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ANÁLISE ÁSIA
Renúncia de premiê do Japão dá sobrevida ao seu partido
Saída de cena de Hatoyama pode ajudar PDJ a limitar perdas em eleição
NÃO SERÁ FÁCIL RECUPERAR ÍMPETO PERDIDO DESDE QUE OS ELEITORES CONCEDERAM AO PDJ UM MANDATO PARA MUDAR O PAÍS, EM AGOSTO DO ANO PASSADO
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MURIE DICKIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO
Para um partido que chegou ao poder com uma vitória esmagadora propiciada
pela promessa de mudar a
política japonesa, o anúncio
de renúncia de Yukio Hatoyama, anteontem, depois de
menos de nove meses como
premiê, deve ter parecido deprimentemente familiar.
Mas a renúncia ao menos
oferece ao Partido Democrata do Japão (PDJ), de Hatoyama, a oportunidade de reiniciar seu esforço para transformar a mais influente democracia do leste da Ásia.
Poucos analistas contestam que as deficiências pessoais de Hatoyama tenham
sido fator decisivo na perda
de apoio público à coalizão
liderada pelo PDJ, especialmente devido ao fracasso de
seus esforços para transferir
uma base militar americana.
Nas últimas semanas, os
correligionários do premiê se
convenceram de que mantê-lo na liderança representava
risco de derrota esmagadora
para o partido na importante
eleição para a Câmara Alta
do Legislativo, marcada para
o mês que vem.
Jeff Kingston, professor de
estudos asiáticos na Universidade Temple, em Tóquio,
diz que Hatoyama foi uma
completa decepção. "Provou-se deficiente em todas as
questões decisivas. Era evidente que ele se tornou um
peso morto, e por isso era necessário que fosse ejetado."
PARTIDO
A mudança pode ajudar o
partido a limitar suas perdas
na eleição, que renovará metade dos 242 assentos da Câmara Alta, ajudando-o a
manter uma maioria funcional no Legislativo.
Os muitos reveses sofridos
por Hatoyama não podem
ser interpretados como prova
de que a derrota esmagadora
imposta pelo PDJ ao Partido
Liberal Democrata, que governou o país por décadas,
não teve significado.
A renúncia dele surge no
momento em que os governos locais japoneses começam a distribuir subsídios generosos às famílias com filhos pequenos, uma medida
que deve elevar o consumo,
além de estimular um aumento de natalidade no Japão ao aliviar as dificuldades
financeiras dos pais.
Os ministros do PDJ também estão tomando providências para cumprir promessas de restringir o poder
da elite burocrática do país.
Sessões televisadas de revisão do Orçamento permitiram um escrutínio público
sem precedentes quanto aos
gastos do governo.
No entanto, não será fácil
recuperar o ímpeto perdido
desde que os eleitores concederam ao PDJ um abrangente
mandato para mudar o país,
em agosto passado.
Muito dependerá do papel
desempenhado por Ichiro
Ozawa, o secretário-geral do
PDJ e um dos mais poderosos
líderes nos bastidores da política japonesa.
Muita gente no PDJ atribui
a Ozawa a culpa pelo declínio sofrido pelo partido desde que chegou ao poder.
SOMBRA
Percepções de que ele estaria influenciando, dos bastidores, as decisões do governo lançaram dúvida sobre a
autoridade de Hatoyama.
Suspeitas com relação a
uma transação imobiliária
conduzida por uma organização ligada a Ozawa também solaparam a promessa
do PDJ de mais honestidade
na política, que já havia sofrido abalo quando surgiram
revelações de que Hatoyama
teria recebido de sua mãe
verbas de campanha vultosas não declaradas.
No discurso no qual anunciou a decisão de renunciar,
Hatoyama disse que a renúncia de Ozawa ao posto de secretário-geral do partido era
essencial para que o PDJ recuperasse sua reputação como partido da política limpa.
No entanto, é provável que
Ozawa lute por manter sua
influência, e alguns temem
que ele provoque um racha
no partido como já fez em outras legendas, durante sua
longa carreira política.
Gerry Curtis, um veterano
observador da política japonesa, diz que "ninguém que
conheça Ozawa imaginaria
que ele manterá o silêncio e
se retirará de cena".
Masatoshi Honda, do Instituto Nacional de Estudos
Políticos Pós-Graduados japonês, diz que o ganho de
popularidade que seria propiciado por uma mudança na
liderança pode ser diluído
caso o público creia que Ozawa continua dando as cartas.
"Se a sombra dele persistir, o apoio ao partido não será recuperado", diz Honda.
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