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"EIXO DO MAL"
Membros permanentes do Conselho de Segurança não conseguem redigir em Paris um esboço de resolução
Potências divergem em como punir o Irã
DA REDAÇÃO
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da
ONU se separaram ontem sem
um acordo sobre a melhor forma
de punir o Irã em razão de seu
controvertido programa nuclear.
Reunidos em Paris, integrantes
do primeiro escalão diplomático
dos Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China -grupo ao qual se agregou a Alemanha- encerraram seus trabalhos
por volta da meia-noite.
Procuraram superar divergências para a reunião do próximo
dia 9, em Nova York, quando cada delegação estará encabeçada
por seu ministro do Exterior.
Quiseram ainda chegar a um esboço de resolução que americanos, franceses e britânicos deveriam apresentar ainda esta semana ao Conselho de Segurança, para obrigar o Irã a "cumprir suas
obrigações", expressão utilizada
para designar a interrupção do
enriquecimento de urânio.
Com as conversações a portas
fechadas, as poucas informações
que filtraram se referiam à possibilidade de evocar, desde já, o Capitulo 7 da Carta das Nações Unidas, que menciona uma "ameaça
à paz". A partir da menção, sanções econômicas e ação militar seriam os únicos desdobramentos.
O porta-voz da diplomacia
francesa, Jean-Baptiste Mattei,
disse que a citação do Capítulo 7
"era apenas uma das possibilidades em discussão". Ele deu a entender que um passo de início tão
radical poderia bloquear o que há
de legítimo no programa nuclear
iraniano: a utilização do átomo
para gerar energia elétrica.
Nicolas Burns, o número três do
Departamento de Estado americano, afirmou, no entanto, que se
caminhava para "alguma forma
de menção" daquele dispositivo
da Carta da ONU. Ele também sinalizou o quanto o processo diplomático seria longo. Disse que
um acordo vigoraria "nos próximos 30 ou 40 dias" para que o Irã
receba um recado categórico da
comunidade internacional.
A Rússia, que se opõe por enquanto a sanções econômicas, expôs sua posição por um canal indireto, em Moscou, com declarações de Konstantin Kosachev,
presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos
Deputados.
Ele disse ser possível que na semana que vem o Conselho de Segurança dê ao Irã um prazo de um
a três meses para abandonar a
produção de combustível nuclear.
Só em caso de intransigência é
que as primeiras sanções deveriam ser votadas, com a evocação
do Capítulo 7 e a ameaça paralela
do uso da força.
Kosachev afirmou ainda que
seu país e a China rejeitariam as
sanções imediatas, defendidas pelos Estados Unidos.
O ministro iraniano do Exterior, Manouchehr Mottaki, disse
em entrevista ao jornal "Kayhan"
que Moscou e Pequim lhe haviam
assegurado que vetariam resoluções com sanções imediatas.
Mottaki procurou no fundo
tranqüilizar seus concidadãos. O
temor de um embargo econômico provocaria uma corrida de
consumo que esvaziaria as lojas e
levaria à estocagem de medicamentos, alimentos e bens de consumo durável.
Paralelamente, em lugar de se
manter discreto por estar amplamente na berlinda, o regime iraniano divulgou ontem duas informações capazes de irritar o Conselho de Segurança.
Em Qom, anunciou ter descoberto três novas jazidas de urânio
natural, que ampliariam suas reservas em 1,73 milhões de toneladas. O minério é hoje extraído da
mina de Saghand, capaz de produzir 120 toneladas por ano e que
já é a maior do Oriente Médio.
A segunda informação foi a de
que conseguiu enriquecer urânio
a 4,8%, padrão necessário apenas
para a produção de energia elétrica e insuficiente para ogivas nucleares, que exigem 80% ou mais.
A notícia foi dada por um dos responsáveis pelo programa nuclear
iraniano, Gholamreza Aghazadeh. Disse que enriquecer o urânio em mais de 5% "não está no
programa".
A BBC diz que funcionam atualmente 164 centrífugas para o enriquecimento de urânio, e que uma
nova cascata com 164 aparelhos
está ainda sendo construída. O fato foi comentado na emissora britânica por Hans Blix, ex-chefe dos
inspetores da ONU no Iraque. A
seu ver, o Irã não representa uma
ameaça imediata.
Com agências internacionais
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