São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Morales tem vitória relativa na Bolívia

Presidente obtém maior bancada na Assembléia Constituinte e rejeição das autonomias departamentais em referendo

Com 52,5% dos legisladores que redigirão Carta, partido do governo terá de negociar com oposição por consenso, mas poderá ditar a agenda


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

O presidente boliviano, Evo Morales, conseguiu uma relativa vitória ontem no referendo sobre o aumento da autonomia dos departamentos e na eleição da Assembléia Constituinte, enquanto a oposição demonstrou força com uma significativa votação em Santa Cruz e ao impedir que os governistas elegessem mais de dois terços dos que redigirão a nova Constituição, aponta projeção da TV ATB baseada na apuração parcial de todas as zonas eleitorais.
A resposta "não", defendida por Morales, obteve 56,2% dos votos válidos, contra 43,8% do "sim", cuja campanha foi comandada por lideranças do rico departamento (Estado) de Santa Cruz e pela agremiação oposicionista de direita Podemos (Poder Democrático e Social).
O referendo consolida a divisão entre os cinco departamentos do altiplano, liderados por La Paz, onde venceu o "não", e os quatro departamentos do leste do país, que apoiaram o "sim", segundo a projeção.
Os resultados foram comemorados pelos dois lados. À noite, Morales disse que "aqui, ganhou o "não", que sabia o povo boliviano, que saiba o mundo inteiro". "Este resultado nos consolida como governo e como partido", afirmou.
"Hoje, o centralismo morreu", discursou pouco antes o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, a milhares de simpatizantes. "Proclamo o nascimento da autonomia no país."

Pequena maioria
Na eleição dos 255 membros da nova Assembléia Constituinte, o MAS (Movimento ao Socialismo) de Morales confirmou o favoritismo ao eleger 134 candidatos, contra 64 de Podemos (Poder Democrático e Social), principal agremiação oposicionista. Em terceiro lugar, ficou a Unidade Nacional, também de oposição, com 10, segundo a projeção da TV ATB.
Confirmados esses resultados, o MAS terá 52,5% da Assembléia Constituinte, que será inaugurada em 6 de agosto e funcionará na cidade de Sucre, no altiplano boliviano. Com isso, o partido governista não conseguiu o objetivo declarado de eleger dois terços dos constituintes, o que lhe daria o poder de aprovar matéria constitucional sem votos da oposição.
"A composição da Assembléia gera um equilíbrio de poder no país no qual o MAS terá confrontações difíceis para governar", disse à Folha o analista político Franklin Pareja. "Essa margem do MAS lhe dá a capacidade de estabelecer a agenda e o ritmo do debate na Assembléia, mas a pluralidade o obrigará a buscar consenso."
"No referendo, os resultados mostram que o discurso do governo caiu por terra, pois não apenas as famílias ricas de Santa Cruz optaram pelo "sim", mas toda a região votou em favor da autonomia", afirmou Pareja.
Para o analista Carlos Cordero, o resultado faz com que o governo Morales seja obrigado a lidar com o tema. "É uma vitória parcial para Morales, porque obriga a Assembléia a estudar as autonomias, independentemente das interpretações jurídicas do voto nacional ou departamental", afirmou.
Cordero se refere às divergência entre governistas, que defendem que o referendo seja considerado como votação nacional, e a oposição, que argumenta que os resultados valem por departamento -ou seja, como Santa Cruz optou por mais autonomia, isso tem de ser tratado pela Constituinte.


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