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Para o cineasta Ken Loach, "tudo o que ela fez foi ruim"
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta britânico Ken
Loach, 72, celebrizou-se por
suas convicções esquerdistas e
pelo teor político que sempre
imprimiu a seus filmes.
Exemplos disso são "Terra e
Liberdade" (1995), que tratou
da Guerra Civil Espanhola, e
"Ventos da Liberdade" (2006),
sobre o enfrentamento entre
rebeldes irlandeses e tropas
britânicas, em 1920 -produção
que lhe rendeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Mesmo tendo começado sua
militância antes do período
Thatcher, foi durante esses
anos que suas preocupações
com as questões sociais da Inglaterra afloraram. Desempregados, sindicalistas e sem-teto
passaram a ser tema de seus
programas para TV e filmes.
Hoje, Loach segue crítico ao
legado thatcherista. Continua
achando que "tudo o que ela fez
foi muito ruim para o país".
Na opinião do cineasta, a pior
transformação pela qual a Inglaterra passou no período foi a
perda do espírito de colaboração que havia no pós-guerra para dar lugar a um "individualismo capitalista", disse, em entrevista à Folha, por telefone.
Nos anos 80, Loach teve alguns programas de TV impedidos de irem ao ar. Entre eles,
um documentário sobre as dificuldades de líderes de sindicatos para conseguir armar protestos, "A Question of Leadership" (uma questão de liderança) e outro sobre a greve dos
mineradores de carvão,
"Which Side Are You On? (de
que lado você está?)".
"Obviamente não sofri uma
censura explícita, mas as emissoras foram pressionadas para
não exibi-los. E isso só foi possível porque todos estávamos
mais vulneráveis. Ela tinha
conseguido diluir esforços e
protestos coletivos."
Filho de operários e membro
do Partido Trabalhista desde
os anos 60, Loach abandonou-o em meados da década de 90.
Hoje, critica os líderes que reconheceram coisas positivas do
thatcherismo, como o ministro
Peter Mandelson e o ex-premiê
Tony Blair. "Quando dizem
que herdaram algo dela, estão
falando a verdade. O problema
é que afirmam isso quase comemorando, quando essa herança foi, na verdade, ruim."
Para ele, Thatcher desvalorizou o trabalho e, por consequência, piorou a vida dos que
dele dependiam. "Do ponto de
vista dela, valorizar o capital
era o caminho, e é verdade que
fortaleceu a economia. Mas o
preço foi empobrecer os operários e a população em geral."
No que diz respeito ao cinema, Loach acha que a era foi
negativa por fazer da Inglaterra
um país menos variado culturalmente. "Por que vemos cada
vez menos filmes da América
do Sul, da Ásia e do resto do
mundo? Porque cada vez mais
só temos grandes cadeias comerciais de cinema no mercado. E isso só vai piorar. A Inglaterra era rica em promover e
consumir coisas de fora. Começamos a nos fechar com ela e
seguimos nessa trilha."
(SC)
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