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Kirchner lança Cristina para manter poder, diz analista
Presidente preserva popularidade e deixa aberta possibilidade de voltar em 2011
Ao comentar candidatura da mulher à Presidência, Kirchner diz que política é "transitória" e que pensa em "construção coletiva"
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Manter-se no poder e, ao
mesmo tempo, evitar o desgaste ocasionado por ele -foram
esses os dois principais motivos
que Néstor Kirchner levou em
conta ao desistir de buscar uma
reeleição que parecia certa e
optar por lançar como candidata a primeira-dama Cristina
Fernández de Kirchner.
Essa é a opinião de analistas
políticos argentinos consultados pela Folha após a confirmação anteontem de que Cristina será a candidata à Casa Rosada em outubro.
"Kirchner lança a candidatura de sua mulher para mostrar
que não tem desejos de poder,
quando a realidade é o contrário. Ele não abandona o objetivo de reter o poder, com um período de sua mulher, e, ao terminar este, deixa aberta a possibilidade de voltar", afirma
Rosendo Fraga, do Instituto
Nova Maioria. A intenção de
Kirchner seria impedir o fenômeno do chamado "pato manco", no qual um presidente no
fim do seu segundo mandato
perde poder e popularidade.
Para Orlando D'Adamo, do
Centro de Opinião Pública da
Universidade de Belgrano, a
decisão de lançar Cristina foi
tomada pelo governo após pôr
em uma balança os riscos -o
fato de as pesquisas preverem
uma vitória menos folgada para a primeira-dama do que se o
candidato fosse o presidente-
e os benefícios -de essa decisão, teoricamente, facilitar a
perpetuação do casal no poder.
O anúncio antecipado de que
Cristina será a candidata -o
governo tinha até 28 de agosto- teria ocorrido porque o
desgaste do poder de Kirchner
começou a se fazer notar em
eleições locais como a de Buenos Aires e a Terra do Fogo.
"Eu acredito que a decisão
foi tomada agora para cortar as
expectativas, geradas depois
dessas derrotas, de que o candidato seria Kirchner e não Cristina. Nesse sentido, para acabar com a incerteza, do ponto
de vista da comunicação foi
uma decisão acertada", afirma
D'Adamo.
Quadro mais preparado
O ministro do Interior, Anibal Fernández, negou ontem,
porém, que a candidatura de
Cristina seja uma estratégia para permitir o retorno de Kirchner em 2011. "Ele poderia ter se
candidatado à reeleição agora.
Uma visão personalista do poder não tem nada a ver com a
sua visão, que é de construção
coletiva. E Cristina faz parte
dessa construção."
Fernández diz que a substituição de Kirchner por Cristina
tem como objetivo "o aprofundamento da mudança" iniciada
pelo presidente e que a primeira-dama é o quadro político
"mais preparado dos últimos
50 anos" na Argentina.
O próprio presidente expôs
conceitos semelhantes ontem à
noite, em um ato na Casa Rosada. "A passagem pela política é
sempre transitória, o importante é a construção coletiva.
Todos nós acreditamos profundamente na capacidade transformadora e superadora que
Cristina vai dar à Argentina",
disse. A primeira-dama ainda
não deu declarações depois de
confirmada sua candidatura.
O governador de Mendoza,
Julio Cobos, da UCR (União Cívica Radical), disse ontem que
foi convidado para ser vice de
Cristina. A confirmação de seu
nome dependerá da aprovação
dos outros radicais K, governadores da UCR que apóiam o governo Kirchner. A decisão deve
ser tomada em um encontro do
partido no próximo dia 28.
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