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Raúl reforma gabinete e troca chanceler
Governo cubano substitui os titulares de oito pastas e retira Carlos Lage, "premiê" por duas décadas, de um de seus cargos
Governo diz que mudança
visa "eficiência" do Estado;
para analistas, reforma de gabinete reforça a linha "raulista" no poder da ilha
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O dirigente de Cuba, Raúl
Castro, trocou o comando de
oito ministérios ontem e removeu dos postos duas das figuras
mais proeminentes do regime:
Felipe Pérez Roque deixou a
Chancelaria e Carlos Lage, espécie de premiê de fato há quase duas décadas, saiu da secretaria do Conselho de Ministros.
As mudanças, em nome de
um governo "mais compacto e
funcional" -Raúl acabou também com dois ministérios-,
causaram surpresa ao serem
anunciadas em nota na TV, no
noticiário do meio-dia.
Analistas dizem que, dado o
hermetismo do governo comunista, é cedo para dissecar o significado global da dança das cadeiras. Apontam, porém, um
reforço da linha "raulista", com
a escolha de nomes mais próximos do atual comandante da
ilha em detrimento de nomes
fiéis a seu irmão mais velho
convalescente, Fidel, 82.
Pérez Roque, 43, será substituído por Bruno Rodríguez
Parrilla, 51, antes vice-ministro
de Relações Exteriores. O advogado e jornalista Rodríguez dirigiu o jornal oficial "Juventud
Rebelde", foi embaixador de
Cuba na ONU e, assim como o
ex-chanceler, entrou na hierarquia do Estado na ilha após passar pelo movimento estudantil.
Não tem a marca ultrafidelista
do antecessor, secretário pessoal do ditador nos anos 90.
"A mudança de chanceler
tem implicação nas relações
com o novo governo dos EUA?
Minha aposta é que não. Dado
que o próprio Raúl Castro já
enunciou claramente sua visão
sobre a relação com os EUA,
penso que é improvável", escreveu em seu blog sobre a ilha
Phill Peters, especialista do
americano Lexington Institute.
Carlos Lage, 57, deixa o posto
de secretário do Conselho de
Ministros, cargo a que deu relevância desde a crise dos anos
1990. Para o seu lugar, vai o general-de-brigada Amado Ricardo Guerra, por anos auxiliar de
Raúl Castro na função de secretário das Forças Armadas.
A nota frisa que o novo cargo
de Guerra, pela Constituição,
não tem faculdades decisórias.
Mas, na função, o médico Lage
se transformou na cara "reformista" da economia cubana,
comandando mudanças de gestão em empresas estratégicas e
dirigindo a "revolução energética", que livrou a ilha de apagões desde 2006.
Lage mantém, porém, o seu
cargo mais importante: uma
das cinco vice-presidências do
Conselho de Estado, o colegiado que corresponde ao Executivo em Cuba, presidido por
Raúl. Poderia, assim, reter as
funções de coordenação econômica. Segue na linha sucessória
-ele já foi citado como futuro
líder numa Cuba pós-Castros.
"Na geladeira"
"É cedo para dizer que Lage e
Pérez Roque não terão papéis
importantes no futuro. O que
se pode dizer é que tanta mudança simultânea é inédito",
diz Rosendo Díaz, ex-professor
de direito da Universidade de
Havana e hoje consultor de empresas no Brasil.
"Pessoas de confiança de
Raúl ganharam relevo. Há novos, como o novo chanceler,
que foi meu colega de faculdade, e generais. Não é algo geracional", continua ele.
A análise é corroborada por
Oscar Chepe, economista dissidente que serviu como diplomata do regime até os anos 80.
"É o reforço do "raulismo". Esperemos que ele comece a fazer
outras mudanças que prometeu", disse ele, em entrevista
por telefone, de Havana.
Chepe vê Lage "na geladeira". "Ele sumiu da mídia ultimamente. Não sei que tipo de
divergências ele pode ter com
Raúl, também um pragmático."
A reforma abarcou a pasta da
Economia, que englobou o Ministério do Comércio Interior.
José Luis Rodríguez será substituído por Marino Murillo, ex-titular da pasta fundida.
O ministro das Comunicações, Ramiro Valdés, 76, que
tem status de "herói da Revolução", coordenará a "Batalha das
Ideias", o programa lançado
por Fidel para reacender o fervor revolucionário. Valdés, que
já dirigiu o serviço de inteligência, havia sido promovido no
mês passado a vice-presidente
do Conselho de Ministros, ao
lado dos titulares da Agricultura (um general) e dos Transportes, em outro movimento tido como "raulista". As três
áreas ganharam atenção e investimentos sob Raúl.
Rodrigo Malmierca Díaz, que
já serviu na embaixada de Cuba
no Brasil, comandará a pasta de
Comercio Exterior e Investimento Estrangeiro.
O que é identificado como
"reforço do raulismo" acontece
curiosamente quando Fidel envia sinais de que está melhor de
saúde. O Castro mais velho é
considerado por analistas o
"freio" nos supostos ímpetos
reformistas de Raúl.
Desde que assumiu formalmente o poder, em fevereiro de
2008, Raúl Castro tem feito
discursos pregando a eficiência
do Estado e enxugamento da
máquina. A nota sobre a reforma faz referência ao discurso
de posse, quando prometeu
"mudanças estruturais".
Chepe e Díaz, porém, continuam prevendo que uma reforma para além da troca de nomes só ocorrerá após o Congresso do Partido Comunista,
anunciado para fins de 2009.
Com agências internacionais
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