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Trabalhistas sofrem pior derrota em 40 anos
Partido, no poder no Reino Unido desde 1997, fica em terceiro, com 24%, em eleições locais; Brown culpa crise financeira
Conservadores obtêm 44% e comemoram com esperança de reaverem poder nacional no país nas eleições que devem ocorrer até 2010
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
O Partido Trabalhista, do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, sofreu ontem sua
pior derrota em 40 anos nas
eleições locais, em um resultado que enfraquece ainda mais o
atual governo.
Os trabalhistas perderam
mais de 300 cadeiras em conselhos locais em relação às eleições de quatro anos atrás e terminaram em terceiro lugar,
atrás de seus principais adversários, os conservadores, e também dos liberal-democratas.
Para coroar o desastre, foram
derrotados em Londres, cidade
que governavam desde 2000.
O resultado destas eleições é
ainda pior que o de 2004, quando o apoio ao governo de Tony
Blair (1997-2007) chegou a um
de seus níveis mais baixos, um
ano após a invasão do Iraque.
Os grandes vencedores foram os conservadores, que conquistaram 44% dos votos. Os liberal-democratas tiveram 25%
e os trabalhistas ficaram com
apenas 24%.
Como o voto é distrital (o
candidato que tiver a maioria
simples em cada distrito é o
vencedor), a divisão das cadeiras nos conselhos locais não
obedece à proporção dos votos
obtidos. Os conservadores ganharam em torno de 250 cadeiras em relação ao que já tinham, enquanto os trabalhistas
perderam em torno de 330.
Os liberal-democratas, normalmente a terceira força na
política britânica, avançaram
em torno de 30. Estavam em jogo pouco mais de 4.000 cadeiras nos conselhos locais (espécie de câmaras municipais) de
159 localidades, além da Prefeitura de Londres.
Se os resultados se repetissem na futura eleição nacional,
os conservadores conquistariam uma maioria sólida de cerca de 150 cadeiras e acabariam
com o domínio trabalhista no
Parlamento, iniciado há 11 anos
com o governo Blair. Pelo sistema político britânico, a eleição
pode ser convocada em qualquer momento, por decisão do
Parlamento, que então é dissolvido pela rainha. O prazo máximo para a realização das próximas eleições é junho de 2010.
A votação de ontem foi o primeiro teste eleitoral de Brown,
e os adjetivos proliferaram na
mídia britânica para definir a
derrota trabalhista: desde o
"humilhante" usado pelo "Financial Times" até o "massacre" de alguns tablóides.
Causas
A debacle pode ser atribuída
a fatores internos e externos.
No plano internacional, a crise
financeira global atingiu o Reino Unido e dificultou o financiamento de imóveis, aumentou os preços dos combustíveis
e dos alimentos. No cenário interno, o governo de Brown foi
obrigado a voltar atrás depois
de uma desastrosa mudança no
imposto de renda, que prejudicava justamente algumas das
parcelas mais pobres da população. Conta também a falta de
carisma do premiê.
O revés coroou uma série de
problemas da gestão de Brown,
que, em menos de um ano no
poder, viu a primeira corrida
bancária em mais de um século
no Reino Unido, enfrentou episódio de perda dos dados sigilosos de milhões de britânicos e
sofreu com ataques de membros do próprio partido.
Brown admitiu a gravidade
da derrota e disse que tinha sido "uma noite ruim". Mas tentou colocar o pesadelo para
trás: "Meu trabalho é escutar e
liderar, e é isso que vou fazer".
O primeiro-ministro culpou
as "difíceis circunstâncias econômicas" e disse que as medidas tomadas por seu governo
vão ficar claras "durante os
próximos meses". "Eu acho que
as pessoas querem ter a certeza
de que o governo vai liderá-las
durante esses tempos difíceis."
Vencedor
No entanto, Brown deve enfrentar ainda mais problemas
nos próximos meses, uma vez
que integrantes de seu próprio
partido elevaram as críticas ontem à noite e parlamentares
ameaçam obstruir a mudança
na lei sobre suspeitos de terrorismo. A turbulência financeira
global tampouco dá sinais de
ter se dissipado.
O maior vencedor das eleições de ontem foi o líder do
Partido Conservador, David
Cameron, principal oponente
de Brown. O político de 42 anos
ocupa a posição desde 2005 e é
extremamente midiático. Recentemente, abriu sua casa para a TV para mostrar o café da
manhã com a mulher e os filhos. Costuma dizer que é um
"conservador moderno com
compaixão". Ontem, definiu a
vitória nas eleições locais como
"um grande momento".
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