São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Organizações judaicas e feministas repudiam

DA REPORTAGEM LOCAL

No pontapé inicial de uma série de atos de repúdio à visita de Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil, movimentos religiosos e de direitos humanos convocaram para a manhã de hoje protestos em São Paulo e no Rio.
As manifestações serão capitaneadas por grupos judaicos, revoltados com o convite do Brasil a um presidente que questiona o Holocausto e defende varrer Israel do mapa.
"É uma ofensa para a comunidade judaica o governo brasileiro receber [Ahmadinejad]. Não dá para abrir o tapete vermelho para um líder antissemita", diz Fernando Lottenberg, secretário geral da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Segundo a Folha apurou, a Conib entregou na última quarta-feira uma carta de repúdio ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
O recado da comunidade judaica brasileira ganhou apoio entusiasmado de homossexuais, evangélicos e feministas, que também encaram o iraniano como inimigo.
A ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) divulgou nota criticando o Irã por ser um dos poucos países que ainda consideram a homossexualidade um crime passível de pena de morte.
Associações feministas também condenam o regime iraniano por permitir o apedrejamento de mulheres adúlteras.
O movimento irá se concentrar em Brasília no dia da visita, com a promessa de promover o maior protesto já feito contra um visitante estrangeiro.
Um grupo não identificado pretende estender em algum ponto alto nas cercanias do Itamaraty -onde Lula receberá o colega iraniano- um enorme cartaz com uma criança num campo de concentração e a frase "como você ousa negar?".
Na véspera da visita, o pastor Laurindo, do Ministério Casa da Bênção, organiza uma vigília noturna com velas em frente ao Itamaraty. As velas, segundo o pastor, servirão para "trazer luz na escuridão em que Brasil mergulhará" com a presença do iraniano em solo brasileiro. "[Na Bíblia, o] Gênesis diz que aquele que amaldiçoa Israel será amaldiçoado", cita o pastor.
Os bahá'ís, que foram perseguidos no Irã antes mesmo da Revolução Islâmica (1979) e têm milhares de adeptos no Brasil, também estão contrariados com a visita.
Os bahá'ís pretendem publicar na mídia brasileira uma carta aberta a Ahmadinejad, exigindo a libertação de fiéis encarcerados na prisão de Evin, tida com o equivalente iraniana da penitenciária iraquiana de Abu Ghraib.
"Mais do que soja e carne, o Brasil deveria exportar os valores humanos que deram ao país sua atual posição de liderança", afirma Washington Araújo, diretor de comunicação da Comunidade Bahá'í do Brasil.
A Embaixada do Irã se absteve de comentar sobre os protestos. Em visita a Brasília em março, o chanceler Manouchehr Mottaki afirmou que "todos os iranianos são tratados da mesma maneira".
O Itamaraty, embora diga que o Brasil é um país democrático que permite a livre expressão, está preocupado. Segundo um diplomata, o ministério nunca recebeu tantos e-mails de cidadãos protestando contra uma visita de autoridade estrangeira -nem antes das duas visitas do americano George W. Bush ao Brasil.
A Polícia Federal montou um esquema especial de segurança para receber a comitiva iraniana, que foi instruída a fazer apenas os trajetos indispensáveis na capital brasileira.
Inicialmente prevista para a noite de terça-feira, a chegada de Ahmadinejad a Brasília foi adiada para a manhã de quarta. A estadia, que deveria durar dois dias, foi reduzida a algumas horas. (SA)


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