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Chávez influenciava Zelaya, diz ex-aliado
Para Moisés Starkman, assessor de presidente deposto até dia do golpe, aproximação com Venezuela era ruim para Honduras
Constituição que Zelaya tentava mudar trouxe estabilidade democrática ao país, diz político, que manteve cargo após golpe
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
Até domingo assessor do presidente deposto Manuel Zelaya
para projetos especiais, Moisés
Starkman ocupa, assim como
vários outros membros do alto
escalão hondurenho, o mesmo
cargo no governo interino de
Roberto Micheletti.
Nesta entrevista à Folha,
Starkman afirma que Zelaya
não tinha apoio para mudar a
Constituição e que a influência
do governo do venezuelano
Hugo Chávez prejudica o país:
FOLHA - Há condições para a OEA
(Organização dos Estados Americanos) negociar a volta de Zelaya a
Honduras?
MOISÉS STARKMAN - Não creio
que esse processo tenha começado ainda. Uma coisa é fazer
contato, outra coisa é negociar.
Mas surpreende que o secretário-geral da OEA [José Miguel
Insulza, que chega hoje ao país]
não tenha visitado Honduras
antes para fazer uma missão de
avaliação sobre o que efetivamente estava ocorrendo.
FOLHA - O senhor permaneceu no
governo Zelaya até o final. Havia de
fato a influência do presidente Hugo
Chávez?
STARKMAN - Isso é muito difícil
de medir, mas é evidente que
havia uma aproximação cada
vez maior em direção ao governo venezuelano. O que começou como uma aproximação
comercial, com a Alba [Alternativa Bolivariana para as Américas, bloco liderado por Chávez
ao qual Honduras se filiou no
ano passado], foi adquirindo
outro tipo de relação.
FOLHA - Qual era a intenção de Zelaya ao tentar convocar uma Assembleia Constituinte?
STARKMAN - Zelaya manifestou,
em várias ocasiões, a necessidade de mudar a Constituição.
Agora, em Honduras, tivemos o
maior período de paz e de democracia com a Constituição
atual. É uma Carta em vigência
desde 1984 e, desde então, temos eleição a cada quatro anos.
É uma Constituição que deu estabilidade ao nosso país.
A Constituição tem artigos
que não podem ser mudados. E
um deles se refere à forma do
governo, ao período presidencial e à não reeleição. Em Honduras, a ausência de reeleição
tem sido um dos elementos que
vêm dando estabilidade até o
presente.
FOLHA - Chávez é a grande ameaça
para Honduras, como alega o presidente interino?
STARKMAN - Chávez vem dando
várias declarações infelizes. Isso faz com que haja temor em
Honduras de que se queira exportar uma forma de governo
que pode ser boa para a Venezuela. Mas nós, em Honduras,
queremos uma forma de governo própria. Pessoalmente, acho
importante que em Honduras
haja um sistema de pesos e contrapesos. Não gostaria que, em
Honduras, haja um presidente
que faça o que quiser e quando
quiser.
FOLHA - Honduras está sob forte
pressão internacional. No caso dos
biocombustíveis, o Brasil retirou o
seu apoio. Qual é o impacto dessa
medida?
STARKMAN - É uma decisão do
governo brasileiro. Mas o nosso
programa não depende de que
um país envie especialistas ou
não. Honduras não vai parar.
FOLHA - O governo Micheletti continuará até janeiro [data constitucional da posse do novo presidente
hondurenho]?
STARKMAN - Neste momento,
há um grande ressentimento
pela forma como o país vem
sendo tratado. O país, e não o
governo. A comunidade internacional tem de entender o que
aconteceu e o motivo.
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