São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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Americanos são acusados de matar crianças no Iraque

Investigação das Forças Armadas conclui que soldados agiram corretamente

Imagens divulgadas pela BBC mostram 11 corpos enfileirados após suposto confronto com integrante da Al Qaeda em Ishaqi


DA REDAÇÃO

Imagens dos corpos de 11 civis iraquianos -incluindo cinco crianças e quatro mulheres-, que teriam sido vítimas de um massacre, devem aumentar os estragos causados pela recente revelação de que soldados americanos, segundo conclusão das próprias Forças Armadas dos EUA, mataram 24 civis desarmados numa ação em novembro.
Trechos de um vídeo divulgados anteontem pela rede britânica BBC mostram uma fileira de corpos de adultos e crianças que apresentam, segundo a BBC, ferimentos claramente provocados por tiros. As imagens foram feitas em Ishaqi (100 km ao norte de Bagdá), em 15 de março, e, comparadas a outras do mesmo dia, mostraram-se autênticas, diz a rede.
As Forças Armadas dos EUA afirmam que uma investigação militar a respeito concluiu que os soldados eram inocentes e agiram "seguindo corretamente as regras de procedimento".
O secretário americano de Defesa, Donald Rumsfeld, disse saber "que 99,9% da conduta das nossas forças são exemplares. Mas também sabemos que, em conflitos, coisas que não deveriam acontecer acontecem". O secretário disse ainda que os soldados "não são treinados para agir assim [matar civis]".

Versões
No dia da ação em Ishaqi, segundo informações dadas pelos militares na época, houve um confronto entre os marines e um suposto integrante da Al Qaeda. Em meio à intensa troca de tiros, afirmavam, uma casa desabou, matando o suspeito, duas mulheres e uma criança.
A polícia iraquiana, porém, acusa os americanos de terem assassinado 11 civis e, na seqüência, terem derrubado a edificação para simular que as mortes haviam ocorrido num desabamento. As imagens obtidas pela BBC -entregues, segundo a rede, por um grupo árabe sunita contrário à ocupação- reforçam esta versão.
Imagens feitas pela AP Television News no dia mostram ao menos quatro crianças e um adulto com ferimentos profundos na cabeça. Uma das crianças tem claramente um buraco na lateral do crânio.
Em comunicado divulgado em Bagdá, o major general William Caldwell, porta-voz das Forças Armadas dos EUA no Iraque, afirma que "alegações de que as tropas executaram uma família que estava na segurança de sua casa e então esconderam o crime são absolutamente falsas".
O comunicado admite, porém, que houve mais de quatro mortes: "Possivelmente mais de nove mortes acidentais resultaram da ação, mas não foi possível determinar o número preciso por causa dos desabamentos".

Acusações
A acusação aos militares junta-se às conclusões de uma investigação das Forças Armadas, ainda não divulgadas oficialmente, que apontam o assassinato de 24 civis em Haditha, em novembro de 2005.
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, voltou a se manifestar sobre as mortes em Haditha, qualificando-as de "massacre". A Casa Branca disse compartilhar as preocupações do primeiro-ministro.
Também ontem, a CIA confirmou que uma nova gravação de áudio, atribuída ao líder da Al Qaeda no Iraque, Abu Musab al Zarqawi, é autêntica. Nela, Zarqawi exorta os árabes sunitas a rejeitar qualquer tentativa de reconciliação com os árabes xiitas, acusando-os de estupros e assassinatos.

Processo
Um iraquiano que teve a irmã grávida e a mãe mortas por soldados anteontem, em Samarra, alvejadas quando o carro em que estavam trafegava numa estrada fechada pelos americanos, anunciou que vai entrar com uma ação contra as Forças Armadas dos EUA. Eles se dirigiam a um hospital para que a mulher desse à luz e, segundo seu irmão, nada indicava a proibição de passagem.
Antes da nova onda de denúncias, as críticas à ação no Iraque já haviam sido impulsionadas pelas imagens de tortura na prisão de Abu Ghraib, que vieram à tona em 2004.
Sobre este caso, os militares informaram ontem que o sargento Santos Cardona, 32, 11º militar americano condenado pelos abusos, não ficará detido. Sua pena foi convertida em trabalhos pesados e desconto de US$ 7.200 em sua remuneração do próximo ano.
Para tentar diminuir os abusos, o comandante-geral das tropas no Iraque, general George Casey, já ordenara anteontem que os soldados americanos e os das tropas aliadas passassem por um treinamento para melhorar sua "conduta".


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