São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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Trabalhistas sofrem pior derrota em 40 anos

Partido, no poder no Reino Unido desde 1997, fica em terceiro, com 24%, em eleições locais; Brown culpa crise financeira

Conservadores obtêm 44% e comemoram com esperança de reaverem poder nacional no país nas eleições que devem ocorrer até 2010

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

O Partido Trabalhista, do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, sofreu ontem sua pior derrota em 40 anos nas eleições locais, em um resultado que enfraquece ainda mais o atual governo.
Os trabalhistas perderam mais de 300 cadeiras em conselhos locais em relação às eleições de quatro anos atrás e terminaram em terceiro lugar, atrás de seus principais adversários, os conservadores, e também dos liberal-democratas. Para coroar o desastre, foram derrotados em Londres, cidade que governavam desde 2000.
O resultado destas eleições é ainda pior que o de 2004, quando o apoio ao governo de Tony Blair (1997-2007) chegou a um de seus níveis mais baixos, um ano após a invasão do Iraque.
Os grandes vencedores foram os conservadores, que conquistaram 44% dos votos. Os liberal-democratas tiveram 25% e os trabalhistas ficaram com apenas 24%.
Como o voto é distrital (o candidato que tiver a maioria simples em cada distrito é o vencedor), a divisão das cadeiras nos conselhos locais não obedece à proporção dos votos obtidos. Os conservadores ganharam em torno de 250 cadeiras em relação ao que já tinham, enquanto os trabalhistas perderam em torno de 330.
Os liberal-democratas, normalmente a terceira força na política britânica, avançaram em torno de 30. Estavam em jogo pouco mais de 4.000 cadeiras nos conselhos locais (espécie de câmaras municipais) de 159 localidades, além da Prefeitura de Londres.
Se os resultados se repetissem na futura eleição nacional, os conservadores conquistariam uma maioria sólida de cerca de 150 cadeiras e acabariam com o domínio trabalhista no Parlamento, iniciado há 11 anos com o governo Blair. Pelo sistema político britânico, a eleição pode ser convocada em qualquer momento, por decisão do Parlamento, que então é dissolvido pela rainha. O prazo máximo para a realização das próximas eleições é junho de 2010.
A votação de ontem foi o primeiro teste eleitoral de Brown, e os adjetivos proliferaram na mídia britânica para definir a derrota trabalhista: desde o "humilhante" usado pelo "Financial Times" até o "massacre" de alguns tablóides.

Causas
A debacle pode ser atribuída a fatores internos e externos. No plano internacional, a crise financeira global atingiu o Reino Unido e dificultou o financiamento de imóveis, aumentou os preços dos combustíveis e dos alimentos. No cenário interno, o governo de Brown foi obrigado a voltar atrás depois de uma desastrosa mudança no imposto de renda, que prejudicava justamente algumas das parcelas mais pobres da população. Conta também a falta de carisma do premiê.
O revés coroou uma série de problemas da gestão de Brown, que, em menos de um ano no poder, viu a primeira corrida bancária em mais de um século no Reino Unido, enfrentou episódio de perda dos dados sigilosos de milhões de britânicos e sofreu com ataques de membros do próprio partido.
Brown admitiu a gravidade da derrota e disse que tinha sido "uma noite ruim". Mas tentou colocar o pesadelo para trás: "Meu trabalho é escutar e liderar, e é isso que vou fazer".
O primeiro-ministro culpou as "difíceis circunstâncias econômicas" e disse que as medidas tomadas por seu governo vão ficar claras "durante os próximos meses". "Eu acho que as pessoas querem ter a certeza de que o governo vai liderá-las durante esses tempos difíceis."

Vencedor
No entanto, Brown deve enfrentar ainda mais problemas nos próximos meses, uma vez que integrantes de seu próprio partido elevaram as críticas ontem à noite e parlamentares ameaçam obstruir a mudança na lei sobre suspeitos de terrorismo. A turbulência financeira global tampouco dá sinais de ter se dissipado.
O maior vencedor das eleições de ontem foi o líder do Partido Conservador, David Cameron, principal oponente de Brown. O político de 42 anos ocupa a posição desde 2005 e é extremamente midiático. Recentemente, abriu sua casa para a TV para mostrar o café da manhã com a mulher e os filhos. Costuma dizer que é um "conservador moderno com compaixão". Ontem, definiu a vitória nas eleições locais como "um grande momento".


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