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Boca-de-urna não traz vencedor no México
Sem dar números, institutos de pesquisa dizem que diferença entre López Obrador e Felipe Calderón fica dentro da margem de erro
Dois levantamentos trazem esquerdista à frente, e um, conservador; resultado de pleito sem segundo turno deve sair nesta quarta-feira
Imelda Medina/Reuters
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Mulher põe voto na urna diante do vulcão Popocateptl, em San Nicolas de los Ranchos (Puebla) |
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A CIDADE DO MÉXICO
O esquerdista Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, e o
conservador Felipe Calderón,
ex-ministro da Energia do governo do presidente Vicente
Fox, estão virtualmente empatados em todas as pesquisas de
boca-de-urna realizadas ontem
no México.
Em uma inusitada decisão, os
institutos Mitovsky, IPSOS e
Mendoza y Associados não quiseram revelar os números finais das sondagens. A Folha
apurou que em duas pesquisas,
o esquerdista aparece na frente
por um ponto percentual, e na
terceira, o conservador tem 1,5
a mais. Todas têm margem de
erro entre 2 e 2,5 pontos.
O primeiro balanço da apuração seria divulgado na madrugada de hoje -mas, se as
pesquisas estiverem corretas, é
possível que o país só conheça
o sucessor de Fox na quarta.
Como não há segundo turno
e a abstenção é tradicionalmente alta, estima-se que o
próximo presidente terá sido
eleito com menos de 25% dos
votos do país. As pesquisas de
boca-de-urna também indicaram que os 500 deputados federais e os 128 senadores eleitos ontem não permitirão a nenhum partido ter maioria. E
que o Partido da Revolução
Institucional, que governou o
país por 70 anos, pela primeira
vez seria a terceira minoria em
tamanho no Congresso.
Uma intensa negociação política será necessária para o
próximo presidente conseguir
governar, sem sofrer bloqueio
incessante do Congresso -algo
que afligiu os seis anos de mandato do governo do presidente
Vicente Fox. O novo presidente
só toma posse em dezembro.
Disputa ideológica
Está em jogo o destino do segundo maior país da América
Latina, em economia (PIB de
US$ 760 bilhões, quase igual ao
do Brasil), tamanho (1.967.000
km2) e população (107 milhões
de habitantes). O maior aliado
dos EUA na região e seu terceiro maior parceiro comercial.
Cerca de 25 milhões de mexicanos vivem nos EUA.
Com as discussões sobre o
fracasso do neoliberalismo na
América Latina e as opções entre esquerdas moderadas e esquerdas mais revolucionárias,
o resultado mexicano certamente será instrumentalizado
por neoliberais ou esquerdistas, dependendo do vencedor.
Para elite, empresariado e
classe média mexicanos, o país
está em bom caminho. Os resultados do tratado de livre comércio com os EUA são positivos -ou pelo menos essa alternativa é melhor que a volta do
intervencionismo estatal prometido por Obrador.
Mas quase metade da população é pobre, a agricultura vive
uma crise e a concentração de
renda se aprofundou nos anos
de neoliberalismo. Boa parte
da rede de proteção social dos
anos dos governos do PRI foi
desmontada para o "enxugamento" do Estado. Esse eleitorado prefere a esquerda.
Sem pânico nos mercados
Em um campanha tensa e
polarizada, a prioridade foi atacar adversários e promover o
voto útil. As propostas dos dois
lados foram vagas. Apesar dos
anúncios pagos pela maior confederação de empresários do
país alertando para o "perigo do
fim da estabilidade econômica", em campanha disposta a
afetar a candidatura do esquerdista, não há pânico no país.
Obrador mudou o tom na reta final, mais moderado, dizendo que não é inimigo do empresariado. O risco-país não disparou (é o mais baixo da América
Latina, junto do Chile), nem as
bolsas de valores caíram.
"Obrador não vai fazer uma revolução, é um político maduro
e que vai buscar uma relação
mais profissional com os EUA,
defender nossos interesses",
diz Julio Solórzano, empresário cultural que faz parte da
equipe do esquerdista.
Foi a eleição mais empolgante da jovem democracia mexicana. Durante 70 anos, até
2000, o PRI dominava, e seus
caudilhos se revezavam no poder, sem alternativa. Em 2000,
com a eleição do conservador
Fox, a democracia mexicana
começou a viver a alternância.
O subcomandante Marcos,
que ficou famoso por liderar
um levante indígena em Chiapas, o Estado mais pobre do
país, promoveu ontem uma
manifestação no Zócalo, principal praça da Cidade do México. Fez campanha pela abstenção e atacou Obrador, chamando-o de "vendido para o sistema" e "aburguesado". Mas, ao
contrário de 1994, sua popularidade é mínima.
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