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Chefe de polícia responsável por caso Jean Charles abdica
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Depois de resistir firmemente no cargo por mais de três
anos após o assassinato do eletricista brasileiro Jean Charles
de Menezes, o chefe da polícia
britânica, Ian Blair, acabou forçado a renunciar ontem por razões políticas, 16 meses antes
do final de seu mandato.
Blair caiu porque o novo prefeito de Londres, Boris Johnson, do Partido Conservador,
pediu a ele, "de modo agradável, porém firme", que deixasse
o cargo. O chefe da Metropolitan Police é subordinado ao governo nacional (trabalhista, assim como o prefeito anterior,
Ken Livingstone), mas trabalha
em contato próximo com o prefeito londrino. Sem o apoio de
Johnson, sua situação passou
de frágil a insustentável.
Até o ultimo momento, o
chefe da polícia se recusou a admitir a gravidade dos erros cometidos pela força desde que
ele assumiu, em fevereiro de
2005. "Não estou renunciando
por causa de nenhum fracasso
da minha corporação nem por
causa das pressões do trabalho.
As muitas histórias sobre isso
são exageradas", disse. Das 452
palavras de seu discurso, nenhuma era de desculpas.
Em nota, a família de Jean
Charles se disse "chocada". Primo do eletricista, Alex Pereira
usou uma metáfora: "A árvore
leva um golpe grande, mas não
cai. Cada pingo d'água que cai a
partir daquele momento fará
diferença, até derrubá-la. Mas é
bom lembrar que a árvore só
caiu porque tinha um golpe
enorme", disse ele à Folha.
Desgaste
Blair ficou sob fogo cerrado
desde os primeiros meses de
seu mandato. O assassinato de
Jean Charles ocorreu em 22 de
julho de 2005, 15 dias depois de
atentados a bomba deixarem
52 mortos em Londres. Uma
investigação independente da
polícia sobre a morte do brasileiro criticou duramente a desastrada operação e a conduta
de Blair depois do incidente,
por bloquear as investigações.
Nos últimos meses, Blair estava desgastado também por
questões internas e administrativas. Era acusado por alguns de seus mais graduados
auxiliares de manter uma política racista na corporação. Ontem, um jornal divulgou que ele
pagou a um amigo para melhorar sua imagem, antes de assumir o cargo. Blair nega que tenha feito alguma coisa errada.
Na semana passada, a pressão cresceu, com o início da
mais ampla e transparente investigação sobre o assassinato
do brasileiro, que deve durar
até dezembro. "Sua saída não
muda nada", diz a família.
Na tarde do dia em que Jean
Charles morreu, Blair dissera
que a morte tinha "ligação direta com a operação antiterrorismo" e que "o homem se recusou a obedecer". Depois, a polícia ainda divulgou que o brasileiro usava roupas pesadas que
poderiam encobrir bombas -o
que era mentira- e que agia de
modo estranho -o que imagens não confirmaram.
Durante seu tempo à frente
da polícia, houve uma queda
nos índices de criminalidade,
mas um surto na morte de jovens em brigas de gangue espalhou uma sensação de insegurança em várias cidades britânicas. Blair deixa o cargo no dia
1º de dezembro, quando já deve
ter sido escolhido seu sucessor.
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