São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Kirchner lança Cristina para manter poder, diz analista

Presidente preserva popularidade e deixa aberta possibilidade de voltar em 2011

Ao comentar candidatura da mulher à Presidência, Kirchner diz que política é "transitória" e que pensa em "construção coletiva"

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Manter-se no poder e, ao mesmo tempo, evitar o desgaste ocasionado por ele -foram esses os dois principais motivos que Néstor Kirchner levou em conta ao desistir de buscar uma reeleição que parecia certa e optar por lançar como candidata a primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner.
Essa é a opinião de analistas políticos argentinos consultados pela Folha após a confirmação anteontem de que Cristina será a candidata à Casa Rosada em outubro.
"Kirchner lança a candidatura de sua mulher para mostrar que não tem desejos de poder, quando a realidade é o contrário. Ele não abandona o objetivo de reter o poder, com um período de sua mulher, e, ao terminar este, deixa aberta a possibilidade de voltar", afirma Rosendo Fraga, do Instituto Nova Maioria. A intenção de Kirchner seria impedir o fenômeno do chamado "pato manco", no qual um presidente no fim do seu segundo mandato perde poder e popularidade.
Para Orlando D'Adamo, do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano, a decisão de lançar Cristina foi tomada pelo governo após pôr em uma balança os riscos -o fato de as pesquisas preverem uma vitória menos folgada para a primeira-dama do que se o candidato fosse o presidente- e os benefícios -de essa decisão, teoricamente, facilitar a perpetuação do casal no poder.
O anúncio antecipado de que Cristina será a candidata -o governo tinha até 28 de agosto- teria ocorrido porque o desgaste do poder de Kirchner começou a se fazer notar em eleições locais como a de Buenos Aires e a Terra do Fogo.
"Eu acredito que a decisão foi tomada agora para cortar as expectativas, geradas depois dessas derrotas, de que o candidato seria Kirchner e não Cristina. Nesse sentido, para acabar com a incerteza, do ponto de vista da comunicação foi uma decisão acertada", afirma D'Adamo.

Quadro mais preparado
O ministro do Interior, Anibal Fernández, negou ontem, porém, que a candidatura de Cristina seja uma estratégia para permitir o retorno de Kirchner em 2011. "Ele poderia ter se candidatado à reeleição agora. Uma visão personalista do poder não tem nada a ver com a sua visão, que é de construção coletiva. E Cristina faz parte dessa construção."
Fernández diz que a substituição de Kirchner por Cristina tem como objetivo "o aprofundamento da mudança" iniciada pelo presidente e que a primeira-dama é o quadro político "mais preparado dos últimos 50 anos" na Argentina.
O próprio presidente expôs conceitos semelhantes ontem à noite, em um ato na Casa Rosada. "A passagem pela política é sempre transitória, o importante é a construção coletiva. Todos nós acreditamos profundamente na capacidade transformadora e superadora que Cristina vai dar à Argentina", disse. A primeira-dama ainda não deu declarações depois de confirmada sua candidatura.
O governador de Mendoza, Julio Cobos, da UCR (União Cívica Radical), disse ontem que foi convidado para ser vice de Cristina. A confirmação de seu nome dependerá da aprovação dos outros radicais K, governadores da UCR que apóiam o governo Kirchner. A decisão deve ser tomada em um encontro do partido no próximo dia 28.


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