São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ex-ditador egípcio vai a júri inédito no Oriente Médio

Junta militar obriga Hosni Mubarak, seus dois filhos e 7 integrantes do seu governo a comparecerem a tribunal

Jaula foi montada para abrigar réus; advogados do ex-ditador alegam que ele está debilitado demais para ser julgado

DE JERUSALÉM

Seis meses após ser deposto sob protestos de milhares de manifestantes nas ruas do Egito, o ex-ditador Hosni Mubarak irá hoje a julgamento, junto com os dois filhos e sete membros do seu governo.
O julgamento era a principal demanda dos manifestantes desde que o ditador foi derrubado e um dos acontecimentos mais esperados no mundo árabe.
Estima-se que milhões na região acompanhem o evento, que terá transmissão ao vivo pela TV.
Mubarak é acusado de corrupção e de ter ordenado a repressão que deixou cerca de 800 mortos durante os 18 dias que levaram a sua renúncia, em fevereiro. Caso seja julgado culpado, poderá ser condenado à morte.
Muitos egípcios temem que um recurso de última hora livre o ex-ditador de comparecer diante dos juízes no tribunal montado na Academia de Polícia do Cairo.
Os advogados de Mubarak, 83, afirmam que ele está debilitado demais para ser julgado devido a um câncer no estômago. A junta militar provisória que governa o país afirma, porém, que ele estará hoje no tribunal.
Uma jaula foi montada para abrigar os réus, e um intenso aparato de segurança cercará o início do julgamento, incluindo 5.000 soldados amparados por 50 tanques no trajeto em que o ex-ditador será levado até a corte.
Os filhos de Mubarak, Alaa e Gamal, são acusados de corrupção. Os demais réus são o ex-ministro do Interior, Habib al-Adly, e seis assessores, que serão julgados por violência contra manifestantes.
O julgamento de Mubarak e de membros de seu regime era considerado questão de honra para os manifestantes envolvidos nos protestos que levaram à sua queda.
Nas últimas semanas, muitos deles voltaram à praça Tahrir, no Cairo, para exigir pressa no acerto de contas com o ex-ditador.
Na noite de anteontem, a praça foi mais uma vez palco de confrontos quando a polícia desmontou barracas e expulsou com violência os manifestantes. Cerca de cem foram presos, segundo ativistas de direitos humanos.
A decisão da junta militar de colocar no banco dos réus o general que comandou o país por três décadas é um fato sem precedentes no Oriente Médio.
Saddam Hussein, que governou o Iraque por 24 anos, também foi julgado em seu país, mas após uma intervenção militar estrangeira, não uma revolta popular.
(MARCELO NINIO)


Texto Anterior: Mark Weisbrot: A verdade sobre a "crise da dívida"
Próximo Texto: Noruega: Terrorista pede à Justiça renúncia do governo norueguês
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.