São Paulo, quarta-feira, 03 de fevereiro de 2010

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Irã se diz disposto a aceitar plano da ONU

Ahmadinejad afirma não ver problema em enviar urânio para ser enriquecido em outro país, o que tranqulilizaria Ocidente

EUA, que reforçam presença militar no golfo Pérsico, reagem com cautela a aceno; iraniano também propõe troca de prisioneiros


Vahid Salemi - 24.jan.10/Associated Press
Presidente Mahmoud Ahmadinejad faz discurso sobre seu plano de orçamento nacional no Parlamento iraniano, em Teerã

DA REDAÇÃO

O presidente Mahmoud Ahmadinejad disse ontem que o Irã está disposto a aceitar proposta da ONU pela qual Teerã enviaria seu urânio para ser enriquecido em outro país.
A declaração, feita à TV estatal, surge dois dias depois de jornais americanos terem revelado que os EUA preparam a instalação de um sistema de defesa no golfo Pérsico, em prevenção a um possível ataque balístico do Irã -cujo programa nuclear e mísseis de longo alcance preocupam a região.
Ahmadinejad disse ontem "não ver problema" em repassar ao Ocidente estoques de urânio com baixo nível de enriquecimento (3,5%) e recuperá-los, "quatro ou cinco meses depois", sob a forma de urânio enriquecido a 20% destinado a alimentar as centrais iranianas.
Até então, Teerã vinha dando respostas evasivas sobre uma proposta costurada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, que pretendia conciliar o direito de o Irã ter um programa nuclear civil e o temor de alguns países de que Teerã busque em sigilo um arsenal atômico.
Pela proposta, o Irã, que nega querer a bomba, enviaria mais de dois terços de seu estoque de urânio pouco enriquecido para Rússia e França. Nesses países, ele seria enriquecido um pouco mais e moldado para fins medicinais, em nível inadequado para a bomba, que exige 90%. O envio visa garantir que Teerã não tenha em mãos quantidade suficiente do material para a arma -que o Irã nega querer.
Países ocidentais haviam interpretado a inicial relutância iraniana como um "não" à proposta e já manobravam para reforçar as sanções econômicas da ONU contra Teerã.
Os EUA disseram ontem que o Irã deve conversar com a AIEA se estiver realmente disposto a um acordo nuclear.
Em outro aceno, Ahmadinejad ofereceu ontem libertar três americanos presos em julho acusados de entrar ilegalmente no Irã em troca da soltura de 11 iranianos detidos nos EUA. Ahmadinejad disse que há "conversas em curso", mas ontem a Casa Branca negou "qualquer discussão sobre um intercâmbio".
A aparente mudança de posição do Irã surge em meio a um endurecimento de Barack Obama com o país. Um ano depois de assumir a Casa Branca prometendo buscar uma normalização com o Irã, com quem os EUA estão rompidos há 30 anos, Obama vem se mostrando impaciente com as dúbias posições iranianas.
Segundo jornais americanos, dois navios com capacidade de interceptar projéteis monitoram a costa iraniana, e baterias antimísseis estão a caminho de países do golfo pró-EUA.
O reforço militar teria o objetivo de contrapor a escalada do Irã como potência militar regional e prevenir uma reação armada se novas sanções forem aplicadas. Na primeira reação oficial ao relato, o Irã disse ontem que as manobras não passam de um "teatro de marionetes" e acusou os EUA de fomentar divisões no Oriente Médio.
Ontem o vice-presidente americano, Joe Biden, disse que Teerã "planta as sementes de sua destruição" ao prender e executar oposicionistas.


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