São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Confronto entre palestinos avança com mais 2 mortos

Premiê do Hamas lança apelo à calma; Abbas quer convocar eleição antecipada

Incidente mais grave surgiu de briga entre milícias do Fatah e do Hamas em campo de refugiados de Gaza; governo está parado

DA REDAÇÃO

No segundo dia de violentos confrontos entre facções rivais palestinas, duas pessoas foram mortas, e 21 outras, feridas na faixa de Gaza e na Cisjordânia
O primeiro-ministro Ismail Haniyeh, do grupo extremista Hamas, exortou os beligerantes à calma, enquanto um porta-voz de seu maior rival, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, do Fatah, disse que "algo precisa ser feito com urgência" -como a formação de um governo de coalizão integrado por tecnocratas ou a convocação de eleições antecipadas.
Os incidentes de ontem começaram quando 5.000 partidários de Abbas promoveram manifestação no campo de refugiados de Rafah, em Gaza, pedindo o desmantelamento da milícia do Hamas e a demissão do ministro do Interior, Saied Seyman, ligado ao grupo.
Policiais e manifestantes trocaram tiros em batalha campal semelhante à que matou oito no domingo. Um policial e um manifestante foram internados em estado grave.
Horas antes, outro conflito irrompeu no hospital principal de Shifa, onde estava sendo velado um militante do Fatah. A polícia do Hamas entrou em conflito com familiares do morto, matando uma pessoa e ferindo duas outras.
A violência também se alastrou pela Cisjordânia, onde em Jericó policiais do Fatah mataram um garçom que se recusava a fechar seu restaurante, em meio a uma greve convocada para protestar contra a violência de milicianos do Hamas e das vítimas da véspera. Ainda na Cisjordânia, homens armados feriram um guarda-costas do vice-premiê Nasser Shaer, que não estava no local.

Colapso institucional
Os conflitos têm pano de fundo o colapso econômico da ANP, em razão da cessação dos repasses fiscais israelenses e da ajuda americana após a chegada do grupo extremista ao poder nas eleições do início deste ano. O Hamas já cometeu atentados terroristas contra israelenses e não reconhece o direito à existência do Estado judeu.
Sem poder manter em funcionamento a estrutura burocrática palestina, o Hamas decidiu fechar ministérios e outros serviços públicos, onde milhares de empregos são detidos por palestinos ligados ao Fatah.
"Esses incidentes devem cessar de imediato", disse o premiê Haniyeh durante reunião de seu gabinete em Gaza.
Um deputado independente, Hassan Khreisheh, deu declarações à Reuters em que acusa os dois lados, o Hamas e o Fatah, de estimularem o colapso da lei e da ordem.
À noite, paramilitares ligados a Abbas assumiram o controle dos principais cruzamentos de Gaza, o que levou o Hamas a retirar seus milicianos, segundo roteiro previsto por um mediador egípcio na região.
A disputa pelo poder entre o Fatah e o Hamas tem componentes bastante complexos. Os Estados Unidos pressionam Abbas a não participar de um governo conjunto com o Hamas, enquanto esse grupo não renunciar ao terrorismo e reconhecer Israel.
A questão deverá ser discutida ainda nesta semana pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que está em visita ao Oriente Médio.
Os conflitos internos entre palestinos também reforçam, entre os israelenses, a certeza de que não têm um interlocutor para retomar as negociações de paz. Nesse quadro, Israel mantém sua política unilateral de ampliação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, o que alimenta tensões e radicalismos.
As instituições públicas palestinas estavam ontem praticamente paralisadas pela greve. Os simpatizantes de Abbas o pressionam para que ele obtenha ajuda externa, mas fora do mundo árabe -a questão foi ontem discutida no Cairo.


Com agências internacionais


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