|
Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA/ CONFRONTO DE VICES
Biden e Palin escapam de gafes em debate
Pesquisa dá vitória ao democrata, que concentra ataques em McCain, colega de Senado, e questiona sua independência de Bush
Republicana se sai melhor
do que nas entrevistas em
que mostrou despreparo;
democrata mostra maior
segurança e é mais incisivo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O senador Joe Biden procurou ligar John McCain a George W. Bush, como havia sido
instruído, e a governadora do
Alasca, Sarah Palin, atacou Barack Obama e reforçou a imagem de independência de sua
chapa, conforme o combinado.
Mas os candidatos a vice da corrida presidencial norte-americana surpreenderam ao fazer o
debate da noite de ontem sem
fugir do figurino nem cometer
nenhuma gafe grave.
A surpresa pela ausência de
derrapadas mais significativas
revela a expectativa em relação
ao encontro, que reuniria pela
primeira e única vez uma neófita no cenário político nacional
que vem causando má impressão por seu despreparo nas
poucas interações com a imprensa e um senador veterano
com conhecimento sólido em
política externa, mas famoso
por sua verborragia.
A impressão foi confirmada
por pelo menos um instantâneo, a pesquisa feita com telespectadores pela emissora CNN,
divulgada no fim do debate.
Para 84% dos ouvidos, Sarah
Palin saiu-se melhor do que o
esperado, ante 64% dos que tiveram a mesma opinião em relação a Biden. Os altos índices
demonstram a baixa expectativa em relação a ambos. Para
51% dos ouvidos, o senador foi
o vencedor, ante 36% que consideraram a governadora a melhor. Dos eleitores independentes, 46% consideraram que
Biden venceu, 33% disseram
que houve empate e 21% que
Palin foi a vencedora.
Biden começou repetindo o
mantra de seu cabeça-de-chave, de que a crise atual é o testamento do republicano Bush e
que a diferença fundamental
entre a chapa democrata e a governista era uma mudança
completa na política econômica. "Nós vamos focar na classe
média, porque, quando a ela
cresce, a economia cresce e todo mundo vai bem, não só ricos
e grandes empresas", disse.
Já Sarah abriu a noite imprimindo o tom "gente como a
gente" que manteria até o final,
se apresentando ao senador e
pedindo para chamá-lo de
"Joe" e dizendo que o verdadeiro barômetro da economia era
um jogo de futebol num sábado
de manhã, um programa típico
de pais e filhos da classe média
americana. "Aposto como você
vai ouvir alguma apreensão" se
for a um, disse.
Na seqüência, diria que
McCain era um verdadeiro independente. "Agora, Barack
Obama, é claro, só votou praticamente com seu partido", atacou. "De fato, 96% de seus votos foram com os democratas, o
que faz com que deixe de provar ao povo americano seu
compromisso de colocar o partidarismo de lado, os interesses
especiais de lado e resolver os
problemas do povo."
Pontos decorados
A governadora do Alasca de
44 anos se saia melhor quando
falava de improviso, sorrindo e
olhando para o oponente. Foram poucas vezes. Logo olhava
para a câmara e recitava pontos
aparentemente decorados -a
candidata chegou a se isolar no
que foi apelidado de "acampamento de debate", no Arizona,
para aperfeiçoar a técnica.
Em seus piores momentos,
quando o assunto era política
externa, parecia insegura e por
vezes recorria abertamente às
fichas que trazia diante de si,
que lia. Pronunciou de maneira
errada os nomes dos países Irã
e Iraque, do comandante norte-americano no Afeganistão, e
repetiu um erro que popularizou Bush: dizer a palavra nuclear como "nucular".
Já Biden, 65, se exprimia
com mais segurança e naturalidade em assuntos de política
externa, ao qual se dedica há
décadas no Senado. Ele parecia
menos simpático em geral, com
expressão imóvel. Também engasgou por três vezes antes de
dizer o nome de seu companheiro de chapa -a quem já
chamou em uma ocasião de
"Barack América". Em outro
momento, suspirou alto.
Palin fez uso freqüente de palavras ou expressões de uso popular e deu escorregadelas populistas, como quando disse:
"Eu posso não responder o que
a moderadora perguntou ou o
que você [Joe Biden] quer ouvir, mas eu vou falar direto ao
povo americano".
Biden também procurou se
aproximar da classe média, ao
contar a história de um eleitor
que não sabia quanto custava
para encher o tanque de seu
carro porque nunca tinha dinheiro para tanto. Ao reivindicar que, como homem, também
sabia da dificuldade de criar filhos, emocionou-se -o senador perdeu sua primeira mulher e um filho num acidente e
criou dois filhos sozinho.
Próximo Texto: Isto é Biden Índice
|