São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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Para militares, referendo na Bolívia é ilegal

Conselho Supremo de Defesa afirma que votação de amanhã pela autonomia de Santa Cruz ameaça segurança do país

Defesa se recusa a enviar os reforços de segurança pedidos por governador de oposição; Morales nega golpe militar em marcha

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

O Conselho Supremo de Defesa (Cosdena) da Bolívia, integrado pelos comandantes das Forças Armadas e membros do governo, afirmou ontem que o estatuto automômico que o departamento de Santa Cruz pretende aprovar em um referendo amanhã rompe a legalidade e ameaça a segurança do país.
"Esses projetos rompem a ordem constitucional e podem gerar, o que é mais grave, algumas conseqüências graves a respeito da unidade do país", disse o secretário da entidade, general Mario Ayala.
O ministro da Defesa boliviano, Walker San Miguel, disse ontem que as Forças Armadas e a polícia não atenderão à solicitação do governo de Santa Cruz para trabalhar de forma coordenada na segurança do referendo regional, em meio a temores de confrontos entre governistas e oposicionistas.
"As Forças Armadas, de acordo com sua normativa, respondem ao mando do presidente, e não ao do governador", disse San Miguel. O ministro voltou a afirmar que o referendo autonômico, convocado pelo governador oposicionista de Santa Cruz, Ruben Costas, é ilegal.
Na segunda-feira, Costas emitiu um decreto no qual "durante o dia das eleições, toda força pública será colocada à disposição das cortes dos juízes de dos jurados eleitorais".
San Miguel previu que o processo amanhã terá alta abstenção. Segundo ele, as Forças Armadas estarão em "alerta moderado". Líderes governistas de quatro cidades do interior de Santa Cruz prometem impedir a votação amanhã queimando as urnas, que serão instaladas em escolas. Na capital, organizações pró-Morales ameaçam invadir centros eleitorais para fazer greve de fome.

Segurança própria
Os líderes oposicionistas planejam fazer a segurança do referendo usando a controvertida União Juvenil Cruzenhista (UJC), acusada pelo governo de ser uma força paramilitar responsável por vários atos violentos contra forças governistas.
Em entrevista à Folha ontem, o presidente da UJC, David Sejas, disse que fará a segurança com 20 mil membros e voluntários.
"A Constituição diz que a Polícia Nacional está encarregada de velar pela segurança dos cidadãos. Nós lamentamos a atitude que está tomando a polícia porque está sendo mal utilizada por este governo. Eles deveriam estar nas ruas protegendo as urnas", disse Sejas.
Segundo o presidente da UJC, o treinamento foi feito apenas por meio de "oficinas de capacitação em alguns bairros, porque a maioria dos unionistas passaram um ano no quartel; apenas lhes explicamos que a tarefa é proteger a cidadania. A UJC não vai usar nenhum uniforme nem armas, apenas os recursos humanos".
Apesar de acusar o referendo de ter motivação separatista, Morales disse que não militarizará Santa Cruz nem decretará estado de sítio. Ele negou a existência de um golpe de Estado militar em marcha no país: "Estão equivocados alguns ex-comandantes fazendo correr o rumor de um golpe de Estado".
Segundo pesquisa divulgada na quarta-feira pela TV P.A.T, o "sim" ao estatuto econômico tem apoio de 71% dos eleitores de Santa Cruz. Ainda de acordo com o levantamento, 86% pretendem comparecer às urnas.
Os governadores oposicionistas de outros três departamentos do país, Beni Pando e Tarija, todos fora do altiplano, planejam realizar seus referendos autonômicos mês que vem.


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