São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Chávez influenciava Zelaya, diz ex-aliado

Para Moisés Starkman, assessor de presidente deposto até dia do golpe, aproximação com Venezuela era ruim para Honduras

Constituição que Zelaya tentava mudar trouxe estabilidade democrática ao país, diz político, que manteve cargo após golpe

DO ENVIADO A TEGUCIGALPA

Até domingo assessor do presidente deposto Manuel Zelaya para projetos especiais, Moisés Starkman ocupa, assim como vários outros membros do alto escalão hondurenho, o mesmo cargo no governo interino de Roberto Micheletti. Nesta entrevista à Folha, Starkman afirma que Zelaya não tinha apoio para mudar a Constituição e que a influência do governo do venezuelano Hugo Chávez prejudica o país:

 

FOLHA - Há condições para a OEA (Organização dos Estados Americanos) negociar a volta de Zelaya a Honduras?
MOISÉS STARKMAN
- Não creio que esse processo tenha começado ainda. Uma coisa é fazer contato, outra coisa é negociar. Mas surpreende que o secretário-geral da OEA [José Miguel Insulza, que chega hoje ao país] não tenha visitado Honduras antes para fazer uma missão de avaliação sobre o que efetivamente estava ocorrendo.

FOLHA - O senhor permaneceu no governo Zelaya até o final. Havia de fato a influência do presidente Hugo Chávez?
STARKMAN
- Isso é muito difícil de medir, mas é evidente que havia uma aproximação cada vez maior em direção ao governo venezuelano. O que começou como uma aproximação comercial, com a Alba [Alternativa Bolivariana para as Américas, bloco liderado por Chávez ao qual Honduras se filiou no ano passado], foi adquirindo outro tipo de relação.

FOLHA - Qual era a intenção de Zelaya ao tentar convocar uma Assembleia Constituinte?
STARKMAN
- Zelaya manifestou, em várias ocasiões, a necessidade de mudar a Constituição. Agora, em Honduras, tivemos o maior período de paz e de democracia com a Constituição atual. É uma Carta em vigência desde 1984 e, desde então, temos eleição a cada quatro anos. É uma Constituição que deu estabilidade ao nosso país. A Constituição tem artigos que não podem ser mudados. E um deles se refere à forma do governo, ao período presidencial e à não reeleição. Em Honduras, a ausência de reeleição tem sido um dos elementos que vêm dando estabilidade até o presente.

FOLHA - Chávez é a grande ameaça para Honduras, como alega o presidente interino?
STARKMAN
- Chávez vem dando várias declarações infelizes. Isso faz com que haja temor em Honduras de que se queira exportar uma forma de governo que pode ser boa para a Venezuela. Mas nós, em Honduras, queremos uma forma de governo própria. Pessoalmente, acho importante que em Honduras haja um sistema de pesos e contrapesos. Não gostaria que, em Honduras, haja um presidente que faça o que quiser e quando quiser.

FOLHA - Honduras está sob forte pressão internacional. No caso dos biocombustíveis, o Brasil retirou o seu apoio. Qual é o impacto dessa medida?
STARKMAN
- É uma decisão do governo brasileiro. Mas o nosso programa não depende de que um país envie especialistas ou não. Honduras não vai parar.

FOLHA - O governo Micheletti continuará até janeiro [data constitucional da posse do novo presidente hondurenho]?
STARKMAN
- Neste momento, há um grande ressentimento pela forma como o país vem sendo tratado. O país, e não o governo. A comunidade internacional tem de entender o que aconteceu e o motivo.


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