|
Próximo Texto | Índice
Brasil cria grupo para resolver caso Cuba
Equipe de trabalho sobre suspensão de ilha da OEA tentava solução intermediária entre as propostas dos EUA e de bloco chavista
Resolução debatida previa
revogação da medida de 62
que baniu a ilha, sem, no
entanto, reincorporá-la
automaticamente ao órgão
Eduardo Verdugo/Associated Press
|
|
Hillary Clinton (à esq.) e o presidente Zelaya (apontando) com chanceleres e presidentes da OEA
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA (HONDURAS)
Depois de uma litania de discursos e declarações que pediam a revogação da decisão de
1962 que suspendeu Cuba da
OEA (Organização dos Estados
Americanos), os EUA concordaram em participar de um
grupo de trabalho formado pelos chanceleres de dez países
para discutir o tema. As reunião seguia até fechamento
desta edição.
Às 1h (hora de Brasília), após
seis horas de reunião, os negociadores estavam perto de chegar a um consenso em torno de
uma resolução semelhante à
defendida pelo Brasil, que previa o anulação da decisão de
1962, sem, no entanto, reintegrar automaticamente o país
comunista à organização.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, anunciou que participaria do grupo
de trabalho, proposto pelo
chanceler brasileiro, Celso
Amorim, logo na abertura da
Assembleia Geral anual da
OEA, ontem em San Pedro Sula, no nordeste de Honduras.
Uma equipe anterior, integrada
por embaixadores na organização, não havia conseguido texto
que pudesse ser aceito pelos 34
países-membros.
Hillary deixou a assembleia
ontem à noite, rumo ao Egito,
anunciando não ter chegado a
um consenso. O chefe da diplomacia dos EUA para a América
Latina e futuro embaixador no
Brasil, Thomas Shannon, assumiu, então, as negociações no
grupo, do qual faziam parte
também Venezuela, Canadá,
Jamaica, Nicarágua, México,
Belize, Honduras e Argentina.
Entre os integrantes, havia
duas posições que, na discussão
que precedeu a assembleia, pareciam irreconciliáveis.
Os EUA concordaram em
abrir discussão interna na OEA
sobre a questão cubana, mas
exigiam que, antes de qualquer
decisão sobre o ato de 1962, Cuba se adaptasse às regras atuais
da organização, em termos de
compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Já Venezuela e Nicarágua, à
frente do bloco de seis países da
Alba (Aliança Bolivariana para
as Américas), defendiam uma
resolução que revogasse o ato
de 1962, pedisse desculpas a
Cuba e não estabelecesse
quaisquer precondições para a
volta do país à OEA -o governo
cubano diz que não quer voltar.
Conciliação
Diante da polarização, a resolução que ganhava espaço era a
proposta por Brasil e outros
países sul-americanos e caribenhos, que vinha sendo negociando desde a semana passada. O texto de conciliação propõe duas etapas: a anulação da
decisão da Guerra Fria, e um
processo posterior para a eventual reintegração cubana.
A ideia era separar o fim de
uma decisão anacrônica -Cuba foi suspensa sob a acusação
de receber ajuda militar de "potências comunistas extracontinentais" (a extinta URSS) - da
discussão sobre a adequação
cubana aos atuais documentos
da OEA, que aprovou em 2001
uma Carta Democrática.
A discussão sobre Cuba, que
Amorim classificara como
"questão central, pela qual se
recordará o encontro de San
Pedro Sula", poderia ter ainda
três desfechos na Assembleia
Geral, que termina hoje:
1) Uma solução conciliatória.
2) Uma votação em plenário sobre a revogação do ato de 1962,
na qual os EUA possivelmente
sairiam derrotados.
3) O adiamento do problema,
com uma declaração dos chanceleres da organização se comprometendo a manter a discussão do tema cubano.
Mais cedo, o presidente hondurenho, Manuel Zelaya, pressionou: "Não tenho dúvida de
que, por maioria ou por consenso, vamos derrotar a resolução de 1962. Hoje EUA, Brasil e
outros países têm relações com
a China, com a Rússia. As causas da expulsão de Cuba não
existem mais".
Zelaya chamou de "dia de infâmia" o 31 de janeiro de 1962,
quando foi votada a suspensão
cubana, e afirmou que a continuidade da existência da OEA
estaria ameaçada se o problema não fosse resolvido.
Ao lado dele, o presidente da
Nicarágua, Daniel Ortega, lembrou que foi a ditadura de
Anastasio Somoza Debayle, em
seu país, que votou pela expulsão de Cuba, assim como outras
"tiranias que eram instrumentos da política imperialista dos
EUA". O paraguaio Fernando
Lugo, o terceiro chefe de Estado presente, defendeu a "busca
da construção de consenso, um
desafio para nosso continente".
Próximo Texto: Frases Índice
|