São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2010

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"Era um navio de ódio", diz Netanyahu

Segundo premiê, soldados de Israel enfrentaram "grupo radical e violento" formado por "apoiadores do terror"

Governante afirma que bloqueio marítimo a Gaza é necessário para evitar que faixa vire "porto iraniano"


Jim Hollander/Reuters
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, defende ação militar contra frota de ativistas que matou nove em discurso de seu gabinete, em Jerusalém

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, rebateu ontem a onda mundial de condenação a seu país pela ação militar contra uma frota humanitária que tentava romper o bloqueio marítimo à faixa de Gaza.
Na interceptação, nove ativistas foram mortos e mais de 30 ficaram feridos em confrontos com soldados israelenses. Netanyahu defendeu o bloqueio dizendo que ele é necessário para barrar as tentativas iranianas de armar o grupo extremista palestino Hamas, que controla Gaza.
"Vamos aos fatos: o Hamas continua a se armar. O Irã continua a contrabandear armas para Gaza", disse.
Para o premiê, "Israel enfrenta um ataque internacional de hipocrisia" enquanto tenta impedir que a faixa de Gaza se transforme numa base iraniana.
Esse é o objetivo, disse ele, da ordem de inspecionar todas as embarcações que se aproximam do território.
"Se não fizermos isso, haverá um porto iraniano em Gaza, e o significado será destrutivo para todo cidadão de Israel", afirmou.
Israel tem sido acusado de ter usado força excessiva e de ter violado a lei internacional ao abordar os navios fora de suas águas territoriais. O governo diz, porém, que é permitido empreender uma ação preventiva quando há suspeita de atividade hostil.
Para Netanyahu, a reação agressiva dos militantes à abordagem dos soldados é uma prova de que sua intenção não era humanitária. O premiê disse que Israel se ofereceu para transferir os suprimentos a Gaza, mas os ativistas recusaram e preferiram desafiar o bloqueio.

CONFRONTO
"Nossos soldados encontraram um grupo radical e violento que apoiou grupos terroristas internacionais e hoje apoia o grupo terrorista Hamas", afirmou. "Não era um navio de amor. Era um navio de ódio. Não era uma frota de paz, era uma frota de apoiadores do terror."
A frota de seis navios interceptada na madrugada de segunda levava 10 mil toneladas de suprimentos e mais de 700 militantes que tentavam romper o bloqueio naval à faixa de Gaza, imposto por Israel em 2007, após a tomada do território pelo Hamas.
Os primeiros ativistas deportados ontem foram recebidos como heróis no Líbano e no Kuait. Eles acusaram os soldados israelenses de usar força de forma indiscriminada e de abrir fogo contra uma tripulação desarmada.
Para Netanyahu, porém, ficou claro pelas conversas que teve com soldados que participaram da operação e pelas imagens feitas a bordo que muitos dos ativistas premeditaram a violência.
"Atacaram os soldados com facas, porretes, roubaram suas armas e atiraram neles. Esses são pacifistas?", indagou o premiê.
O pronunciamento de Netanyahu ocorreu em meio a intenso desconforto no governo não só com o resultado da ação mas com a forma com que foi decidida. O principal alvo de pressão é o ministro Ehud Barak (Defesa).
No Parlamento, a tensão se transferiu para a conturbada relação entre deputados judeus e árabes. Hanin Zoabi, deputada árabe de Nazaré, estava no navio onde ocorreram as mortes e questionou a versão israelense.
"Estava claro pelo tamanho do comando enviado que o objetivo não era interceptar a frota, mas causar o maior número de baixas para intimidar futuras iniciativas semelhantes", disse Zoabi.
Alguns deputados da direita israelense tentaram impedir que ela continuasse o discurso, acusando-a de traidora. Um tumulto se formou no plenário e por pouco não terminou em pancadaria.


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