São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010

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Analistas em Israel veem "novo Bibi"

DE JERUSALÉM

No bazar da negociação de paz reaberto ontem, o premiê de Israel buscou vender a imagem de que passou por uma mudança capaz de levá-lo a fazer as "duras concessões" necessárias para um acordo com os palestinos.
Embora não tenha revelado suas cartas sobre os temas mais difíceis da barganha, a fala de Binyamin Netanyahu na Casa Branca convenceu alguns dos principais analistas israelenses de que algo mudou.
"É um novo Bibi", decretou o analista político Raviv Drucker, usando o apelido pelo qual o premiê é conhecido no país.
"A mudança está não só no que ele disse, usando uma linguagem que antes era típica da esquerda, mas no que não disse, pois deixou de fora todas as exigências que sabe serem inaceitáveis para os palestinos."
A virada na retórica de Bibi, sempre posicionado com a ideologia linha-dura de seu partido, o Likud, começou com um discurso há cerca de um ano na Universidade Bar Ilan.
Nele, o premiê se tornou o primeiro líder do Likud a manifestar apoio à ideia de um Estado palestino lado a lado com Israel.
Desde então, ele tem repetido a ideia, mas com tantas reservas que muitos viram no gesto apenas um golpe de marketing.
A reação no mundo árabe foi fria, sobretudo porque Bibi não mostrou nenhuma inclinação em aceitar as fronteiras de 1967, a exigência básica dos palestinos.
Ontem, Netanyahu manteve o silêncio sobre as fronteiras, mas seu tom surpreendeu alguns veteranos observadores do conflito.
"É outra música a que ouvimos", disse Ehud Yaari, um dos mais respeitados analistas de Israel. "O discurso poderia perfeitamente ter sido dito por [Shimon] Peres. Parece que Netanyahu passou por uma mudança psicológica."
Para o cientista político Gideon Doron, da Universidade de Tel Aviv, entre o Bibi do primeiro mandato (1996-1999) e o atual há algumas diferenças que favorecem a obtenção de um acordo com os palestinos.
O premiê goza de um ambiente político mais cômodo, com uma coalizão estável e uma oposição fraca. Além disso, sua maior preocupação é o Irã, o que poderia resultar numa barganha em que os americanos reforçam a campanha contra Teerã em troca de concessões aos palestinos.
"O que mudou foi sua ideologia operacional, pois ele precisa dos americanos para sobreviver politicamente. Resta saber se isso o levará a aceitar o mínimo que os palestinos demandam", diz Doron. (MN)


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