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UE cobra que Brasil atue de acordo com nova envergadura
"Ser maior também significa maior responsabilidade", diz chefe da Comissão Europeia
Durão Barroso quer que país aja para fazer Irã ser mais franco sobre programa nuclear e se empenhe mais em negociações comerciais
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
O presidente da Comissão
Europeia (órgão executivo da
União Europeia), José Manuel
Durão Barroso, cobrou ontem
do governo brasileiro que assuma mais responsabilidades diplomáticas, comerciais e ambientais se quiser ter um maior
reconhecimento de sua atuação internacional.
Feitas às vésperas da terceira
cúpula União Europeia-Brasil,
na próxima terça, em Estocolmo, as declarações de Durão
Barroso refletem o estado das
divergências bilaterais em relação a temas que o governo brasileiro considera parte de sua
atuação estratégica e soberana.
"Ser maior também [significa
ter] maior responsabilidade,
não é só mais poder e influência. Com a influência vem a responsabilidade", disse o chefe
do braço executivo da UE, numa referência à ambição declarada do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de transformar o
Brasil num protagonista global.
Ao receber na manhã de ontem em seu gabinete, em Bruxelas, um grupo de jornalistas
brasileiros, Durão Barroso pediu que o Brasil ajude a pressionar o Irã a ser mais transparente em relação ao seu programa
nuclear, suspeito de ter fins militares -o que Teerã nega.
"Espero que o presidente Lula utilize não só a força e a influência do Brasil, mas também
sua própria autoridade política
-pois hoje em dia é um líder
global muito respeitado- para
avançarmos no objetivo da não
proliferação nuclear", afirmou.
Lula é contra isolar o Irã e defende o direito, assegurado pelo
Tratado de Não Proliferação
Nuclear, de o país enriquecer
urânio com fins pacíficos.
Durão Barroso também cobrou mais empenho do governo brasileiro para destravar as
negociações da Rodada Doha
na Organização Mundial do
Comércio e do acordo de livre
comércio Mercosul-UE.
Segundo os europeus, as conversas estão emperradas por
causa da dificuldade de acesso
aos mercados industriais dos
países em desenvolvimento. Já
o Brasil atribui o impasse às
barreiras comerciais e tarifárias impostas pelos países ricos.
"A Europa é o mercado mais
aberto do mundo e o maior para as exportações agrícolas dos
países em desenvolvimento. Às
vezes há uma ideia de que a Europa é protecionista. Francamente isso não corresponde à
verdade", disse Durão Barroso.
Em relação a questões ambientais, Durão Barroso disse
querer que o Brasil se alie aos
europeus em torno de um compromisso concreto sobre redução de gases poluentes, tema
central de uma cúpula em dezembro em Copenhague.
Na contramão das cobranças,
o presidente da Comissão Europeia também defendeu as
gestões do governo Lula em
Honduras, dizendo que apoia
"todos os esforços brasileiros
para resolver o problema" e
destacando que também teria
ajudado o presidente deposto
Manuel Zelaya se ele tivesse
pedido abrigo numa embaixada
europeia.
O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite
da Comissão Europeia
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