IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

O governo do Paquistão afirmou ontem que dois cientistas nucleares que haviam sido detidos para interrogatório por suposta ligação com o Taleban foram soltos após negar ter tido acesso a segredos da bomba atômica paquistanesa.
""Eles nunca participaram do programa de armas nucleares do Paquistão", afirmou o general Rashid Qureshi, porta-voz do serviço de inteligência.
Sultan Bashir e Abdul Majid haviam sido presos na semana passada. As suspeitas sobre os dois aumentaram depois da revelação de que mantêm uma ONG de desenvolvimento agrícola no Afeganistão. Mas, segundo o governo, eles se aposentaram em 1998, antes do teste nuclear paquistanês. Eles não foram localizados.
Jornais indianos afirmam que outros dez cientistas estão presos a pedido dos EUA. ""Isso é ridículo", afirmou Qureshi.
Segundo um porta-voz da Chancelaria, Aziz Khan, os relatos publicados na imprensa dos EUA sobre os contatos entre o Taleban e cientistas nucleares não têm fundamento. ""São baseados em informação de jornais indianos. Não são baseados em nada."
Khan também disse que não deverá aceitar a oferta feita pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, de enviar especialistas em segurança de material nuclear ao Paquistão. ""Temos ótimos técnicos aqui, tudo está seguro."
Qureshi já dissera ser ""fantasiosa" a suposição de que as bombas paquistanesas seriam tomadas por comandos dos EUA caso o presidente Pervez Musharraf fosse deposto por extremistas.
Segundo reportagens publicadas recentemente por jornais indianos e pela revista ""New Yorker", comandos dos EUA e de Israel estariam se preparando para ocupar a central nuclear de Wah, onde é produzido o material para a confecção das bombas.
Para acalmar a tensão, até o ministro da Defesa da rival Índia, George Fernandes, entrou no jogo. Foi a público afirmar que não há risco de o material nuclear paquistanês cair em mãos erradas.
Ainda assim, os fortes laços entre a comunidade de inteligência paquistanesa e o Taleban aumentam as suspeitas sobre o material nuclear, em especial no Ocidente.
Mas o programa da bomba do Paquistão é fortemente controlado pelos militares. Mesmo que Musharraf caia, é mais provável que o seja pelas mãos de seus colegas de farda -o risco de uma revolução islâmica parece muito pequeno neste momento.



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