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ENTREVISTA
Presidente egípcio reclama de asilo que Europa dá a extremistas e pede ação por Estado palestino
Mubarak pede conferência contra terror
DO "EL PAÍS"
O presidente egípcio, Hosni
Mubarak, crê que a União Européia deveria realizar "um esforço
máximo", incluindo advertências
e pressão, para forçar o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon,
a negociar o nascimento de um
Estado palestino que inclua os lugares santos muçulmanos em Jerusalém. Para ele, a política de
Sharon está criando "uma nova
geração de terroristas" como os
de 11 de setembro.
Mubarak recebeu o "El País" no
palácio presidencial do bairro de
Heliópolis, no Cairo, pouco antes
de partir para a Espanha. Ele tem
73 anos, está no poder há 20 e é
um homem de cabelo escuro, rosto faraônico, baixa estatura e
constituição corpulenta. Fala diretamente em inglês, com voz
grave e áspera. Converteu-se em
"rais", ou presidente, depois do
assassinato de seu predecessor,
Anwar al Sadat, pela Jihad Islâmica, o grupo hoje dirigido pelo
egípcio Ayman al Zawahiri, braço
direito da Al Qaeda.
Desde então, vem travando um
combate implacável contra os
grupos armados extremistas e clama pela convocação de uma conferência internacional que negue
aos terroristas o direito de asilo
político.
Pergunta - A imprensa egípcia o
classifica como "pioneiro" na luta
contra o tipo de terror islâmico responsável pelo 11 de setembro. O
Egito combate esses grupos desde
que eles assassinaram Sadat. O que
os egípcios aprenderam?
Mubarak - Esse tipo de gente cometeu crimes no Egito. Alguns fugiram para a Europa, onde receberam asilo político e atenção da
mídia. Com base em nossa experiência, imaginamos que essas
pessoas fossem se espalhar por toda parte. Por isso, desde 1984 venho pedindo uma conferência internacional sobre o terrorismo.
Sempre disse que nenhum país
está fora do alcance deles.
Pergunta - Antes de 11 de setembro, países como o Reino Unido negavam ao Egito a extradição de extremistas islâmicos refugiados em
seus territórios, devido aos métodos, entre os quais julgamentos
militares, que aqui se aplicam e à
adoção da pena de morte.
Mubarak - Ah, sim, os direitos
humanos dos criminosos estavam sendo defendidos! E todos
esqueciam de vez dos direitos humanos dos inocentes por eles assassinados! O Egito está sob o domínio da lei, e aqui temos democracia e liberdade de imprensa. Lá
fora falam da "imprensa oficial
egípcia", mas não temos imprensa oficial. Eles chamam de oficiais
jornais como "Al Ahram", "Al
Akbar" ou "Al Gumuria", que criticam o governo todo dia. Comunistas, fanáticos e extremistas escrevem neles.
Pergunta - Quais seriam os objetivos concretos da conferência sobre o terrorismo?
Mubarak - Teríamos de adotar
uma convenção internacional
muito estrita para lidar com os
grupos terroristas. Não se pode
lhes dar asilo político, e é preciso
apresentá-los imediatamente aos
tribunais. Seu dinheiro precisa ser
congelado. Todos os países do
mundo, grandes ou pequenos,
deveriam aplicar a convenção gerada por essa conferência internacional ou o perigo será enorme.
Pergunta - Qual é a raiz do terrorismo islâmico que afetou o Egito e
que atingiu os Estados Unidos em
11 de setembro? Por que o sr. nega
que ele tenha algo a ver com a fé
muçulmana?
Mubarak - Esses extremistas
querem controlar os países com
seus conceitos, suas idéias. Aproveitam-se da democracia. Não há
um único terrorista em uma ditadura. Desaparecem imediatamente. Prosperam na atmosfera
da democracia, da liberdade de
imprensa, da primazia da lei. Os
tribunais levam um, dois, três
anos a julgar seus casos. E enquanto isso eles continuam matando. Há gente desse tipo na Espanha, na França, nos Estados
Unidos. Querem controlar tudo.
O terrorismo deles é ideológico,
está relacionado com idéias errôneas e totalitárias. Não tem nada a
ver com a pobreza ou com a falta
de liberdade de expressão.
Pergunta - Grupos como o de Bin
Laden também tentam encontrar
legitimidade e apoio popular mencionando o problema palestino.
Mubarak - Sim, o caso palestino
é uma fonte de terror. As pessoas
se enraivecem ao ver na TV a
morte de crianças palestinas. Isso
cria um problema muito complexo. E há outro assunto muito sério
para os muçulmanos: os lugares
sagrados de Jerusalém. Os muçulmanos lutariam centenas de anos
por eles, se preciso. No mundo
árabe e muçulmano, ninguém jamais aceitaria deixar os lugares
sagrados de Jerusalém sob a soberania de Israel. É o sentimento de
nossa opinião pública, um bom
sentimento.
Pergunta - Os americanos estão
bombardeando o Afeganistão há
quatro semanas. Na Europa e nos
Estados Unidos começa a crescer
uma certa inquietude, para não
mencionar o mundo islâmico. Os
bombardeios matam civis, sem que
se possa perceber um ponto final
da campanha com a captura de Bin
Laden. O senhor crê que a aviação
seja o melhor instrumento para
combater o terror?
Mubarak - Essa pergunta deveria
ser feita aos Estados Unidos, porque desconheço seus planos. Os
americanos estão muito furiosos,
e com razão, dado o que aconteceu em 11 de setembro. E quando
há bombardeios, há erros. Nós
nos opomos à morte de civis inocentes, e discuti o assunto com o
presidente Bush, que me disse
que todo o possível está sendo feito para não causar vítimas inocentes.
Pergunta - O senhor crê que os
europeus deveriam ser mais ativos
quanto à questão palestina?
Mubarak - A Europa está muito
próxima do Oriente Médio e é
bastante afetada por tudo que
acontece aqui. A União Européia,
com a cooperação dos Estados
Unidos, deveria se esforçar ao
máximo para persuadir o governo israelense de que é preciso negociar para chegar a um acordo
definitivo. O que o governo israelense vem fazendo com os palestinos ajuda a criar uma nova geração de terroristas, que será muito
difícil de conter.
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