São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Artefato foi encontrado no trajeto entre Madri e Sevilha apenas três semanas após atentados no país

Espanha acha nova bomba em linha de trem

DA REDAÇÃO

Três semanas após os atentados de Madri, uma bomba que aparentemente continha o mesmo tipo de explosivo usado em 11 de março foi encontrada ontem sob uma linha de trem de alta velocidade que liga a capital a Sevilha, uma das mais importantes cidades espanholas e centro turístico importante da Europa.
"Com todas as cautelas e à espera do resultado de uma análise, [o explosivo achado] é o mesmo utilizado em 11 de março", disse o ministro do Interior, Angel Acebes. Há três semanas, dez bombas explodiram em quatro trens de subúrbio na região de Madri, matando 191 pessoas.
Segundo os indícios existentes e o atual rumo das investigações, os atentados de Madri provavelmente foram cometidos por um grupo de extremistas islâmicos ligado à Al Qaeda ou inspirado pela rede terrorista responsável pelos ataques do 11 de Setembro.
A bomba achada ontem estava dentro de uma bolsa e continha de dez a 12 quilos de explosivos. Junto dela havia um detonador e um cabo de 136 metros. Ela, no entanto, não estava pronta para explodir, o que parece indicar que sua montagem tenha sido subitamente abortada.
O artefato, que estava num buraco sob a linha ferroviária na altura do km 61, perto de Toledo, outra atração turística espanhola, foi descoberto por um operário. A polícia neutralizou o explosivo.
A bomba deve ter sido colocada no local entre 7h30 e 11h20 (horário local), quando foi achada, pois tanto a bolsa quanto seu conteúdo estavam secos e sem sinais de exposição prolongada ao tempo.
A linha de alta velocidade Madri-Sevilha, uma das mais importantes do sistema ferroviário espanhol, só deverá voltar a funcionar hoje, após uma vistoria "quilômetro por quilômetro". O trem AVE cumpre o trajeto de 417 km em apenas duas horas e meia e é muito procurado por turistas estrangeiros. A Espanha é hoje o segundo país mais visitado do mundo, atrás apenas da França.
O governo anunciou que as principais linhas de trem do país serão esquadrinhadas e vigiadas com a ajuda do Exército. Participarão da operação guardas ferroviários, policiais, soldados, unidades de cães farejadores, 45 helicópteros e veículos blindados.

Cautela oficial
Ontem, o governo espanhol evitou atribuir a responsabilidade pela colocação da bomba a algum grupo. Logo após os atentados de 11 de março, as autoridades rapidamente culparam o ETA (grupo terrorista separatista basco). Pouco depois, surgiram indícios de que eles teriam sido realizados por extremistas islâmicos.
A maneira pouco transparente como o governo do premiê conservador, José María Aznar, conduziu a questão parece ter levado parte da população a mudar seu voto nas eleições de 14 de março, ocorridas apenas três dias após os atentados. Como resultado, o Partido Socialista (oposição) venceu, batendo os governistas, antes favoritos. O novo governo ainda não assumiu.
A Espanha provavelmente foi escolhida como alvo por extremistas islâmicos devido ao apoio dado por Aznar aos EUA na Guerra do Iraque.
Logo após a derrota do partido de Aznar, um grupo islâmico supostamente ligado à Al Qaeda, que já assumira os atentados de Madri, enviou carta a um jornal árabe sediado em Londres na qual dizia que não mais atacaria a Espanha. Os alvos preferenciais, ameaçou o grupo, passavam a ser outros países aliados dos EUA. Não é possível autenticar a validade desses pronunciamentos.
A tentativa de um novo atentado pode ser uma reação às prisões ocorridas na Espanha nas últimas três semanas. Os extremistas poderiam estar querendo intimidar o governo mostrando que retêm capacidade operacional.
Ontem, 15 suspeitos de participação nos atentados de Madri permaneciam presos na Espanha. Até o momento, as investigações iniciadas após os atentados de 11 de março levaram à detenção de 24 pessoas, mas nove foram liberadas. Entre os detidos, há vários marroquinos. Também há um espanhol preso. Ele confessou ter ajudado a roubar dinamite de uma mina. Seis ordens de captura internacionais foram emitidas ontem contra cinco marroquinos e um tunisiano, suspeitos de atuar nos ataques de 11 de março.


Com agências internacionais


Próximo Texto: França detém dois membros do grupo ETA
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.