São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA

Obama quer negociar com Hugo Chávez

Candidato democrata defende ainda liberação de viagens para cubanos e manutenção da Quarta Frota, dizem assessores à Folha

Senador pretende manter tarifa sobre álcool brasileiro e não se compromete a dar apoio ao Brasil por vaga permanente no CS da ONU

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Barack Obama pretende sentar-se para negociar com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, quer liberar viagens de cubanos e seus descendentes dos EUA para a ilha e vice-versa e é a favor do envio da Quarta Frota à América Latina. Ele é contra a suspensão da tarifa cobrada atualmente sobre o álcool brasileiro e não se compromete com o nome do Brasil como membro permanente numa reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Foi isso que a equipe de assessores do candidato democrata à Casa Branca disse à Folha durante teleconferência ontem à tarde, da qual participaram outros jornalistas. Responderam às questões do jornal o assessor de política externa Denis McDonough e Dan Restrepo, cotado para ocupar o lugar de diplomata responsável pela região num eventual governo Obama. Leia os principais trechos.

 

FOLHA - Obama apóia o Brasil no Conselho de Segurança da ONU?
DENIS MCDONOUGH -
Barack acredita numa reforma completa da ONU. Obviamente, na reforma está incluída uma boa olhada em quem será ou não membro [permanente] do Conselho de Segurança, mas o senador não se comprometerá com nomes neste momento.

FOLHA - Ele é a favor da eliminação da tarifa que os EUA cobram atualmente do álcool brasileiro?
MCDONOUGH -
Não neste momento, por uma série de motivos, como o impacto sobre nossa capacidade de desenvolver o álcool de celulose e de baixa emissão de carbono a longo prazo. E isso beneficiará não só os EUA mas toda a região.

FOLHA - Quando ele pretende visitar a América Latina?
MCDONOUGH -
Barack está ansioso para visitar a região tão logo seja possível. Mas ele acaba de concluir uma fase da campanha que foi muito disputada e agressiva e agora está envolvido na campanha contra [o republicano John] McCain, de forma que não está claro quando a viagem ocorrerá.
DAN RESTREPO - Quando Barack Obama for à América Latina, levará uma visão que melhorará a relação dos países com os EUA, que avançará nossos interesses e os interesses que dividimos com a região. Será uma quebra, uma mudança bem-vinda em relação à viagem que McCain faz agora [à Colômbia e ao México] e que Bush fez nos últimos oito anos.

FOLHA - Quão diferente da atual será a política de Obama para Cuba e Venezuela?
RESTREPO -
Para Cuba, o senador Obama tem propostas muito claras. A primeira é permitir que familiares viajem sem restrições em ambos os lados, permitindo assim que cubanos-americanos interajam, funcionem como embaixadores da liberdade e possam ajudar seus familiares não só moral mas estrategicamente, abrindo espaços e os deixando menos dependentes do regime cubano.
Ele também mandou uma mensagem clara aos cubanos, que tomem passos reais e sérios no sentido de abrir espaço democrático na ilha, começando por libertar os prisioneiros políticos. Então, e com o tempo, os EUA estarão prontos para trabalhar para normalizar as relações entre os dois países.
Já em relação à Venezuela, o mais importante de se lembrar é a precariedade com que a situação venezuelana foi tratada pelo governo Bush: a combinação de escalada retórica e a falta de atenção com o resto da região abriu espaços que Chávez usou para avançar uma agenda e uma retórica antiamericana.
Temos de achar formas de lidar com a região nos seus termos e nos termos que são importantes para o povo venezuelano avançar a democracia.
Obama está disposto a se reunir com Hugo Chávez numa hora e num lugar que Obama escolher, para fazer avançar os interesses dos povos venezuelano e americano. Isso por si só terá o efeito desejado de desarmar Chávez num sentido retórico e não colaborar com uma falsa confrontação entre Washington e Caracas que serve à causa de um indivíduo.

FOLHA - Obama apóia a decisão de Bush de reativar a Quarta Frota?
MCDONOUGH -
O senador admite que a importância da região requer todos os elementos a nosso alcance para unir mais profundamente o continente e para ajudar nossos aliados a encarar desafios em comum. O uso de nossa Marinha e o aumento da cooperação militar, do treinamento e da ajuda humanitária [que a frota promoverá, segundo Washington] fazem sentido.


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