São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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Zimbábue anuncia 2º turno para eleições presidenciais

Com mais de um mês de atraso, resultado dá liderança à candidato da oposição

Morgan Tsvangirai alcança 47,9%, e o ditador Robert Mugabe, 43,2%; opositores rejeitam os números e não confirmam ida à 2ª rodada

DA REDAÇÃO

Com atraso de mais de um mês, a Comissão Eleitoral do Zimbábue (ZEC) anunciou ontem que o opositor Morgan Tsvangirai ficou à frente do ditador Robert Mugabe na eleição presidencial de março, com 47,9% contra 43,2% dos votos -número que exige um segundo turno. A data para a segunda rodada não foi anunciada.
O Movimento pela Mudança Democrática (MDC), partido de Tsvangirai, rejeitou o resultado. O porta-voz do partido Nelson Chemisa disse que o atraso foi uma "fraude escandalosa em plena luz do dia" e não confirmou se Tsvangirai participará do segundo turno.
Desistir da nova rodada, porém, significaria entregar a vitória a Mugabe, admitiu o secretário-geral do MDC, Tentai Biti, indicando o dilema que vive o grupo. A oposição contabilizou separadamente um total de 50,3% dos votos para Tsvangirai, o que permitiria a vitória em primeiro turno.
Outra contagem paralela, da organização civil Rede Zimbabuana de Apoio às Eleições (ZESN), afirmara pouco após a votação do dia 29 de março último que o MDC tinha 49,4% dos votos, e Mugabe, 41,8%.
Por um lado, os resultados anunciados pela ZEC ontem, assim como os das contagens paralelas, estão dentro da margem que monitores eleitorais disseram ser "plausível", de entre 47% e 51,8% para o MDC. Mugabe aceitou os números.
Mas, por outro, a longa espera pelo anúncio aprofundou a crise política do país, há 28 anos sob o domínio do ditador. A oposição afirma que seus simpatizantes foram espancados e detidos por forças do governo. Na semana passada, mais de 200 pessoas foram presas em escritórios da ZESN e do MDC em Harare, em um operação policial "anti-subversiva".

Governo de reconciliação
A demora também alimentou suspeitas de que Mugabe manipulou o resultado por meio de fraudes, principalmente após perder a maioria no Congresso. Países como os EUA e Reino Unido já expressaram desconfiança dos números finais e disseram que será difícil um segundo turno justo e livre, em vista da opressão contra opositores.
Biti, que está na África do Sul, disse ontem que um segundo turno seria "ilegal" e que "o país está em chamas" pela violência e colapso econômico. "Morgan Tsvangirai deveria poder formar um governo de reconciliação nacional que inclua todos os atores [políticos] do Zimbábue. A única condição é que Mugabe reconheça a derrota."
Ele disse ainda que o MDC garantiria a segurança de Mugabe, sua família e seus bens. Para o secretário-geral, Mugabe deveria se aposentar ou se tornar mediador regional.
Legalmente, o segundo turno no Zimbábue deve ser organizado em até 21 dias após o anúncio do resultado, mas a ZEC tem poder para fixar uma data diferente para a votação.

Influência regional
Mediadores regionais tiveram influência de peso na crise do Zimbábue. Em 12 de abril, líderes de países da África Austral organizaram uma reunião de emergência na Zâmbia para tratar do caso sem a presença de Mugabe, que não aceitou o convite. O encontro terminou com um pedido de agilidade na contagem e um apelo a todas as partes pelo reconhecimento dos resultados finais.
Nas semanas seguintes, a pressão aumentou. O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, um dos líderes mais influentes com Mugabe, mudou visivelmente de tom e passou a criticar a demora na contagem.
Em outro episódio, um navio da China com carregamento de armas destinadas ao governo zimbabuano foi obrigado a desistir da entrega pela recusa de vizinhos africanos em transportar o material por temor de que fosse usado contra civis.
A crise chegou a ser discutida no Conselho de Segurança da ONU na última semana, mas sem resultados palpáveis. (ANDREA MURTA)

Com agências internacionais


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