São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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EUA pressionam Otan a aumentar força no Afeganistão

Na abertura da cúpula da aliança militar, Sarkozy anuncia envio de mais soldados para combater Taleban ressurgente

Putin também oferece ajuda à guerra no país da Ásia Central, em troca de atraso no ingresso de Ucrânia e Geórgia na organização

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BUCARESTE

A guerra no Afeganistão chegou a um ponto crítico e o ressurgimento do movimento fundamentalista Taleban só será contido com o envio de mais tropas. Com esse argumento, que já vêm usando há meses, com pouco resultado, os Estados Unidos esperam convencer os membros da Otan a aumentar o contingente da aliança no país muçulmano.
A primeira resposta positiva surgiu na noite de ontem, no jantar de chefes de Estado que serviu de abertura informal da reunião de cúpula da organização militar. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, confirmou que seu país enviará mais soldados ao Afeganistão.
Embora a campanha americana pela ampliação da Otan rumo às fronteiras da Rússia tenha ofuscado o assunto nos últimos dias, o secretário-geral da aliança deixou claro que o Afeganistão está no topo da agenda da cúpula que começa oficialmente hoje, em Bucareste. Jaap de Hoop Scheffer manifestou otimismo quanto às chances de que outros membros da organização também enviem mais soldados.
"O Afeganistão é a prioridade-chave da Otan", disse Hoop Scheffer ontem.
Atualmente, a força militar liderada pela aliança tem 47 mil soldados no Afeganistão, mas o contingente lembra uma colcha de retalhos. Os canadenses, responsáveis pela Província de Kandahar, no sul, ameaçaram se retirar caso não recebessem reforço. O novo contingente francês deve liberar soldados americanos em Cabul para ajudar os canadenses no sul, onde há maior atividade do Taleban.
Com mais de 230 soldados mortos, o último ano foi o mais sangrento para as tropas ocidentais desde o início da campanha no Afeganistão, em 2001. A deterioração da segurança no país levou vários especialistas militares a advertir que o Ocidente pode estar perdendo para a insurgência.

Generosidade interessada
Assim como o secretário-geral Hoop Scheffer, os Estados Unidos esperam que a cúpula de Bucareste seja o começo da virada. E a ajuda pode vir de onde menos se esperava. A França, que não faz parte da estrutura militar da Otan desde 1966, e por tradição tende a resistir à liderança americana, enviará um batalhão (cerca de mil soldados) ao Afeganistão, onde já tem 1.430 militares.
O outro reforço poderá ser dado pela Rússia, apesar da ruidosa insatisfação do Kremlin com os planos de ampliação da Otan para a sua esfera de influência. Convidado a participar da cúpula, o presidente Vladimir Putin sugeriu um acordo abrindo rotas terrestres e aéreas em seu país para o suprimento da Otan no Afeganistão.
Toda essa generosidade não deve vir em vão. Nos corredores do gigantesco Palácio do Parlamento romeno, sede da cúpula, comenta-se que a oferta de Putin será feita em troca do congelamento do processo de adesão de duas ex-repúblicas soviéticas, Ucrânia e Geórgia, que mantêm relações conturbadas com Moscou.
Diplomatas dos 26 países da Otan continuavam ontem trabalhando numa fórmula satisfatória tanto para os que defendem apressar a adesão, sobretudo os EUA, e os que a consideram prematura, como Alemanha e França. "Minha avaliação é de que isso não ocorrerá em Bucareste", disse o porta-voz James Appathurai.
Questionado pela Folha sobre as condições que a França exigiu para enviar mais tropas ao Afeganistão, Appathurai disse que isso seria discutido hoje. Sabe-se porém, que Sarkozy quer a luz verde dos EUA para avançar a antiga ambição francesa de um projeto de defesa comum da União Européia.


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