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Base americana é novo "front" contra terror
FÁBIO ZANINI
EM CAMP LEMONIER (DJIBUTI)
Um front até agora secundário na "guerra contra o terror"
do governo dos Estados Unidos
está sendo expandido numa base militar plantada sobre um
terreno seco e pedregoso no
Djibuti, pequena ex-colônia
francesa do leste da África.
Camp Lemonier, atualmente
com 2.000 militares e em rápido processo de ampliação, é um
conjunto de enormes contêineres climatizados, isolados do
mundo exterior por um grosso
muro de concreto, que serve
como centro operacional dos
norte-americanos para combate à rede terrorista Al Qaeda no
volátil Chifre da África.
Três países das redondezas, o
Sudão, a Somália e o Iêmen
(que está na área de atuação da
base, apesar de ficar na península Arábica), são apontados
pelos americanos como novos
refúgios para terroristas islâmicos expulsos do Iraque e do
Afeganistão. Camp Lemonier é
por enquanto o único pé militar
dos EUA na África, que ganha
importância não apenas pela
ameaça terrorista, mas por ser
fonte de petróleo e minerais,
produtos disputados no continente também pela China e, em
menor grau, pela Índia.
Em 1º de outubro, entra em
operação o novo Comando Militar Africano, uma subdivisão
da máquina militar norte-americana que usará a base do Djibuti como ponta-de-lança. Os
EUA pagam um aluguel mensal
de US$ 30 milhões ao país, aliado incondicional, 10% do orçamento anual da base.
A Folha visitou Camp Lemonier em 23 de julho e pôde
constatar o ritmo acelerado da
ampliação. A base está sendo
quadruplicada e atingirá, em
um ano, área equivalente a 150
campos de futebol. O número
de militares ali presentes chegará a 5.000. "Esta é uma das
regiões mais instáveis do mundo e nós estamos aqui de maneira permanente, pensando
no longo prazo", diz o major
Paul Villagran, diretor de relações públicas da base.
Dor de cabeça
A região é uma dor de cabeça
antiga para os EUA. A lista de
desastres é longa e vem desde
1993, quando 18 militares americanos foram mortos por guerrilheiros na Somália e o país bateu em retirada. Osama bin Laden viveu no Sudão nos anos 90
e executou sua primeira ação
espetacular em 1998, atacando
as embaixadas americanas na
Tanzânia e no Quênia, com
mais de 200 mortos. Em 2000,
o navio USS Cole foi alvo de um
ataque suicida na costa do Iêmen que matou 17 militares.
A base representa um retorno gradual depois da fuga da
Somália, que começou com sua
inauguração, em um ex-campo
da Legião Estrangeira francesa,
em 2003. Para uma região tão
tensa, o ambiente é surpreendentemente relaxado. Militares de folga lotam a academia
de ginástica, as quadras de basquete e vôlei, o campo de futebol e a piscina. Há uma loja com
DVDs e games à venda, um refeitório 24 horas e um salão de
festas. Pode-se beber (vinho e
cerveja) e fumar.
De noite, o centro da capital,
Djibuti, a 20 km de distância, fica coalhado de jovens de cabelo
raspado e tatuagem no braço
freqüentando restaurantes, bares e bordéis.
Por enquanto, o foco é tanto
em atividades clássicas militares quanto no exercício do "soft
power" (poder suave). Militares se dividem entre exercícios
militares e construção de poços
artesianos no Djibuti, hospitais
na Etiópia e clínicas veterinárias no Quênia, tentativa dos
EUA de ganhar aliados locais.
A face militar treina exércitos de países vizinhos e atua em
operações conjuntas de antiterrorismo, inteligência e segurança marítima em países como Etiópia, Quênia, Uganda,
Tanzânia, Iêmen, Djibuti, Madagascar, Seicheles e Comoros.
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