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Agência da ONU defende acesso a BlackBerry
Empresa é pressionada a colaborar com vários países pois seus dados são protegidos e difíceis de decifrar
Para ativista em liberdades digitais, fala de chefe de órgão vai contra princípios das Nações Unidas
ANDRÉ LOBATO
DE SÃO PAULO
O chefe da agência da ONU
responsável pelas telecomunicações recomendou que a
fabricante canadense do
aparelho de celular BlackBerry dê acesso a mensagens
de seus clientes para os países que os pedirem.
A declaração foi feita à
agência de notícias Associated Press.
A fala do secretário-geral
da União Internacional de
Telecomunicações, Hamadoun Touré, vem após inúmeros países pressionarem
empresas privadas a colaborarem com suas políticas de
segurança e privacidade.
A Índia, por exemplo, pediu que empresas como a
RIM (dona da BlackBerry),
Google e Skype instalem servidores no país para facilitar
o monitoramento de dados.
Arábia Saudita, Emirados
Árabes, Líbano e Indonésia
estão entre os Estados que
pressionam a RIM alegando
motivos de segurança ou
combate à pornografia.
Esses países ameaçaram
recentemente banir a BlackBerry de seus territórios caso
ela não concorde com as políticas exigidas.
A principal reclamação é
de que a criptografia é difícil
de decifrar. A reivindicação é
que mensagens de texto e e-mails dos BlackBerry possam
ler lidas imediatamente após
serem enviadas.
"Esses são pedidos genuínos", disse o secretário-geral
Touré. "Existe a necessidade
de cooperação entre governo
e o setor privado em temas de
segurança."
Procurada pela Folha, a
RIM não se manifestou. Há
duas semanas, anunciou que
montaria uma comissão com
o governo indiano para fornecer "dados de segurança
legítimos".
PRINCÍPIOS DA ONU
Para Cindy Cohn, diretora
de legislação da Electronic
Frontier Foundation, um
grupo pró-liberdades individuais, a declaração de Touré
vai contra os princípios fundadores da ONU.
"A ideia de que iremos para um mundo digital onde os
governos tenham um tipo de
direito de ouvir cada conversa é fundamentalmente inconsistente com os princípios da ONU", afirmou.
A UIT, sigla em inglês da
agência, está em processo de
eleição e, segundo a Associated Press, a declaração de
Touré é um termômetro do
que pensam os 192 países
membros da organização.
Procurada pela Folha, a
UIT não respondeu os pedidos de confirmação das declarações de Touré e nem comentou o caso.
Leia entrevista com
ativista de direito digital
www.folha.com.br/mu793220
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