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O CLÃ
Família foi responsável por 2 rebeliões armadas contra o Estado e tem 2 candidatos à Presidência
Pai quer brancos sem direitos políticos
DO ENVIADO A LIMA
A disparada do candidato nacionalista Ollanta Humala nas
pesquisas colocou em evidência
uma das famílias mais peculiares do Peru, responsável recentemente por duas rebeliões armadas contra o Estado e que
conta com duas candidaturas à
Presidência no dia 9 de abril.
O clã tem à frente o advogado
Isaac Humala, 75, pai de Ollanta
e outros seis filhos e ideólogo do
Movimento Etnocacerista Peruano. Inspirado no presidente
e marechal Andrés Avelino Cáceres (1833-1923), prega a hegemonia da "raça de cobre" indígena sobre as outras do Peru.
"Respeitaríamos os direitos
dos brancos, mas eles não seriam nacionais, não teriam direitos políticos", disse o mestiço
Isaac à Folha, em entrevista na
semana passada em um café de
Lima, onde passa as tardes.
Admirador do novo presidente boliviano, Evo Morales, e dos
movimentos indígenas equatorianos, ativos na derrubada de
três presidentes nos últimos
anos, Isaac lamenta que não haja fenômeno semelhante no Peru. "Na Bolívia, durante a queda
de Sánchez de Lozada, houve
dezenas de mortos e centenas de
feridos. Foi um ato heróico. No
Peru, o etnonacionalismo não
nasce de nenhuma organização,
está nas bibliotecas, entre livros,
cafés e cigarros".
As propostas do pai (criticadas por Ollanta) são defendidas
na campanha por Ulises, candidato a presidente pelo inexpressivo e radical Avanza País.
Ulises substitui na campanha
outro irmão, Antauro, que não
pode concorrer porque está preso. Em janeiro de 2005, liderou
uma violenta invasão à delegacia da cidade andina de Andahuaylas, na região de Cuzco. A
ação, que exigia a renúncia do
presidente Alejandro Toledo,
deixou quatro policiais mortos.
Ollanta tem negado as acusações de que sabia do plano de
invasão de Antauro e critica publicamente a ação. Os dois, no
entanto, estiveram juntos no levante militar armado de outubro de 2000, contra o então presidente, Alberto Fujimori, à
época combalido pelo escândalo de corrupção envolvendo seu
assessor Vladimiro Montesinos
e desgastado pela "re-reeleição".
A rebelião militar, que durou
quase um mês, mas não deixou
mortos, produziu um manifesto
em favor do etnocacerismo, corrente hoje renegada por Ollanta.
Hoje mais próximo de Antauro, Isaac classifica o episódio de
Andahuaylas e a rebelião de
2000 de "históricos" e importantes para subida na pesquisa
de Ollanta. "Sem a rebelião de
outubro de 2000, não existiria
Ollanta como ator da política
nacional. E, sem a insurgência
de Andahuaylas, não haveria o
candidato que desponta nas
pesquisas e está, de certa forma,
nas portas do poder."
Recentemente, em uma entrevista, Ulises disse que o bom desempenho de Ollanta se deve à
associação de sua imagem com
a de Antauro.
Crítico feroz do presidente
Alejandro Toledo, Isaac diz que,
apesar de ser indígena, não age
como tal. "Mais de 90% dos "cobrizos" se consideram brancos.
Eles atuam como brancos. Como diz Antauro, antes os brancos se serviam dos índios como
servos, mas agora os utilizam
também como presidente. É um
governo estrangeiro, branco e
traidor."
(FM)
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