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JEAN CHARLES
Ação não pode ser direta
Brasileiros estudam acionar corte européia
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
A comissão do governo brasileiro encarregada de monitorar a investigação da morte de Jean Charles de Menezes estuda a hipótese
de levar o caso à Corte Européia
de Direitos Humanos se a Justiça
britânica não punir no final os
responsáveis pelo assassinato
Ontem, último dia de uma visita
do grupo a Londres, a possibilidade foi comentada superficialmente em entrevista dos seus três integrantes, Manoel Gomes Pereira
(Itamaraty), Márcio Garcia (Ministério da Justiça) e Wagner
Gonçalves (Procuradoria Geral
da República). Mas, segundo a
Folha apurou, já vem sendo analisada há alguns meses.
O plano parece utópico. A começar do fato de que, por uma
questão regional óbvia, o Brasil
não é signatário da Convenção
Européia dos Direitos Humanos
de 1950, instrumento que instituiu a corte, que fica em Estrasburgo (França).
Ou seja, o país não poderia entrar diretamente com uma ação.
Mesmo assim, a comissão analisa
meios para patrociná-la. Como o
crime ocorreu em Londres, o
mais provável seria a família de
Jean Charles recorrer à corte, com
apoio do governo brasileiro.
A hipótese surgiu a partir do receio, amparado por um histórico
de complacência do Judiciário do
país com crimes cometidos por
policiais, de que o caso termine
em pizza. A IPCC, comissão independente que investiga o caso, enviou seu relatório ao CPS (Crown
Prosecution Service), equivalente
britânico ao Ministério Público,
que decidirá se vai processar os
eventuais responsáveis pela morte do brasileiro, assassinado pela
polícia ao ser confundido com
um terrorista em julho de 2005.
A missão do governo brasileiro
não teve acesso ao relatório da
IPCC, o que era um dos seus principais objetivos. A IPCC alegou
que a lei não permite, já que o caso envolve segredo de Estado.
"Esperávamos alguma coisa mais
consistente. O que temos é a promessa de que a família terá uma
informação verbal sobre o relatório. Não é satisfatório, mas é o
possível", disse Gomes Pereira.
Em Londres, o grupo reuniu-se
com representantes do CPS, da
IPCC, da Polícia Metropolitana,
do Ministério do Interior, do Judiciário, de uma ONG especializada em mortes sob custódia policial e da família de Jean Charles. O
CPS estima que, até abril, decidirá
se acionará alguém. Caso o faça,
levará até o início de 2007 para
preparar o processo, e um eventual julgamento ocorrerá em
meados do mesmo ano.
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