São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ CONFRONTO DE VICES

Biden e Palin escapam de gafes em debate

Pesquisa dá vitória ao democrata, que concentra ataques em McCain, colega de Senado, e questiona sua independência de Bush

Republicana se sai melhor do que nas entrevistas em que mostrou despreparo; democrata mostra maior segurança e é mais incisivo

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O senador Joe Biden procurou ligar John McCain a George W. Bush, como havia sido instruído, e a governadora do Alasca, Sarah Palin, atacou Barack Obama e reforçou a imagem de independência de sua chapa, conforme o combinado. Mas os candidatos a vice da corrida presidencial norte-americana surpreenderam ao fazer o debate da noite de ontem sem fugir do figurino nem cometer nenhuma gafe grave.
A surpresa pela ausência de derrapadas mais significativas revela a expectativa em relação ao encontro, que reuniria pela primeira e única vez uma neófita no cenário político nacional que vem causando má impressão por seu despreparo nas poucas interações com a imprensa e um senador veterano com conhecimento sólido em política externa, mas famoso por sua verborragia.
A impressão foi confirmada por pelo menos um instantâneo, a pesquisa feita com telespectadores pela emissora CNN, divulgada no fim do debate.
Para 84% dos ouvidos, Sarah Palin saiu-se melhor do que o esperado, ante 64% dos que tiveram a mesma opinião em relação a Biden. Os altos índices demonstram a baixa expectativa em relação a ambos. Para 51% dos ouvidos, o senador foi o vencedor, ante 36% que consideraram a governadora a melhor. Dos eleitores independentes, 46% consideraram que Biden venceu, 33% disseram que houve empate e 21% que Palin foi a vencedora.
Biden começou repetindo o mantra de seu cabeça-de-chave, de que a crise atual é o testamento do republicano Bush e que a diferença fundamental entre a chapa democrata e a governista era uma mudança completa na política econômica. "Nós vamos focar na classe média, porque, quando a ela cresce, a economia cresce e todo mundo vai bem, não só ricos e grandes empresas", disse.
Já Sarah abriu a noite imprimindo o tom "gente como a gente" que manteria até o final, se apresentando ao senador e pedindo para chamá-lo de "Joe" e dizendo que o verdadeiro barômetro da economia era um jogo de futebol num sábado de manhã, um programa típico de pais e filhos da classe média americana. "Aposto como você vai ouvir alguma apreensão" se for a um, disse.
Na seqüência, diria que McCain era um verdadeiro independente. "Agora, Barack Obama, é claro, só votou praticamente com seu partido", atacou. "De fato, 96% de seus votos foram com os democratas, o que faz com que deixe de provar ao povo americano seu compromisso de colocar o partidarismo de lado, os interesses especiais de lado e resolver os problemas do povo."

Pontos decorados
A governadora do Alasca de 44 anos se saia melhor quando falava de improviso, sorrindo e olhando para o oponente. Foram poucas vezes. Logo olhava para a câmara e recitava pontos aparentemente decorados -a candidata chegou a se isolar no que foi apelidado de "acampamento de debate", no Arizona, para aperfeiçoar a técnica.
Em seus piores momentos, quando o assunto era política externa, parecia insegura e por vezes recorria abertamente às fichas que trazia diante de si, que lia. Pronunciou de maneira errada os nomes dos países Irã e Iraque, do comandante norte-americano no Afeganistão, e repetiu um erro que popularizou Bush: dizer a palavra nuclear como "nucular".
Já Biden, 65, se exprimia com mais segurança e naturalidade em assuntos de política externa, ao qual se dedica há décadas no Senado. Ele parecia menos simpático em geral, com expressão imóvel. Também engasgou por três vezes antes de dizer o nome de seu companheiro de chapa -a quem já chamou em uma ocasião de "Barack América". Em outro momento, suspirou alto.
Palin fez uso freqüente de palavras ou expressões de uso popular e deu escorregadelas populistas, como quando disse: "Eu posso não responder o que a moderadora perguntou ou o que você [Joe Biden] quer ouvir, mas eu vou falar direto ao povo americano".
Biden também procurou se aproximar da classe média, ao contar a história de um eleitor que não sabia quanto custava para encher o tanque de seu carro porque nunca tinha dinheiro para tanto. Ao reivindicar que, como homem, também sabia da dificuldade de criar filhos, emocionou-se -o senador perdeu sua primeira mulher e um filho num acidente e criou dois filhos sozinho.


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