São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Base americana é novo "front" contra terror

FÁBIO ZANINI
EM CAMP LEMONIER (DJIBUTI)

Um front até agora secundário na "guerra contra o terror" do governo dos Estados Unidos está sendo expandido numa base militar plantada sobre um terreno seco e pedregoso no Djibuti, pequena ex-colônia francesa do leste da África.
Camp Lemonier, atualmente com 2.000 militares e em rápido processo de ampliação, é um conjunto de enormes contêineres climatizados, isolados do mundo exterior por um grosso muro de concreto, que serve como centro operacional dos norte-americanos para combate à rede terrorista Al Qaeda no volátil Chifre da África.
Três países das redondezas, o Sudão, a Somália e o Iêmen (que está na área de atuação da base, apesar de ficar na península Arábica), são apontados pelos americanos como novos refúgios para terroristas islâmicos expulsos do Iraque e do Afeganistão. Camp Lemonier é por enquanto o único pé militar dos EUA na África, que ganha importância não apenas pela ameaça terrorista, mas por ser fonte de petróleo e minerais, produtos disputados no continente também pela China e, em menor grau, pela Índia.
Em 1º de outubro, entra em operação o novo Comando Militar Africano, uma subdivisão da máquina militar norte-americana que usará a base do Djibuti como ponta-de-lança. Os EUA pagam um aluguel mensal de US$ 30 milhões ao país, aliado incondicional, 10% do orçamento anual da base.
A Folha visitou Camp Lemonier em 23 de julho e pôde constatar o ritmo acelerado da ampliação. A base está sendo quadruplicada e atingirá, em um ano, área equivalente a 150 campos de futebol. O número de militares ali presentes chegará a 5.000. "Esta é uma das regiões mais instáveis do mundo e nós estamos aqui de maneira permanente, pensando no longo prazo", diz o major Paul Villagran, diretor de relações públicas da base.

Dor de cabeça
A região é uma dor de cabeça antiga para os EUA. A lista de desastres é longa e vem desde 1993, quando 18 militares americanos foram mortos por guerrilheiros na Somália e o país bateu em retirada. Osama bin Laden viveu no Sudão nos anos 90 e executou sua primeira ação espetacular em 1998, atacando as embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, com mais de 200 mortos. Em 2000, o navio USS Cole foi alvo de um ataque suicida na costa do Iêmen que matou 17 militares.
A base representa um retorno gradual depois da fuga da Somália, que começou com sua inauguração, em um ex-campo da Legião Estrangeira francesa, em 2003. Para uma região tão tensa, o ambiente é surpreendentemente relaxado. Militares de folga lotam a academia de ginástica, as quadras de basquete e vôlei, o campo de futebol e a piscina. Há uma loja com DVDs e games à venda, um refeitório 24 horas e um salão de festas. Pode-se beber (vinho e cerveja) e fumar.
De noite, o centro da capital, Djibuti, a 20 km de distância, fica coalhado de jovens de cabelo raspado e tatuagem no braço freqüentando restaurantes, bares e bordéis.
Por enquanto, o foco é tanto em atividades clássicas militares quanto no exercício do "soft power" (poder suave). Militares se dividem entre exercícios militares e construção de poços artesianos no Djibuti, hospitais na Etiópia e clínicas veterinárias no Quênia, tentativa dos EUA de ganhar aliados locais.
A face militar treina exércitos de países vizinhos e atua em operações conjuntas de antiterrorismo, inteligência e segurança marítima em países como Etiópia, Quênia, Uganda, Tanzânia, Iêmen, Djibuti, Madagascar, Seicheles e Comoros.


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