São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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Teerã detém cineasta crítico ao regime

Jafar Panahi, aclamado internacionalmente, é preso em casa com familiares e outras 15 pessoas por suspeita de "crimes"

Segundo o promotor, prisão não tem motivação política nem ligações com atividade artística do cineasta; Panahi é levado a local não revelado


DA REDAÇÃO

O cineasta iraniano Jafar Panahi, que ostenta série de aclamações internacionais e manifestou apoio à oposição na reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho, foi detido junto com a filha, a mulher e outras 15 pessoas anteontem à noite na sua casa, em Teerã, por "crimes" não especificados.
A prisão, inicialmente revelada por um site oposicionista, foi confirmada pela Promotoria da capital iraniana, que negou motivações políticas ou artísticas.
"Ele é suspeito de ter cometido alguns crimes e foi preso sob ordem do juiz responsável pelo caso, e as investigações continuam", afirmou o promotor de Teerã Abbas Jafari Dolatabadi, segundo a agência estatal Isna, sem dar, porém, mais detalhes.
"A detenção de Jafar Panahi não tem nenhuma relação com sua profissão artística nem possui fundo político", completou.
Panahi, 49, vencedor de prêmios nos festivais de Veneza (2000) e Berlim (2006), entre outros, havia sido detido no ano passado após apoiar opositores e comparecer ao funeral de Neda Agha Soltan, cuja morte, registrada por câmera amadora, rodou o mundo e virou símbolo das manifestações antirregime.
A jovem foi baleada em uma das manifestações em massa de oposicionistas na onda de protestos que se seguiu à reeleição de Ahmadinejad. Os eventos antirregime duraram meses e deram origem à mais grave crise política no país desde a revolução de 1979. Dezenas de pessoas foram detidas -centenas, de acordo com a oposição.
O cineasta manifestou também apoio ao principal candidato opositor, o líder reformista Mir Hossein Mousavi, cujos partidários alegaram fraude maciça na eleição e exigiam a realização de um novo pleito.
Em eventos no exterior, Panahi mais de uma vez prestou solidariedade aos manifestantes antirregime reprimidos ou detidos durante os protestos.
Segundo o site opositor Kaleme, próximo a Mousavi, Panahi foi preso no momento em que promovia uma festa em sua casa na segunda à noite. O cineasta, a filha, a mulher e os convidados foram surpreendidos por forças de segurança à paisana e levados para lugar até ontem desconhecido, segundo o site.
Após as detenções, os agentes fizeram uma busca pela casa e confiscaram o seu computador, além de outros pertences não especificados, diz, citando relato de outro dos seus filhos.
Os detalhes não foram confirmados nem desmentidos pela Promotoria da capital do Irã.
Em entrevista à Folha há um ano, em Teerã, Panahi disse que desde a chegada de Ahmadinejad ao poder, em 2005, não conseguia autorização para levar adiante seus projetos. Seus filmes -à exceção do primeiro, "O Balão Branco" (1995), premiado em Cannes- têm transmissão proibida pelo governo.
Panahi, que esteve duas vezes no Brasil, havia sido convidado no mês passado para participar do Festival de Berlim -no qual recebera um de seus prêmios-, mas teve sua ida à Alemanha recusada por Teerã.
No mesmo relato à Folha, o cineasta iraniano disse ainda que não faz cinema político, e sim cinema social. "O problema é que tudo que faço aqui é visto como político", afirmou.

Isolamento externo
O acirramento das tensões internas no Irã desde a reeleição de Ahmadinejad motivou duras críticas de EUA e aliados e contribuiu para um maior isolamento do país no ponto central da disputa entre Teerã e o Ocidente: o programa nuclear.
Atualmente, o governo americano e aliados buscam apoios para a aplicação de nova rodada de sanções contra o programa -apoiado pela oposição a Ahmadinejad-, que eles suspeitam visar a bomba atômica. O Irã, porém, nega a acusação.

Com agências internacionais



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