PAOLO BIONDI
ROBIN POMEROY

DA REUTERS, EM ROMA

O premiê italiano, Silvio Berlusconi, apresentou ontem seu pedido de renúncia, pondo fim a semanas de incerteza política e abrindo caminho para que o líder de centro-esquerda Romano Prodi forme um novo governo.
Berlusconi vinha contestando a vitória por margem ínfima que Prodi obteve na eleição nacional do mês passado, mas foi forçado a se admitir derrotado depois que o Legislativo elegeu presidentes de esquerda para suas duas Câmaras, na semana passada, demonstrando que Prodi é capaz de controlar o Parlamento apesar de deter maiorias muito pequenas.
"Eles vão sentir a nossa falta; fomos o melhor governo que a República já teve", declarou Berlusconi na reunião final de seu gabinete, de acordo com ministros participantes.
O empresário da mídia, que é o homem mais rico da Itália, liderou o mais longo governo na história italiana do pós-guerra -cinco anos, interrompidos por alguns dias no ano passado quando uma disputa de poder no interior de sua coalizão o forçou a renunciar e a reformar sua equipe.
A renúncia marcou o final de um mandato conturbado como primeiro-ministro para o bilionário que conquistou o poder prometendo um milagre econômico, mas em lugar disso presidiu um longo período de estagnação.

Virada à esquerda
O fim do governo Berlusconi também sinalizou o começo de uma inclinação à esquerda na terceira maior economia da zona do euro, com a chegada ao poder da complicada coalizão de Prodi, que abarca de comunistas velha-guarda a católicos moderados.
Em um momento que deve ter sido doloroso para Berlusconi, que muitas vezes alertou os italianos quanto à ameaça que o comunismo representa, o premiê teve de apresentar sua carta de renúncia pessoalmente ao líder do Partido Comunista, que é o novo presidente da Câmara italiana.
Questionado sobre como tinha transcorrido sua breve reunião com Fausto Bertinotti, Berlusconi respondeu: "Muito bem. Sempre me dei bem com ele".
Prodi, que foi eleito pela menor margem de vitória na história italiana moderna, recebeu com agrado a muito aguardada renúncia. "Agora cabe a nós formar um novo governo, de acordo com o cronograma a ser determinado pelo presidente", disse Prodi.
Mas o presidente Carlo Ciampi ainda não definiu se começaria nesta semana o processo de consultas para a formação do novo governo ou se retardaria a decisão até que o Parlamento eleja um novo chefe de Estado, neste mês.