São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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Refém virou causa nacional para franceses

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A passeata do Primeiro de Maio, no ano passado em Paris, foi enfeitada por cartazes pendurados nas sacadas dos apartamentos com fotos de Ingrid Betancourt. Para os franceses, ela não era apenas uma refém da guerrilha colombiana. Tornou-se uma grande causa nacional.
Num país dividido ao meio com relação a qualquer assunto, funcionavam com rara unanimidade 52 comissões regionais pela libertação da refém. O nome dela era lembrado em concertos de rock, em feiras de livros, em colóquios universitários.
O fato de dois presidentes -Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy- terem se empenhado em sua soltura é apenas o reflexo de um sentimento difuso, que misturava solidariedade ao patriotismo ferido. Afinal, "uma das nossas" sofria como cativa dos narcoguerrilheiros.
Ao ser eleito, em maio do ano passado, Sarkozy lembrou Ingrid Betancourt já em seu primeiro discurso. Se Chirac não conseguiu libertá-la, ele o faria. Não que Chirac se imobilizasse. Ele até correu o risco de abrir grave conflito diplomático com o Brasil, ao enviar, sem comunicação prévia, um Hércules C-130, que em julho de 2003 pousou em Manaus para levar a ex-senadora presumivelmente libertada.
Para Sarkozy, Ingrid Betancourt virou uma obsessão. Ele abordou sua libertação com o papa Bento 16, esforçou-se para mencioná-la no comunicado final de reunião do G-8, os países mais industrializados. Fez dela também uma causa da União Européia, mesmo se nos 26 demais países do bloco ela não despertasse a mesma carga emocional.
O presidente francês chegou a gravar mensagem às lideranças das Farc, dizendo-lhes que elas tinham "um encontro marcado com a história" e que, para não perdê-lo, seria preciso libertar a ex-senadora e os reféns com a saúde mais debilitada.
Em termos diplomáticos, Sarkozy descarregou todos os seus cartuchos. Pediu a intermediação de Lula e de Chávez. Evitou atropelar o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Mas emissários franceses chegaram a negociar com a guerrilha.
Em abril último a França enviou a Bogotá um avião com médicos, na esperança de que as Farc se condoessem e entregassem a ex-candidata presidencial colombiana. E mais uma vez um avião voltou à sua base francesa sem transportar a aguardada passageira.


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