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Americanos são acusados de matar crianças no Iraque
Investigação das Forças Armadas conclui que soldados agiram corretamente
Imagens divulgadas pela BBC mostram 11 corpos enfileirados após suposto confronto com integrante da Al Qaeda em Ishaqi
DA REDAÇÃO
Imagens dos corpos de 11 civis iraquianos -incluindo cinco crianças e quatro mulheres-, que teriam sido vítimas
de um massacre, devem aumentar os estragos causados
pela recente revelação de que
soldados americanos, segundo
conclusão das próprias Forças
Armadas dos EUA, mataram 24
civis desarmados numa ação
em novembro.
Trechos de um vídeo divulgados anteontem pela rede britânica BBC mostram uma fileira
de corpos de adultos e crianças
que apresentam, segundo a
BBC, ferimentos claramente
provocados por tiros. As imagens foram feitas em Ishaqi
(100 km ao norte de Bagdá), em
15 de março, e, comparadas a
outras do mesmo dia, mostraram-se autênticas, diz a rede.
As Forças Armadas dos EUA
afirmam que uma investigação
militar a respeito concluiu que
os soldados eram inocentes e
agiram "seguindo corretamente as regras de procedimento".
O secretário americano de
Defesa, Donald Rumsfeld, disse
saber "que 99,9% da conduta
das nossas forças são exemplares. Mas também sabemos que,
em conflitos, coisas que não deveriam acontecer acontecem".
O secretário disse ainda que os
soldados "não são treinados para agir assim [matar civis]".
Versões
No dia da ação em Ishaqi, segundo informações dadas pelos
militares na época, houve um
confronto entre os marines e
um suposto integrante da Al
Qaeda. Em meio à intensa troca
de tiros, afirmavam, uma casa
desabou, matando o suspeito,
duas mulheres e uma criança.
A polícia iraquiana, porém,
acusa os americanos de terem
assassinado 11 civis e, na seqüência, terem derrubado a
edificação para simular que as
mortes haviam ocorrido num
desabamento. As imagens obtidas pela BBC -entregues, segundo a rede, por um grupo
árabe sunita contrário à ocupação- reforçam esta versão.
Imagens feitas pela AP Television News no dia mostram ao
menos quatro crianças e um
adulto com ferimentos profundos na cabeça. Uma das crianças tem claramente um buraco
na lateral do crânio.
Em comunicado divulgado
em Bagdá, o major general William Caldwell, porta-voz das
Forças Armadas dos EUA no
Iraque, afirma que "alegações
de que as tropas executaram
uma família que estava na segurança de sua casa e então esconderam o crime são absolutamente falsas".
O comunicado admite, porém, que houve mais de quatro
mortes: "Possivelmente mais
de nove mortes acidentais resultaram da ação, mas não foi
possível determinar o número
preciso por causa dos desabamentos".
Acusações
A acusação aos militares junta-se às conclusões de uma investigação das Forças Armadas, ainda não divulgadas oficialmente, que apontam o assassinato de 24 civis em Haditha, em novembro de 2005.
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, voltou a se
manifestar sobre as mortes em
Haditha, qualificando-as de
"massacre". A Casa Branca disse compartilhar as preocupações do primeiro-ministro.
Também ontem, a CIA confirmou que uma nova gravação
de áudio, atribuída ao líder da
Al Qaeda no Iraque, Abu Musab
al Zarqawi, é autêntica. Nela,
Zarqawi exorta os árabes sunitas a rejeitar qualquer tentativa
de reconciliação com os árabes
xiitas, acusando-os de estupros
e assassinatos.
Processo
Um iraquiano que teve a irmã
grávida e a mãe mortas por soldados anteontem, em Samarra,
alvejadas quando o carro em
que estavam trafegava numa
estrada fechada pelos americanos, anunciou que vai entrar
com uma ação contra as Forças
Armadas dos EUA. Eles se dirigiam a um hospital para que a
mulher desse à luz e, segundo
seu irmão, nada indicava a proibição de passagem.
Antes da nova onda de denúncias, as críticas à ação no
Iraque já haviam sido impulsionadas pelas imagens de tortura na prisão de Abu Ghraib,
que vieram à tona em 2004.
Sobre este caso, os militares
informaram ontem que o sargento Santos Cardona, 32, 11º
militar americano condenado
pelos abusos, não ficará detido.
Sua pena foi convertida em trabalhos pesados e desconto de
US$ 7.200 em sua remuneração do próximo ano.
Para tentar diminuir os abusos, o comandante-geral das
tropas no Iraque, general George Casey, já ordenara anteontem que os soldados americanos e os das tropas aliadas passassem por um treinamento
para melhorar sua "conduta".
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