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OEA tenta resolver crise com ida de dirigente a Honduras
"Não vamos negociar, e sim solicitar que mudem o que estão fazendo", diz Insulza
Governo interino afirma que "tudo é negociável", até antecipação de eleições, mas não retorno de presidente deposto Zelaya ao poder
Henry Romero/Reuters
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Manifestantes pró-Zelaya protestam na capital Tegucigalpa
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
A um dia do fim do ultimato
dado pela OEA (Organização
dos Estados Americanos) ao
governo interino de Honduras,
o secretário-geral da entidade,
José Miguel Insulza, desembarca hoje em Tegucigalpa com
a difícil missão de viabilizar a
volta do presidente deposto,
Manuel Zelaya.
"Não vamos a Honduras negociar. Vamos a Honduras solicitar que mudem o que eles estão fazendo", disse Insulza, durante visita à Guiana. "Farei tudo o que posso, mas acho que
será muito difícil mudar o rumo das coisas em dois dias."
Anteontem, a Assembleia
Geral da OEA deu um ultimato
de 72 horas a Honduras para
que restitua Zelaya ao poder de
forma "imediata, segura e incondicional", sob pena de o país
ser suspenso do grupo.
Embora a pressão internacional contra o presidente interino, Roberto Micheletti, aumente a cada dia, seu governo
vem mantendo o discurso de
que a volta de Zelaya não está
na mesa. Desde a deposição, no
último domingo, essa posição
tem o respaldo do Judiciário,
do Congresso, do Ministério
Público e do alto comando das
Forças Armadas.
Em entrevista à Folha ontem, a vice-chanceler do governo interino de Honduras, Martha Lorena Alvarado, disse que
"tudo é negociável com a OEA,
menos a volta de Zelaya".
À tarde, Micheletti disse que
a comissão da OEA será "bem-vinda", mas disse que, a princípio, ele não se reunirá com Insulza. "Tenho entendido que
falarão com a Promotoria, com
a Corte Suprema de Justiça.
Sou a última parte. Mas vamos
recebê-lo como o que somos,
um governo constitucional",
disse, em entrevista coletiva na
Casa Presidencial.
"Estamos já planejando um
disquete para enviar a todo o
mundo uma cronologia do que
aconteceu desde o primeiro dia
desses acontecimentos", afirmou Micheletti, ao ser questionado sobre como estava se preparando para receber Insulza.
Questionado se estaria de
acordo em antecipar eleições
presidenciais, Micheletti disse
que "totalmente, se essa for
uma maneira de solucionar esse tipo de problema".
O governo interino manteve
para o dia 29 de novembro a
realização de eleições parlamentares, presidenciais e municipais. Caso as datas sejam
mantidas, o novo presidente
assume em janeiro para um
mandato de quatro anos, sem
direito a reeleição.
Ontem, Micheletti, que até
domingo era o presidente do
Congresso, nomeou mais ministros e vice-ministros para o
seu gabinete, em mais uma demonstração de que não pretende deixar a Casa Presidencial.
No Panamá, Zelaya exortou
o governo "ditatorial" a devolver-lhe o poder. "O meu retorno está sendo planejado com
base nesses resultados [do ultimato]. A invenção de que [Insulza] negociará é uma invenção deles [governo interino]",
disse, em entrevista coletiva.
Zelaya voltou a defender a
convocação de uma Constituinte, iniciativa que desatou a
crise política hondurenha. "As
leis sempre são feitas pelos poderosos e pelos fortes. O dia em
que os pobres fizerem suas leis
não haverá pobres."
No último domingo, Zelaya
planejava realizar uma votação
sobre a convocação de uma
Constituinte, apesar de a iniciativa ter sido declarada ilegal
pela Justiça e pelo Congresso.
A oposição e membros do
seu próprio partido, o Liberal,
acusam Zelaya de tentar introduzir a reeleição presidencial,
sob influência do aliado Hugo
Chávez. O presidente deposto
nega e diz que entregaria o poder em janeiro, quando termina o seu mandato.
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