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Morales tem vitória relativa na Bolívia
Presidente obtém maior bancada na Assembléia Constituinte e rejeição das autonomias departamentais em referendo
Com 52,5% dos legisladores que redigirão Carta, partido do governo terá de negociar com oposição por consenso, mas poderá ditar a agenda
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
O presidente boliviano, Evo
Morales, conseguiu uma relativa vitória ontem no referendo
sobre o aumento da autonomia
dos departamentos e na eleição
da Assembléia Constituinte,
enquanto a oposição demonstrou força com uma significativa votação em Santa Cruz e ao
impedir que os governistas elegessem mais de dois terços dos
que redigirão a nova Constituição, aponta projeção da TV
ATB baseada na apuração parcial de todas as zonas eleitorais.
A resposta "não", defendida
por Morales, obteve 56,2% dos
votos válidos, contra 43,8% do
"sim", cuja campanha foi comandada por lideranças do rico
departamento (Estado) de Santa Cruz e pela agremiação oposicionista de direita Podemos
(Poder Democrático e Social).
O referendo consolida a divisão entre os cinco departamentos do altiplano, liderados por
La Paz, onde venceu o "não", e
os quatro departamentos do
leste do país, que apoiaram o
"sim", segundo a projeção.
Os resultados foram comemorados pelos dois lados. À
noite, Morales disse que "aqui,
ganhou o "não", que sabia o povo
boliviano, que saiba o mundo
inteiro". "Este resultado nos
consolida como governo e como partido", afirmou.
"Hoje, o centralismo morreu", discursou pouco antes o
governador de Santa Cruz, Rubén Costas, a milhares de simpatizantes. "Proclamo o nascimento da autonomia no país."
Pequena maioria
Na eleição dos 255 membros
da nova Assembléia Constituinte, o MAS (Movimento ao
Socialismo) de Morales confirmou o favoritismo ao eleger 134
candidatos, contra 64 de Podemos (Poder Democrático e Social), principal agremiação
oposicionista. Em terceiro lugar, ficou a Unidade Nacional,
também de oposição, com 10,
segundo a projeção da TV ATB.
Confirmados esses resultados, o MAS terá 52,5% da Assembléia Constituinte, que será inaugurada em 6 de agosto e
funcionará na cidade de Sucre,
no altiplano boliviano. Com isso, o partido governista não
conseguiu o objetivo declarado
de eleger dois terços dos constituintes, o que lhe daria o poder
de aprovar matéria constitucional sem votos da oposição.
"A composição da Assembléia gera um equilíbrio de poder no país no qual o MAS terá
confrontações difíceis para governar", disse à Folha o analista político Franklin Pareja.
"Essa margem do MAS lhe dá a
capacidade de estabelecer a
agenda e o ritmo do debate na
Assembléia, mas a pluralidade
o obrigará a buscar consenso."
"No referendo, os resultados
mostram que o discurso do governo caiu por terra, pois não
apenas as famílias ricas de Santa Cruz optaram pelo "sim", mas
toda a região votou em favor da
autonomia", afirmou Pareja.
Para o analista Carlos Cordero, o resultado faz com que o
governo Morales seja obrigado
a lidar com o tema. "É uma vitória parcial para Morales, porque obriga a Assembléia a estudar as autonomias, independentemente das interpretações
jurídicas do voto nacional ou
departamental", afirmou.
Cordero se refere às divergência entre governistas, que
defendem que o referendo seja
considerado como votação nacional, e a oposição, que argumenta que os resultados valem
por departamento -ou seja,
como Santa Cruz optou por
mais autonomia, isso tem de
ser tratado pela Constituinte.
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