São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Boca-de-urna não traz vencedor no México

Sem dar números, institutos de pesquisa dizem que diferença entre López Obrador e Felipe Calderón fica dentro da margem de erro

Dois levantamentos trazem esquerdista à frente, e um, conservador; resultado de pleito sem segundo turno deve sair nesta quarta-feira


Imelda Medina/Reuters
Mulher põe voto na urna diante do vulcão Popocateptl, em San Nicolas de los Ranchos (Puebla)


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A CIDADE DO MÉXICO

O esquerdista Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, e o conservador Felipe Calderón, ex-ministro da Energia do governo do presidente Vicente Fox, estão virtualmente empatados em todas as pesquisas de boca-de-urna realizadas ontem no México.
Em uma inusitada decisão, os institutos Mitovsky, IPSOS e Mendoza y Associados não quiseram revelar os números finais das sondagens. A Folha apurou que em duas pesquisas, o esquerdista aparece na frente por um ponto percentual, e na terceira, o conservador tem 1,5 a mais. Todas têm margem de erro entre 2 e 2,5 pontos.
O primeiro balanço da apuração seria divulgado na madrugada de hoje -mas, se as pesquisas estiverem corretas, é possível que o país só conheça o sucessor de Fox na quarta.
Como não há segundo turno e a abstenção é tradicionalmente alta, estima-se que o próximo presidente terá sido eleito com menos de 25% dos votos do país. As pesquisas de boca-de-urna também indicaram que os 500 deputados federais e os 128 senadores eleitos ontem não permitirão a nenhum partido ter maioria. E que o Partido da Revolução Institucional, que governou o país por 70 anos, pela primeira vez seria a terceira minoria em tamanho no Congresso.
Uma intensa negociação política será necessária para o próximo presidente conseguir governar, sem sofrer bloqueio incessante do Congresso -algo que afligiu os seis anos de mandato do governo do presidente Vicente Fox. O novo presidente só toma posse em dezembro.

Disputa ideológica
Está em jogo o destino do segundo maior país da América Latina, em economia (PIB de US$ 760 bilhões, quase igual ao do Brasil), tamanho (1.967.000 km2) e população (107 milhões de habitantes). O maior aliado dos EUA na região e seu terceiro maior parceiro comercial. Cerca de 25 milhões de mexicanos vivem nos EUA.
Com as discussões sobre o fracasso do neoliberalismo na América Latina e as opções entre esquerdas moderadas e esquerdas mais revolucionárias, o resultado mexicano certamente será instrumentalizado por neoliberais ou esquerdistas, dependendo do vencedor.
Para elite, empresariado e classe média mexicanos, o país está em bom caminho. Os resultados do tratado de livre comércio com os EUA são positivos -ou pelo menos essa alternativa é melhor que a volta do intervencionismo estatal prometido por Obrador.
Mas quase metade da população é pobre, a agricultura vive uma crise e a concentração de renda se aprofundou nos anos de neoliberalismo. Boa parte da rede de proteção social dos anos dos governos do PRI foi desmontada para o "enxugamento" do Estado. Esse eleitorado prefere a esquerda.

Sem pânico nos mercados
Em um campanha tensa e polarizada, a prioridade foi atacar adversários e promover o voto útil. As propostas dos dois lados foram vagas. Apesar dos anúncios pagos pela maior confederação de empresários do país alertando para o "perigo do fim da estabilidade econômica", em campanha disposta a afetar a candidatura do esquerdista, não há pânico no país.
Obrador mudou o tom na reta final, mais moderado, dizendo que não é inimigo do empresariado. O risco-país não disparou (é o mais baixo da América Latina, junto do Chile), nem as bolsas de valores caíram. "Obrador não vai fazer uma revolução, é um político maduro e que vai buscar uma relação mais profissional com os EUA, defender nossos interesses", diz Julio Solórzano, empresário cultural que faz parte da equipe do esquerdista.
Foi a eleição mais empolgante da jovem democracia mexicana. Durante 70 anos, até 2000, o PRI dominava, e seus caudilhos se revezavam no poder, sem alternativa. Em 2000, com a eleição do conservador Fox, a democracia mexicana começou a viver a alternância.
O subcomandante Marcos, que ficou famoso por liderar um levante indígena em Chiapas, o Estado mais pobre do país, promoveu ontem uma manifestação no Zócalo, principal praça da Cidade do México. Fez campanha pela abstenção e atacou Obrador, chamando-o de "vendido para o sistema" e "aburguesado". Mas, ao contrário de 1994, sua popularidade é mínima.


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