São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Para o cineasta Ken Loach, "tudo o que ela fez foi ruim"

DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta britânico Ken Loach, 72, celebrizou-se por suas convicções esquerdistas e pelo teor político que sempre imprimiu a seus filmes.
Exemplos disso são "Terra e Liberdade" (1995), que tratou da Guerra Civil Espanhola, e "Ventos da Liberdade" (2006), sobre o enfrentamento entre rebeldes irlandeses e tropas britânicas, em 1920 -produção que lhe rendeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Mesmo tendo começado sua militância antes do período Thatcher, foi durante esses anos que suas preocupações com as questões sociais da Inglaterra afloraram. Desempregados, sindicalistas e sem-teto passaram a ser tema de seus programas para TV e filmes.
Hoje, Loach segue crítico ao legado thatcherista. Continua achando que "tudo o que ela fez foi muito ruim para o país".
Na opinião do cineasta, a pior transformação pela qual a Inglaterra passou no período foi a perda do espírito de colaboração que havia no pós-guerra para dar lugar a um "individualismo capitalista", disse, em entrevista à Folha, por telefone.
Nos anos 80, Loach teve alguns programas de TV impedidos de irem ao ar. Entre eles, um documentário sobre as dificuldades de líderes de sindicatos para conseguir armar protestos, "A Question of Leadership" (uma questão de liderança) e outro sobre a greve dos mineradores de carvão, "Which Side Are You On? (de que lado você está?)".
"Obviamente não sofri uma censura explícita, mas as emissoras foram pressionadas para não exibi-los. E isso só foi possível porque todos estávamos mais vulneráveis. Ela tinha conseguido diluir esforços e protestos coletivos."
Filho de operários e membro do Partido Trabalhista desde os anos 60, Loach abandonou-o em meados da década de 90. Hoje, critica os líderes que reconheceram coisas positivas do thatcherismo, como o ministro Peter Mandelson e o ex-premiê Tony Blair. "Quando dizem que herdaram algo dela, estão falando a verdade. O problema é que afirmam isso quase comemorando, quando essa herança foi, na verdade, ruim."
Para ele, Thatcher desvalorizou o trabalho e, por consequência, piorou a vida dos que dele dependiam. "Do ponto de vista dela, valorizar o capital era o caminho, e é verdade que fortaleceu a economia. Mas o preço foi empobrecer os operários e a população em geral."
No que diz respeito ao cinema, Loach acha que a era foi negativa por fazer da Inglaterra um país menos variado culturalmente. "Por que vemos cada vez menos filmes da América do Sul, da Ásia e do resto do mundo? Porque cada vez mais só temos grandes cadeias comerciais de cinema no mercado. E isso só vai piorar. A Inglaterra era rica em promover e consumir coisas de fora. Começamos a nos fechar com ela e seguimos nessa trilha." (SC)


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