São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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O CLÃ

Família foi responsável por 2 rebeliões armadas contra o Estado e tem 2 candidatos à Presidência

Pai quer brancos sem direitos políticos

DO ENVIADO A LIMA

A disparada do candidato nacionalista Ollanta Humala nas pesquisas colocou em evidência uma das famílias mais peculiares do Peru, responsável recentemente por duas rebeliões armadas contra o Estado e que conta com duas candidaturas à Presidência no dia 9 de abril.
O clã tem à frente o advogado Isaac Humala, 75, pai de Ollanta e outros seis filhos e ideólogo do Movimento Etnocacerista Peruano. Inspirado no presidente e marechal Andrés Avelino Cáceres (1833-1923), prega a hegemonia da "raça de cobre" indígena sobre as outras do Peru.
"Respeitaríamos os direitos dos brancos, mas eles não seriam nacionais, não teriam direitos políticos", disse o mestiço Isaac à Folha, em entrevista na semana passada em um café de Lima, onde passa as tardes.
Admirador do novo presidente boliviano, Evo Morales, e dos movimentos indígenas equatorianos, ativos na derrubada de três presidentes nos últimos anos, Isaac lamenta que não haja fenômeno semelhante no Peru. "Na Bolívia, durante a queda de Sánchez de Lozada, houve dezenas de mortos e centenas de feridos. Foi um ato heróico. No Peru, o etnonacionalismo não nasce de nenhuma organização, está nas bibliotecas, entre livros, cafés e cigarros".
As propostas do pai (criticadas por Ollanta) são defendidas na campanha por Ulises, candidato a presidente pelo inexpressivo e radical Avanza País.
Ulises substitui na campanha outro irmão, Antauro, que não pode concorrer porque está preso. Em janeiro de 2005, liderou uma violenta invasão à delegacia da cidade andina de Andahuaylas, na região de Cuzco. A ação, que exigia a renúncia do presidente Alejandro Toledo, deixou quatro policiais mortos.
Ollanta tem negado as acusações de que sabia do plano de invasão de Antauro e critica publicamente a ação. Os dois, no entanto, estiveram juntos no levante militar armado de outubro de 2000, contra o então presidente, Alberto Fujimori, à época combalido pelo escândalo de corrupção envolvendo seu assessor Vladimiro Montesinos e desgastado pela "re-reeleição".
A rebelião militar, que durou quase um mês, mas não deixou mortos, produziu um manifesto em favor do etnocacerismo, corrente hoje renegada por Ollanta.
Hoje mais próximo de Antauro, Isaac classifica o episódio de Andahuaylas e a rebelião de 2000 de "históricos" e importantes para subida na pesquisa de Ollanta. "Sem a rebelião de outubro de 2000, não existiria Ollanta como ator da política nacional. E, sem a insurgência de Andahuaylas, não haveria o candidato que desponta nas pesquisas e está, de certa forma, nas portas do poder."
Recentemente, em uma entrevista, Ulises disse que o bom desempenho de Ollanta se deve à associação de sua imagem com a de Antauro.
Crítico feroz do presidente Alejandro Toledo, Isaac diz que, apesar de ser indígena, não age como tal. "Mais de 90% dos "cobrizos" se consideram brancos. Eles atuam como brancos. Como diz Antauro, antes os brancos se serviam dos índios como servos, mas agora os utilizam também como presidente. É um governo estrangeiro, branco e traidor." (FM)


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