São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011 |
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DEPOIMENTO ONDA DE REVOLTAS "Na hora do ataque, o tempo parece congelar" No leste ocupado por rebeldes, bomba da Força Aérea explode a menos de 100 metros da reportagem da Folha MARCELO NINIO JOEL SILVA ENVIADOS ESPECIAIS A BREGA (LÍBIA) Um zumbido distante e a visão de um caça da Força Aérea líbia rasgando o céu foram o prenúncio dos ataques que estavam por vir. Primeiro, uma coluna de fumaça a cerca de 10 km de distância, provocando uma reação a esmo da artilharia antiaérea rebelde. Em seguida, o susto: a segunda bomba cai a menos de 100 metros de onde estamos. "Entrem no carro, rápido", grita Abdullah, ex-membro das forças especiais líbias, que tem acompanhado a reportagem da Folha nas viagens pelo leste do país, ocupado pelos insurgentes. Mesmo com a rica experiência acumulada em cinco anos de operações militares, Abdullah perdeu por um momento o sangue-frio e ordenou ao motorista que arrancasse o carro e desse o fora do local o mais rápido que pudesse. Tremendo muito, o motorista cumpriu a ordem sem titubear: bem antes da enorme explosão ocorrida diante de nossos olhos, ele já havia resistido à ideia de ir para a linha de frente dos confrontos. No momento do ataque, o tempo parece congelar. O estrondo é seguido de um silêncio sombrio e pela enorme nuvem de areia e pólvora criada pela explosão, em tons de marrom e preto, que surpreende por não exalar nenhum cheiro. DRAMA A surpresa inicial é canalizada para o cumprimento do ofício. Para o repórter, o instinto de procurar novos aviões no céu e a reação dos rebeldes. Para o fotógrafo, o último a entrar no carro já arrancando, o anseio de registrar as imagens da explosão. Alguns minutos depois, que parecem uma eternidade, a lógica desaparece e o corpo acusa o drama numa espécie de flashback: a boca seca, a respiração acelerada e a necessidade de entender o que aconteceu. Mesmo sem fazer vítimas, os bombardeios mostraram aos rebeldes e aos jornalistas presentes que o jogo pode virar a favor do ditador Muammar Gaddafi, com um saldo sangrento, caso sua superioridade aérea seja usada contra os insurgentes. Uma conclusão inevitável: mesmo para nós, que já vivemos situações de perigo em coberturas de conflitos e estamos habituados a correr riscos calculados, o melhor seguro de vida é ter a sorte do nosso lado. Texto Anterior: Rebeldes resistem ao maior dos contra-ataques do ditador líbio Próximo Texto: Foco: Nelly Furtado vai doar cachê recebido da família Gaddafi Índice | Comunicar Erros |
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