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Teerã detém cineasta crítico ao regime
Jafar Panahi, aclamado internacionalmente, é preso em casa com familiares e outras 15 pessoas por suspeita de "crimes"
Segundo o promotor, prisão não tem motivação política nem ligações com atividade artística do cineasta; Panahi é levado a local não revelado
DA REDAÇÃO
O cineasta iraniano Jafar Panahi, que ostenta série de aclamações internacionais e manifestou apoio à oposição na reeleição do presidente Mahmoud
Ahmadinejad, em junho, foi detido junto com a filha, a mulher
e outras 15 pessoas anteontem
à noite na sua casa, em Teerã,
por "crimes" não especificados.
A prisão, inicialmente revelada por um site oposicionista, foi
confirmada pela Promotoria da
capital iraniana, que negou motivações políticas ou artísticas.
"Ele é suspeito de ter cometido alguns crimes e foi preso sob
ordem do juiz responsável pelo
caso, e as investigações continuam", afirmou o promotor de
Teerã Abbas Jafari Dolatabadi,
segundo a agência estatal Isna,
sem dar, porém, mais detalhes.
"A detenção de Jafar Panahi
não tem nenhuma relação com
sua profissão artística nem possui fundo político", completou.
Panahi, 49, vencedor de prêmios nos festivais de Veneza
(2000) e Berlim (2006), entre
outros, havia sido detido no ano
passado após apoiar opositores
e comparecer ao funeral de Neda Agha Soltan, cuja morte, registrada por câmera amadora,
rodou o mundo e virou símbolo
das manifestações antirregime.
A jovem foi baleada em uma
das manifestações em massa de
oposicionistas na onda de protestos que se seguiu à reeleição
de Ahmadinejad. Os eventos
antirregime duraram meses e
deram origem à mais grave crise política no país desde a revolução de 1979. Dezenas de pessoas foram detidas -centenas,
de acordo com a oposição.
O cineasta manifestou também apoio ao principal candidato opositor, o líder reformista Mir Hossein Mousavi, cujos
partidários alegaram fraude
maciça na eleição e exigiam a
realização de um novo pleito.
Em eventos no exterior, Panahi mais de uma vez prestou
solidariedade aos manifestantes antirregime reprimidos ou
detidos durante os protestos.
Segundo o site opositor Kaleme, próximo a Mousavi, Panahi
foi preso no momento em que
promovia uma festa em sua casa na segunda à noite. O cineasta, a filha, a mulher e os convidados foram surpreendidos por
forças de segurança à paisana e
levados para lugar até ontem
desconhecido, segundo o site.
Após as detenções, os agentes fizeram uma busca pela casa
e confiscaram o seu computador, além de outros pertences
não especificados, diz, citando
relato de outro dos seus filhos.
Os detalhes não foram confirmados nem desmentidos pela Promotoria da capital do Irã.
Em entrevista à Folha há um
ano, em Teerã, Panahi disse
que desde a chegada de Ahmadinejad ao poder, em 2005, não
conseguia autorização para levar adiante seus projetos. Seus
filmes -à exceção do primeiro,
"O Balão Branco" (1995), premiado em Cannes- têm transmissão proibida pelo governo.
Panahi, que esteve duas vezes no Brasil, havia sido convidado no mês passado para participar do Festival de Berlim
-no qual recebera um de seus
prêmios-, mas teve sua ida à
Alemanha recusada por Teerã.
No mesmo relato à Folha, o
cineasta iraniano disse ainda
que não faz cinema político, e
sim cinema social. "O problema é que tudo que faço aqui é
visto como político", afirmou.
Isolamento externo
O acirramento das tensões
internas no Irã desde a reeleição de Ahmadinejad motivou
duras críticas de EUA e aliados
e contribuiu para um maior isolamento do país no ponto central da disputa entre Teerã e o
Ocidente: o programa nuclear.
Atualmente, o governo americano e aliados buscam apoios
para a aplicação de nova rodada
de sanções contra o programa
-apoiado pela oposição a Ahmadinejad-, que eles suspeitam visar a bomba atômica. O
Irã, porém, nega a acusação.
Com agências internacionais
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