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Divisões bloqueiam acordo amplo sobre TNP
Conferência de revisão do tratado começa hoje em meio a diferenças entre países com e sem a bomba
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar da ofensiva de pressão e relações públicas lançada
por Barack Obama desde o seu
discurso de Praga, em abril de
2009, divergências persistentes entre países armados e não
armados, e entre as próprias
potências atômicas, bloqueiam
um acordo ambicioso na conferência de revisão do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que começa hoje na sede
da ONU, em Nova York.
Após o americano discursar
sobre um mundo sem armas
atômicas, num futuro indeterminado, EUA e Rússia renovaram o tratado Start, que reduzirá seus arsenais de longo alcance. Os EUA também lançaram
uma nova estratégia nuclear,
que limita as condições para a
ativação da bomba.
A Casa Branca afirma que essas iniciativas devem levar os
países não armados a concessões na outra ponta do TNP, a
da não proliferação.
EUA, países europeus, Austrália e Nova Zelândia propõem
que inspeções mais intrusivas,
previstas no Protocolo Adicional da Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA), se
tornem obrigatórias. Com a
Rússia, querem apoio a bancos
internacionais de combustível
nuclear, visando evitar que
mais países dominem tecnologia que os coloque no limiar da
bomba, mesmo sem produzi-la.
O Brasil faz reparos às propostas, tidas como tentativas
de barrar o desenvolvimento
tecnológico dos países não armados. Assim, deverá unir-se
ao grupo de 118 países do Movimento dos Não Alinhados, cujo
interesse na barganha são medidas concretas para a implantação de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio -o que minaria a superioridade bélica de Israel, aliado dos
EUA e potência fora do TNP-,
e poria fim à tensão provocada
pelo programa nuclear do Irã.
Para a maioria dos países não
armados, EUA e Rússia (com
95% dos arsenais nucleares)
ainda estão distantes dos "13
passos", parâmetros mínimos
de compromissos com o desarme. Obama, por exemplo, declarou que pressionará o Senado americano a ratificar o Tratado de Proibição de Testes
Nucleares (CBTB, em inglês),
mas há ceticismo sobre se conseguirá os votos necessários.
Outro acordo básico, o Tratado de Corte da Produção de
Material Físsil (FMCT, em inglês), patina na Conferência de
Desarmamento, órgão da ONU.
Embora o Paquistão -que não
faz parte do TNP-seja apontado como o vilão das negociações, há resistência de outros
países armados.
A China, segundo relatório
recém-divulgado pelo Instituto
Internacional de Pesquisas da
Paz de Estocolmo, avalia que o
FMCT não será efetivo se não
prever também a redução dos
atuais estoques de material para produção da bomba -medida à qual EUA e Rússia, com as
maiores reservas, se opõem.
As potências reconhecidas
pelo TNP -EUA, Rússia, China, França e Reino Unido-cultivam entre si desconfianças
que tornam difícil prever se farão uma declaração conjunta
na conferência de revisão.
China e Rússia rejeitam o
projeto dos EUA de construção
de novos mísseis antibalísticos,
que reforçariam a ampla vantagem americana em defesa convencional. A China insiste em
que Rússia e EUA retirem seus
mísseis de posições de alerta e
propõe um tratado contra a militarização do espaço.
Nada disso, porém, reduzirá
pressões sobre Brasil, Argentina, África do Sul e outros países
sem a bomba, mas que dominam tecnologias sensíveis.
Leia íntegra da entrevista
com Celso Amorim
www.folha.com.br/101226
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