?
Diferenças que possam existir dentro do governo não são tão relevantes como nossos inimigos querem que elas sejam.


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