São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Sul-coreano ganha aval para chefiar ONU

Em votação informal, Ban Ki-Moon foi o único dos seis candidatos a secretário-geral a não ter veto no Conselho de Segurança

Atual chanceler da Coréia do Sul obtém 14 votos a seu favor dentre os 15 do conselho; votação formal será no dia 9 de outubro

DE NOVA YORK

O chanceler sul-coreano, Ban Ki-Moon, 62, recebeu ontem o aval dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para tornar-se o próximo secretário-geral do organismo, em substituição ao ganense Kofi Annan, que deixa o posto em 31 de dezembro.
A votação formal pelo CS será no próximo dia 9. Em seguida, a recomendação deve ser referendada pela Assembléia Geral. Caso seja confirmado, o que é dado como certo, Ban será o oitavo secretário-geral em 60 anos de ONU.
"É bastante claro após a votação de hoje [ontem] que o ministro Ban Ki-Moon é o candidato que o Conselho de Segurança irá recomendar", disse o embaixador da China na ONU, Wang Guangya.
Ban foi o único dos seis candidatos ao posto que não foi vetado por um dos cinco membros permanentes do CS- EUA, Reino Unido, França, China e Rússia- na votação informal de ontem, a quarta desde julho. Ele obteve 14 votos positivos e uma abstenção dentre os 15 membros (5 permanentes e 10 rotativos).
Além de Ban, participavam da disputa o indiano Shashi Tharoor, subsecretário da ONU para Comunicações e Informação Pública; Surakiart Sathirathai, vice-chanceler do governo deposto da Tailândia; a presidente letã, Vaira Vike-Freiberga; Ashraf Ghani, ex-ministro da Economia afegão, e o príncipe Zeid al Hussein, embaixador na ONU da Jordânia.
Após a divulgação dos resultados, o indiano Tharoor anunciou que abandonaria a disputa. "É claro que ele será nosso próximo secretário-geral", disse Tharoor, que recebeu dez votos positivos, três negativos e um veto, ficando em segundo lugar.
O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, disse ter "muito respeito" por Ban.
Diplomata de carreira, o sul-coreano é visto como uma pessoa amável e que raramente entra em disputas verbais. Como chanceler, lidou com temas espinhosos como o impasse nuclear com a Coréia do Norte. "Às vezes posso ser visto como uma liderança fraca. Mas tenho força interior. Isso é algo que normalmente pessoas do exterior têm dificuldade em ver", disse Ban recentemente.

Votação
O sistema de votação para a escolha do secretário-geral da ONU começa com o envio das indicações dos países-membros ao CS, que depois simula votações para saber a preferência de seus integrantes.
Cada país diz se "encoraja", "desencoraja" ou expressa "nenhuma opinião" sobre o candidato. O sistema vale como alerta para que candidatos preteridos abram mão da disputa e não passem pelo constrangimento de ser vetado.
Após as votações simuladas, o CS inicia o processo de escolha. Caso tenha veto de um dos membros permanentes, o candidato é eliminado. O vencedor precisa de ao menos nove votos positivos e nenhum veto.
Escolhido o candidato de consenso, o nome é eleito por aclamação dos 192 países da Assembléia Geral.
Não existe debate ou campanha eleitoral. Os candidatos não são sabatinados. Essa restrição da escolha do secretário-geral ao CS é criticada pelo Movimento dos Não-Alinhados e pela Assembléia Geral, que reivindicam papel mais ativo.
A sucessão na ONU não tem regras eleitorais claras, e todo o processo é consuetudinário, baseado no costume, no acordo diplomático e nas decisões dos membros permanentes do CS.
Há um consenso na organização de que o novo secretário-geral seja asiático, na seqüência de rotatividade geográfica que manda a tradição.
Historicamente, todos os secretários-gerais da ONU são de países sem liderança regional. Os antecessores mais recentes de Annan foram o egípcio Boutros Boutros-Ghali (1992-1996) e o peruano Javier Perez de Cuellar (1982-1991).
Ao longo dos anos, o secretário-geral da ONU passou a ganhar dimensão política relevante como mediador de conflitos internacionais. Enfraquecido com a Guerra do Iraque, o cargo é o foco das discussões sobre a reforma da ONU. (VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


Colaborou a Redação
Com agências internacionais


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