São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

Texto Anterior | Índice

EUA sabiam que ponte que caiu tinha problemas

Inspeção realizada há dois anos apontou "deficiências estruturais" na rodovia que desabou sobre o Mississippi

Desastre provoca debate sobre falta de investimentos federais em infra-estrutura; mortes confirmadas são 4, mas ainda há desaparecidos

"Gazeta de Alagoas"
Veículos sobre trecho rompido da ponte em Minnesota


DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Negligência na manutenção pode ser a principal explicação para a queda da ponte sobre o rio Mississippi, no Estado americano de Minnesota, na noite de anteontem. Enquanto as equipes de resgate buscavam pessoas que desapareceram quando a ponte desabou, jogando dezenas de veículos na água, foi revelado que uma inspeção realizada pelo governo federal há dois anos já tinha apontado que a ponte possuía "deficiências estruturais". Na época, o Departamento dos Transportes concluiu que a ponte agüentaria até 2020, quando deveria ser substituída.
As más condições dessa ponte estão longe de ser um caso isolado, porém. De acordo com um estudo da Sociedade Americana de Engenheiros Civis, mais de 70 mil pontes nos EUA -10% do total- são consideradas funcionalmente obsoletas. Levaria vinte anos, a um custo de US$ 188 bilhões, para fazer os reparos necessários. "Ainda é muito cedo para falar sobre as causas do desastre. Mas o fato é que os americanos estão usufruindo hoje de uma infra-estrutura que nos foi deixada por outras gerações", comentou, em artigo, Stephen Flynn, professor da Universidade de Stanford e autor do livro "The Edge of Disaster: Rebuilding a Resilient Nation" (À Beira do Desastre: Reconstruindo uma Nação Resistente).
Engenheiros destacaram que estão muito aquém do ideal os cuidados com a infra-estrutura em todos os níveis nos EUA. Os diques que romperam em Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina, em 2005, e a explosão de uma tubulação do sistema subterrâneo de aquecimento de Nova York, no último dia 19, foram citados como outros exemplos da precariedade.
No caso das estradas, a maior parte foi construída entre as décadas de 50 e 60. A ponte que caiu agora, sobre a qual corria um trecho da rodovia interestadual 35W, era de 1967. Além do problema da idade, havia o do excesso de tráfego: cresceu 42% o trânsito de veículos em Minnesota de 1990 a 2003.
"Em uma palavra, era evitável", escreveu o colunista Nick Coleman, do jornal local "Star Tribune". Ele atribuiu a falta de investimentos no setor ao fato de que as melhorias do tipo não saltam aos olhos dos eleitores. Atualmente, o governo gasta US$ 40 bilhões por ano para melhorar estradas e pontes, quando seria preciso ao menos US$ 70 bilhões. Os fiscais também foram criticados por utilizar apenas a avaliação visual -os equipamentos são caros-, que nem sempre consegue detectar falhas na estrutura.
Até o fechamento desta edição, as autoridades haviam confirmado quatro mortos e 79 feridos em Minnesota. O número de desaparecidos variava entre 20 e 65. "O governo federal deve responder fortemente para ajudar não apenas na recuperação mas garantir que essa ponte seja reconstruída o mais rápido possível", declarou o presidente George W. Bush. O governador de Minnesota, Tim Pawlenty, ordenou imediata avaliação das pontes do Estado.
Às adolescentes Anne e Jessica, filhas adotivas de Sherry Engebretsen, uma dos desaparecidos, só restava rezar. "Ela vai conseguir, ela é uma mulher muito forte, ela vai voltar para casa", afirmou Anne entre lágrimas. As duas meninas foram adotadas por Sherry e seu marido Ronald na Colômbia quando tinham poucos meses. "Temos que continuar unidos como uma família, era isso que ela queria", disse Jessica. Dezenas de familiares foram alojados pelas autoridades em um hotel para acompanharem o andamento do resgate, operação que deve durar até quatro dias.


Texto Anterior: Líbia: Trípoli compra armas e equipamentos da França
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.