São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

Próximo Texto | Índice

Brasil cria grupo para resolver caso Cuba

Equipe de trabalho sobre suspensão de ilha da OEA tentava solução intermediária entre as propostas dos EUA e de bloco chavista

Resolução debatida previa revogação da medida de 62 que baniu a ilha, sem, no entanto, reincorporá-la automaticamente ao órgão


Eduardo Verdugo/Associated Press
Hillary Clinton (à esq.) e o presidente Zelaya (apontando) com chanceleres e presidentes da OEA

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA (HONDURAS)

Depois de uma litania de discursos e declarações que pediam a revogação da decisão de 1962 que suspendeu Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos), os EUA concordaram em participar de um grupo de trabalho formado pelos chanceleres de dez países para discutir o tema. As reunião seguia até fechamento desta edição.
Às 1h (hora de Brasília), após seis horas de reunião, os negociadores estavam perto de chegar a um consenso em torno de uma resolução semelhante à defendida pelo Brasil, que previa o anulação da decisão de 1962, sem, no entanto, reintegrar automaticamente o país comunista à organização.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, anunciou que participaria do grupo de trabalho, proposto pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, logo na abertura da Assembleia Geral anual da OEA, ontem em San Pedro Sula, no nordeste de Honduras. Uma equipe anterior, integrada por embaixadores na organização, não havia conseguido texto que pudesse ser aceito pelos 34 países-membros.
Hillary deixou a assembleia ontem à noite, rumo ao Egito, anunciando não ter chegado a um consenso. O chefe da diplomacia dos EUA para a América Latina e futuro embaixador no Brasil, Thomas Shannon, assumiu, então, as negociações no grupo, do qual faziam parte também Venezuela, Canadá, Jamaica, Nicarágua, México, Belize, Honduras e Argentina.
Entre os integrantes, havia duas posições que, na discussão que precedeu a assembleia, pareciam irreconciliáveis.
Os EUA concordaram em abrir discussão interna na OEA sobre a questão cubana, mas exigiam que, antes de qualquer decisão sobre o ato de 1962, Cuba se adaptasse às regras atuais da organização, em termos de compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Já Venezuela e Nicarágua, à frente do bloco de seis países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), defendiam uma resolução que revogasse o ato de 1962, pedisse desculpas a Cuba e não estabelecesse quaisquer precondições para a volta do país à OEA -o governo cubano diz que não quer voltar.

Conciliação
Diante da polarização, a resolução que ganhava espaço era a proposta por Brasil e outros países sul-americanos e caribenhos, que vinha sendo negociando desde a semana passada. O texto de conciliação propõe duas etapas: a anulação da decisão da Guerra Fria, e um processo posterior para a eventual reintegração cubana.
A ideia era separar o fim de uma decisão anacrônica -Cuba foi suspensa sob a acusação de receber ajuda militar de "potências comunistas extracontinentais" (a extinta URSS) - da discussão sobre a adequação cubana aos atuais documentos da OEA, que aprovou em 2001 uma Carta Democrática.
A discussão sobre Cuba, que Amorim classificara como "questão central, pela qual se recordará o encontro de San Pedro Sula", poderia ter ainda três desfechos na Assembleia Geral, que termina hoje:
1) Uma solução conciliatória. 2) Uma votação em plenário sobre a revogação do ato de 1962, na qual os EUA possivelmente sairiam derrotados.
3) O adiamento do problema, com uma declaração dos chanceleres da organização se comprometendo a manter a discussão do tema cubano.
Mais cedo, o presidente hondurenho, Manuel Zelaya, pressionou: "Não tenho dúvida de que, por maioria ou por consenso, vamos derrotar a resolução de 1962. Hoje EUA, Brasil e outros países têm relações com a China, com a Rússia. As causas da expulsão de Cuba não existem mais".
Zelaya chamou de "dia de infâmia" o 31 de janeiro de 1962, quando foi votada a suspensão cubana, e afirmou que a continuidade da existência da OEA estaria ameaçada se o problema não fosse resolvido.
Ao lado dele, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, lembrou que foi a ditadura de Anastasio Somoza Debayle, em seu país, que votou pela expulsão de Cuba, assim como outras "tiranias que eram instrumentos da política imperialista dos EUA". O paraguaio Fernando Lugo, o terceiro chefe de Estado presente, defendeu a "busca da construção de consenso, um desafio para nosso continente".


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.