São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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"EIXO DO MAL"

Membros permanentes do Conselho de Segurança não conseguem redigir em Paris um esboço de resolução

Potências divergem em como punir o Irã

DA REDAÇÃO

Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU se separaram ontem sem um acordo sobre a melhor forma de punir o Irã em razão de seu controvertido programa nuclear.
Reunidos em Paris, integrantes do primeiro escalão diplomático dos Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China -grupo ao qual se agregou a Alemanha- encerraram seus trabalhos por volta da meia-noite.
Procuraram superar divergências para a reunião do próximo dia 9, em Nova York, quando cada delegação estará encabeçada por seu ministro do Exterior.
Quiseram ainda chegar a um esboço de resolução que americanos, franceses e britânicos deveriam apresentar ainda esta semana ao Conselho de Segurança, para obrigar o Irã a "cumprir suas obrigações", expressão utilizada para designar a interrupção do enriquecimento de urânio.
Com as conversações a portas fechadas, as poucas informações que filtraram se referiam à possibilidade de evocar, desde já, o Capitulo 7 da Carta das Nações Unidas, que menciona uma "ameaça à paz". A partir da menção, sanções econômicas e ação militar seriam os únicos desdobramentos.
O porta-voz da diplomacia francesa, Jean-Baptiste Mattei, disse que a citação do Capítulo 7 "era apenas uma das possibilidades em discussão". Ele deu a entender que um passo de início tão radical poderia bloquear o que há de legítimo no programa nuclear iraniano: a utilização do átomo para gerar energia elétrica.
Nicolas Burns, o número três do Departamento de Estado americano, afirmou, no entanto, que se caminhava para "alguma forma de menção" daquele dispositivo da Carta da ONU. Ele também sinalizou o quanto o processo diplomático seria longo. Disse que um acordo vigoraria "nos próximos 30 ou 40 dias" para que o Irã receba um recado categórico da comunidade internacional.
A Rússia, que se opõe por enquanto a sanções econômicas, expôs sua posição por um canal indireto, em Moscou, com declarações de Konstantin Kosachev, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
Ele disse ser possível que na semana que vem o Conselho de Segurança dê ao Irã um prazo de um a três meses para abandonar a produção de combustível nuclear. Só em caso de intransigência é que as primeiras sanções deveriam ser votadas, com a evocação do Capítulo 7 e a ameaça paralela do uso da força.
Kosachev afirmou ainda que seu país e a China rejeitariam as sanções imediatas, defendidas pelos Estados Unidos.
O ministro iraniano do Exterior, Manouchehr Mottaki, disse em entrevista ao jornal "Kayhan" que Moscou e Pequim lhe haviam assegurado que vetariam resoluções com sanções imediatas.
Mottaki procurou no fundo tranqüilizar seus concidadãos. O temor de um embargo econômico provocaria uma corrida de consumo que esvaziaria as lojas e levaria à estocagem de medicamentos, alimentos e bens de consumo durável.
Paralelamente, em lugar de se manter discreto por estar amplamente na berlinda, o regime iraniano divulgou ontem duas informações capazes de irritar o Conselho de Segurança.
Em Qom, anunciou ter descoberto três novas jazidas de urânio natural, que ampliariam suas reservas em 1,73 milhões de toneladas. O minério é hoje extraído da mina de Saghand, capaz de produzir 120 toneladas por ano e que já é a maior do Oriente Médio.
A segunda informação foi a de que conseguiu enriquecer urânio a 4,8%, padrão necessário apenas para a produção de energia elétrica e insuficiente para ogivas nucleares, que exigem 80% ou mais. A notícia foi dada por um dos responsáveis pelo programa nuclear iraniano, Gholamreza Aghazadeh. Disse que enriquecer o urânio em mais de 5% "não está no programa".
A BBC diz que funcionam atualmente 164 centrífugas para o enriquecimento de urânio, e que uma nova cascata com 164 aparelhos está ainda sendo construída. O fato foi comentado na emissora britânica por Hans Blix, ex-chefe dos inspetores da ONU no Iraque. A seu ver, o Irã não representa uma ameaça imediata.


Com agências internacionais


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