São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2010

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ANÁLISE ÁSIA

Renúncia de premiê do Japão dá sobrevida ao seu partido

Saída de cena de Hatoyama pode ajudar PDJ a limitar perdas em eleição


NÃO SERÁ FÁCIL RECUPERAR ÍMPETO PERDIDO DESDE QUE OS ELEITORES CONCEDERAM AO PDJ UM MANDATO PARA MUDAR O PAÍS, EM AGOSTO DO ANO PASSADO


MURIE DICKIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

Para um partido que chegou ao poder com uma vitória esmagadora propiciada pela promessa de mudar a política japonesa, o anúncio de renúncia de Yukio Hatoyama, anteontem, depois de menos de nove meses como premiê, deve ter parecido deprimentemente familiar.
Mas a renúncia ao menos oferece ao Partido Democrata do Japão (PDJ), de Hatoyama, a oportunidade de reiniciar seu esforço para transformar a mais influente democracia do leste da Ásia.
Poucos analistas contestam que as deficiências pessoais de Hatoyama tenham sido fator decisivo na perda de apoio público à coalizão liderada pelo PDJ, especialmente devido ao fracasso de seus esforços para transferir uma base militar americana.
Nas últimas semanas, os correligionários do premiê se convenceram de que mantê-lo na liderança representava risco de derrota esmagadora para o partido na importante eleição para a Câmara Alta do Legislativo, marcada para o mês que vem.
Jeff Kingston, professor de estudos asiáticos na Universidade Temple, em Tóquio, diz que Hatoyama foi uma completa decepção. "Provou-se deficiente em todas as questões decisivas. Era evidente que ele se tornou um peso morto, e por isso era necessário que fosse ejetado."

PARTIDO
A mudança pode ajudar o partido a limitar suas perdas na eleição, que renovará metade dos 242 assentos da Câmara Alta, ajudando-o a manter uma maioria funcional no Legislativo.
Os muitos reveses sofridos por Hatoyama não podem ser interpretados como prova de que a derrota esmagadora imposta pelo PDJ ao Partido Liberal Democrata, que governou o país por décadas, não teve significado.
A renúncia dele surge no momento em que os governos locais japoneses começam a distribuir subsídios generosos às famílias com filhos pequenos, uma medida que deve elevar o consumo, além de estimular um aumento de natalidade no Japão ao aliviar as dificuldades financeiras dos pais.
Os ministros do PDJ também estão tomando providências para cumprir promessas de restringir o poder da elite burocrática do país. Sessões televisadas de revisão do Orçamento permitiram um escrutínio público sem precedentes quanto aos gastos do governo.
No entanto, não será fácil recuperar o ímpeto perdido desde que os eleitores concederam ao PDJ um abrangente mandato para mudar o país, em agosto passado.
Muito dependerá do papel desempenhado por Ichiro Ozawa, o secretário-geral do PDJ e um dos mais poderosos líderes nos bastidores da política japonesa.
Muita gente no PDJ atribui a Ozawa a culpa pelo declínio sofrido pelo partido desde que chegou ao poder.

SOMBRA
Percepções de que ele estaria influenciando, dos bastidores, as decisões do governo lançaram dúvida sobre a autoridade de Hatoyama.
Suspeitas com relação a uma transação imobiliária conduzida por uma organização ligada a Ozawa também solaparam a promessa do PDJ de mais honestidade na política, que já havia sofrido abalo quando surgiram revelações de que Hatoyama teria recebido de sua mãe verbas de campanha vultosas não declaradas.
No discurso no qual anunciou a decisão de renunciar, Hatoyama disse que a renúncia de Ozawa ao posto de secretário-geral do partido era essencial para que o PDJ recuperasse sua reputação como partido da política limpa.
No entanto, é provável que Ozawa lute por manter sua influência, e alguns temem que ele provoque um racha no partido como já fez em outras legendas, durante sua longa carreira política.
Gerry Curtis, um veterano observador da política japonesa, diz que "ninguém que conheça Ozawa imaginaria que ele manterá o silêncio e se retirará de cena".
Masatoshi Honda, do Instituto Nacional de Estudos Políticos Pós-Graduados japonês, diz que o ganho de popularidade que seria propiciado por uma mudança na liderança pode ser diluído caso o público creia que Ozawa continua dando as cartas.
"Se a sombra dele persistir, o apoio ao partido não será recuperado", diz Honda.


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