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Para militares, referendo na Bolívia é ilegal
Conselho Supremo de Defesa afirma que votação de amanhã pela autonomia de Santa Cruz ameaça segurança do país
Defesa se recusa a enviar os reforços de segurança pedidos por governador de oposição; Morales nega golpe militar em marcha
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
O Conselho Supremo de Defesa (Cosdena) da Bolívia, integrado pelos comandantes das
Forças Armadas e membros do
governo, afirmou ontem que o
estatuto automômico que o departamento de Santa Cruz pretende aprovar em um referendo amanhã rompe a legalidade
e ameaça a segurança do país.
"Esses projetos rompem a
ordem constitucional e podem
gerar, o que é mais grave, algumas conseqüências graves a
respeito da unidade do país",
disse o secretário da entidade,
general Mario Ayala.
O ministro da Defesa boliviano, Walker San Miguel, disse
ontem que as Forças Armadas e
a polícia não atenderão à solicitação do governo de Santa Cruz
para trabalhar de forma coordenada na segurança do referendo regional, em meio a temores de confrontos entre governistas e oposicionistas.
"As Forças Armadas, de acordo com sua normativa, respondem ao mando do presidente, e
não ao do governador", disse
San Miguel. O ministro voltou a
afirmar que o referendo autonômico, convocado pelo governador oposicionista de Santa
Cruz, Ruben Costas, é ilegal.
Na segunda-feira, Costas
emitiu um decreto no qual "durante o dia das eleições, toda
força pública será colocada à
disposição das cortes dos juízes
de dos jurados eleitorais".
San Miguel previu que o processo amanhã terá alta abstenção. Segundo ele, as Forças Armadas estarão em "alerta moderado". Líderes governistas de
quatro cidades do interior de
Santa Cruz prometem impedir
a votação amanhã queimando
as urnas, que serão instaladas
em escolas. Na capital, organizações pró-Morales ameaçam
invadir centros eleitorais para
fazer greve de fome.
Segurança própria
Os líderes oposicionistas planejam fazer a segurança do referendo usando a controvertida
União Juvenil Cruzenhista
(UJC), acusada pelo governo de
ser uma força paramilitar responsável por vários atos violentos contra forças governistas.
Em entrevista à Folha ontem, o presidente da UJC, David Sejas, disse que fará a segurança com 20 mil membros e
voluntários.
"A Constituição diz que a Polícia Nacional está encarregada
de velar pela segurança dos cidadãos. Nós lamentamos a atitude que está tomando a polícia porque está sendo mal utilizada por este governo. Eles deveriam estar nas ruas protegendo as urnas", disse Sejas.
Segundo o presidente da
UJC, o treinamento foi feito
apenas por meio de "oficinas
de capacitação em alguns bairros, porque a maioria dos unionistas passaram um ano no
quartel; apenas lhes explicamos que a tarefa é proteger a
cidadania. A UJC não vai usar
nenhum uniforme nem armas,
apenas os recursos humanos".
Apesar de acusar o referendo
de ter motivação separatista,
Morales disse que não militarizará Santa Cruz nem decretará
estado de sítio. Ele negou a
existência de um golpe de Estado militar em marcha no país:
"Estão equivocados alguns ex-comandantes fazendo correr o
rumor de um golpe de Estado".
Segundo pesquisa divulgada
na quarta-feira pela TV P.A.T, o
"sim" ao estatuto econômico
tem apoio de 71% dos eleitores
de Santa Cruz. Ainda de acordo
com o levantamento, 86% pretendem comparecer às urnas.
Os governadores oposicionistas de outros três departamentos do país, Beni Pando e
Tarija, todos fora do altiplano,
planejam realizar seus referendos autonômicos mês que vem.
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