São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Brasil minimiza elo do EPP no caso de senador baleado

Lula é informado que autoria do atentado no Paraguai é de criminosos ligados ao narcotráfico

Brasileiro, que se encontra hoje com colega paraguaio na fronteira, deve anunciar ajuda econômica, política e policial ao país vizinho

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Os relatórios da inteligência brasileira quase descartam que a autoria do ataque ao senador Robert Acevedo no Paraguai, no qual morreram seu motorista e seu segurança, tenha sido do EPP (Exército do Povo Paraguaio), descrito como um grupo pequeno -no máximo cem pessoas-, cujas ações estariam restritas a sequestros, não chegando a assassinatos.
Pelas informações que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da PF (Polícia Federal), o atentado foi promovido por criminosos comuns, ligados ao narcotráfico dos dois países e interessados em desestabilizar o governo Fernando Lugo.
Entre os suspeitos, há quatro brasileiros, supostamente membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), que estão presos no Paraguai.
Lula e Lugo se encontram hoje no olho do furacão: na fronteira dos dois países, entre Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e Pedro Juan Caballero. O prefeito da cidade paraguaia é irmão do senador baleado.
A maior preocupação do Planalto e do Itamaraty não é com o EPP -cuja atuação motivou o estado de exceção decretado no país vizinho no último dia 24.
A avaliação é que não há provas de relações financeiras e operacionais entre essa organização paraguaia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O que há, até agora, são trocas de e-mails classificados como "de simpatia, praticamente sociais" entre militantes dos dois grupos.
Esses e-mails constam da documentação levantada pelos órgãos de segurança colombianos a partir dos computadores do líder das Farc, Raul Reyes, morto pelo Exército da Colômbia em solo equatoriano.
Para o governo brasileiro, a importância desse material é muito relativa e, além disso, não há ali nenhuma prova concreta da conexão Farc-EPP. Lula, que atua sistematicamente a favor dos governos da região e contra as crises políticas do Cone Sul, quer oferecer dois tipos de ajuda a Lugo -que é considerado pelo governo brasileiro uma esperança positiva para o Paraguai, mas que enfrenta sérios problemas de governabilidade.
A primeira é econômica, para a construção de uma linha de transmissão de energia entre a hidrelétrica de Itaipu e Assunção. A outra, política e policial, de reforço na fronteira, para evitar que o dinheiro do tráfico circule livremente na região.
Mas ele viaja disposto a não atender um pedido que certamente ouvirá: a revisão do refúgio que o Brasil deu aos paraguaios Victor Colmán, Juan Arrom e Anúncio Martí, que o Paraguai acusa de serem do EPP e responsáveis por sequestros lá.

Como Lula, Lugo enfrenta obstáculo no Congresso

www.folha.com.br/101227


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