São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

Próximo Texto | Índice

OEA tenta resolver crise com ida de dirigente a Honduras

"Não vamos negociar, e sim solicitar que mudem o que estão fazendo", diz Insulza

Governo interino afirma que "tudo é negociável", até antecipação de eleições, mas não retorno de presidente deposto Zelaya ao poder

Henry Romero/Reuters
Manifestantes pró-Zelaya protestam na capital Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

A um dia do fim do ultimato dado pela OEA (Organização dos Estados Americanos) ao governo interino de Honduras, o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, desembarca hoje em Tegucigalpa com a difícil missão de viabilizar a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya.
"Não vamos a Honduras negociar. Vamos a Honduras solicitar que mudem o que eles estão fazendo", disse Insulza, durante visita à Guiana. "Farei tudo o que posso, mas acho que será muito difícil mudar o rumo das coisas em dois dias."
Anteontem, a Assembleia Geral da OEA deu um ultimato de 72 horas a Honduras para que restitua Zelaya ao poder de forma "imediata, segura e incondicional", sob pena de o país ser suspenso do grupo.
Embora a pressão internacional contra o presidente interino, Roberto Micheletti, aumente a cada dia, seu governo vem mantendo o discurso de que a volta de Zelaya não está na mesa. Desde a deposição, no último domingo, essa posição tem o respaldo do Judiciário, do Congresso, do Ministério Público e do alto comando das Forças Armadas.
Em entrevista à Folha ontem, a vice-chanceler do governo interino de Honduras, Martha Lorena Alvarado, disse que "tudo é negociável com a OEA, menos a volta de Zelaya".
À tarde, Micheletti disse que a comissão da OEA será "bem-vinda", mas disse que, a princípio, ele não se reunirá com Insulza. "Tenho entendido que falarão com a Promotoria, com a Corte Suprema de Justiça. Sou a última parte. Mas vamos recebê-lo como o que somos, um governo constitucional", disse, em entrevista coletiva na Casa Presidencial.
"Estamos já planejando um disquete para enviar a todo o mundo uma cronologia do que aconteceu desde o primeiro dia desses acontecimentos", afirmou Micheletti, ao ser questionado sobre como estava se preparando para receber Insulza.
Questionado se estaria de acordo em antecipar eleições presidenciais, Micheletti disse que "totalmente, se essa for uma maneira de solucionar esse tipo de problema".
O governo interino manteve para o dia 29 de novembro a realização de eleições parlamentares, presidenciais e municipais. Caso as datas sejam mantidas, o novo presidente assume em janeiro para um mandato de quatro anos, sem direito a reeleição.
Ontem, Micheletti, que até domingo era o presidente do Congresso, nomeou mais ministros e vice-ministros para o seu gabinete, em mais uma demonstração de que não pretende deixar a Casa Presidencial.
No Panamá, Zelaya exortou o governo "ditatorial" a devolver-lhe o poder. "O meu retorno está sendo planejado com base nesses resultados [do ultimato]. A invenção de que [Insulza] negociará é uma invenção deles [governo interino]", disse, em entrevista coletiva.
Zelaya voltou a defender a convocação de uma Constituinte, iniciativa que desatou a crise política hondurenha. "As leis sempre são feitas pelos poderosos e pelos fortes. O dia em que os pobres fizerem suas leis não haverá pobres."
No último domingo, Zelaya planejava realizar uma votação sobre a convocação de uma Constituinte, apesar de a iniciativa ter sido declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso.
A oposição e membros do seu próprio partido, o Liberal, acusam Zelaya de tentar introduzir a reeleição presidencial, sob influência do aliado Hugo Chávez. O presidente deposto nega e diz que entregaria o poder em janeiro, quando termina o seu mandato.


Próximo Texto: Mais pressão: UE retira embaixadores e suspende negociação de acordo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.