São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Opinião

Brown deve insistir na inteligência

GIDEON RACHMAN
DO "FINANCIAL TIMES"

O público britânico parece estar mais preocupado com os perigos enfrentados por gatinhos domésticos do que com a ameaça de homens-bomba. No site da BBC ontem, a matéria "mais lida" no Reino Unido tinha como título "Especialistas lançam aviso sobre alergias de gatos". As pessoas parecem ter decidido que a coisa "britânica" a fazer (para usar o termo favorito do novo premiê) é manter a calma. Existe uma explicação óbvia para isso. Nenhuma das três tentativas de explosão feitas até agora matou ninguém. Tudo o que seria preciso para mudar o estado de ânimo seria que um carro-bomba conseguisse passar e matar dezenas de pessoas. A discussão sobre como combater o terrorismo já assumiu nova urgência. A tentação, para as autoridades, é agir freneticamente. Mas, como antes, a verdadeira chave para enfrentar a ameaça continua a ser a boa inteligência. Desde os ataques de julho de 2005 no metrô de Londres, os serviços de segurança lançaram uma série de avisos assustadores, incluindo a revelação de que estavam acompanhando 30 complôs terroristas ativos. Mas eles também têm feito um bom trabalho em termos de frustrar muitos desses complôs, como ilustraram, no ano passado, as condenações relacionadas à operação Crevice -que pretendia explodir shopping centers e boates. O governo afirma que até 2008 os serviços de inteligência terão dobrado de tamanho em relação a 2005. O Reino Unido já gasta 2 bilhões de libras (US$ 4 bilhões) por ano com contraterrorismo. É dinheiro bem gasto. Infelizmente para os políticos que sofrem pressões para tomar medidas que sejam visíveis, a inteligência é algo que é feito sem alarde. Se o governo quer enviar sinais de vigilância aumentada, faz coisas como aumentar a segurança armada nos aeroportos. Mas um aumento permanente nas medidas de segurança evidentes será difícil de conciliar com o apelo de Brown para que "a vida comum de nosso país siga adiante". O fato é que nem toda grande multidão no Reino Unido pode ser protegida sem que se atrapalhe a vida comum de maneira intolerável. Essa é uma idéia desagradável. Mas também é uma realidade com a qual o Reino Unido é obrigado a conviver há anos (quem se recorda do IRA?). A ameaça do terror estará conosco por muitos anos ainda. Para enfrentá-la, o governo de Gordon Brown fará bem em seguir o exemplo dos britânicos: manter a calma.


Tradução de CLARA ALLAIN


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