São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011

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'Ajuda dos EUA ao Afeganistão está em risco'

Zalmay Khalilzad, que representou EUA em Cabul no governo Bush, diz que corte pode ser incentivo ao Taleban

Hoje consultor de negócios, ele defende manutenção de presença militar americana no país da Ásia Central

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O acordo para a redução do deficit americano põe em risco o financiamento dos EUA à reconstrução do Afeganistão, diz Zalmay Khalilzad, que foi embaixador em Cabul no governo de George W. Bush (2001-09). Segundo ele, um "provável" corte nessa ajuda, que soma US$ 52 bilhões desde a invasão americana, em 2001, pode enviar ao Taleban a mensagem de que "o tempo está do lado" dos guerrilheiros afegãos.
Nascido no Afeganistão, Khalilzad fez parte de equipe neoconservadora que desenhou a política externa de Bush. Hoje, tem interesses em seu país de origem por meio da consultoria Gryphon Partners, que facilita negócios no Oriente Médio e na Ásia Central. Ele falou à Folha de Washington.

 

Folha - Como os futuros cortes orçamentários nos EUA podem afetar a presença americana no Afeganistão?
Zalmay Khalilzad -
O presidente já havia anunciado a redução das forças americanas e a transferência da segurança aos afegãos até 2014. Há negociações para manter alguma presença militar.
Há também esforços diplomáticos para um acordo de reconciliação com o Taleban. O que pode ser afetado significativamente é a reconstrução econômica, o apoio financeiro ao governo afegão.

Esses cortes podem desestabilizar ainda mais a situação?
Os efeitos dependem do que é cortado, e em quanto tempo. A questão é a mensagem enviada. Será que enviam aos insurgentes a mensagem de que o tempo está do lado deles, que devem persistir porque os EUA vão sair? Será que enviam ao governo e ao povo afegãos a mensagem de que o mundo vai se distanciar deles?

O sr. é a favor de que os EUA mantenham alguma presença militar no país?
Sim, acho que o problema do extremismo e do terrorismo na região perdura, apesar da eliminação de Bin Laden. Os EUA devem ser capazes de operar contra forças da Al Qaeda que estão no Paquistão.
Se houver um acordo de reconciliação, uma presença internacional pode ser necessária para que os afegãos sintam que não é só uma tática pela qual o Taleban concorda em dividir o poder e depois avança para tomar tudo.

Líderes do Taleban dizem que a saída dos EUA e da Otan é precondição para um acordo. Não há contradição nisso?
Dizem, mas também dizem que são contra a presença americana "permanente". Os EUA já disseram que não buscam bases permanentes, mas bases conjuntas com o Afeganistão. Pode ser que isso se torne um obstáculo nas negociações. Mas os afegãos que não apoiam o Taleban temerão um acordo sem garantias internacionais.

Que papel a China pode ter nesse acordo, dada sua proximidade com o Paquistão?
O extremismo é um desafio aos dois países. Mas os chineses não têm arcado com o peso desse problema. Mantêm boa relação com o Paquistão e ao mesmo tempo olham para seus interesses econômicos no Afeganistão.
Isso não é sustentável. Para ter papel de liderança, a China deve assumir os custos, não só buscar oportunidades. Eles podem encorajar o Paquistão a deixar de apoiar extremistas, e dar garantias de que um acordo no Afeganistão respeitará os interesses paquistaneses legítimos.


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